Capítulo 7

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O sol já havia sumido completamente; o céu escurecia-se de nuvens densas e Madalena não sabia se era noite, ou se ainda era dia e o tempo havia finalmente se entregado a decisão. Estava sentada a horas naquele buraco, chorou tanto que já sentia sede. Estava descabelada, a cabeça latejava mais ainda,o lábio inferior e a bochecha interna estavam cortados pelos tapas de Chris e o tornozelo estava doendo mais que antes. Entretanto ela ainda conseguia mexer, sinal que não havia quebrado.

Teve coragem de abrir a bota antes do sol sumir completamente, a meia branca estava toda ensanguentada. Soltou um grito abafado ao puxa-la e assustou-se a ver que todas as unhas estavam quebradas. Mais tarde, apoiou as costas nas "paredes" e ficou em silêncio um momento, não aguentava mais chorar.

Estava tão confusa, não entendia o que tinha feito de errado. Nunca havia reclamado mesmo de mal humor, nunca se negou a trabalhar. Nem mesmo havia pedido nada ao tio; muito menos queria a casa em seu nome. Não entendeu porque Chris havia feito isso a ela. A humilhou, tocou em partes que ninguém jamais tinha tocado, e ele há dois dias atrás nem olhava na sua cara. Nunca mostrou nenhum interesse romântico, nem mesmo sexual.

A tia havia batido nela, e isso também foi horrível. Sempre fugiu tanto de situações que pudessem lhe causar riscos, e agora sua vida pacata de trabalho havia virado de cabeça para baixo. Não sabia nem se podia voltar para casa; Não podia contar com Marcus e muito menos com Claire. Agora também tinha medo deles, já que Cecília e Chris a fizeram mal sem motivo aparente.

A chuva começava a cair em leves chuviscos frios, o som de alguns trovões ecoavam e as folhas secas voavam no cemitério. Na mente de Madalena rodavam tudo que era de horripilante e macabro, estava com tanto medo de estar presa e sozinha no cemitério! O lugar que fugiu por toda a vida.
Começou a tremer de frio quando o lugar se tornou um completo breu, a lua não estava para iluminar. Apenas os raios com barulhos enormes; a garota se perguntava se morreria ali de frio e fome, gritou durante toda a tarde e ninguém vinha. Nem sequer tinha o pensamento que alguém sentiria sua falta e viria a buscar, porque ninguém sentiria (e o tio não estava em condições de a resgatar).

De repente ouviu uma voz feminina falando algo estranho, como se fosse algum tipo de idioma desconhecido. Ignorando o fato de não entender, ela se animou e tentou erguer-se com muita dificuldade.

-Socorro, por favor! Estou aqui em baixo!- Gritou, quase soltou um sorriso leve de alívio se não fosse seu alto nervosismo.

Porém algo estranho aconteceu, um objeto em formato similar ao redondo foi jogado bem na sua cabeça. A voz havia sumido, e Madalena tateou o chão para encontrar o que era aquilo. Estava arfando de mal humor, haviam a ignorado e ainda jogado algo nela quando ela pedia socorro! Quem faria isso?
Finalmente achou, era algo enrolado em um tecido, e sentia diversas coisas minúsculas mexendo-se dentro. Tentou abrir, no momento que o céu se acendeu em uma série de raios; mostrando uma visão macabra de um pequeno cadáver.

Era horrível e em decomposição; estava verde e não tinha olhos. Tomado de larvas e algum tipo de mofo; o cheiro nojento de podre, de morte, era tão horrivel que Madalena sentia como se a empurrasse para trás. Parecia um cadáver de um bebê, e tinha a pele podre tomada de vermes estranhos e feridas escuras. Entretanto estranhamente, estava seco como se tivesse morrido há anos.

Madalena soltou um grito de horror puro, jogando aquilo para o outro lado da cova. Esfregou as mãos no chão quando caiu, na esperança de tirar os vermes que sentia nos braços. Escondeu o rosto chorando intensamente ao ouvir a voz que antes dizia coisas que não entendeu rir, não sabia quem estava lá; não conseguia pensar. Não sabia se era Chris ou a tia que estavam a assustando. Madalena só conseguia chorar.

-Meu Deus, meu Deus!!- Gritou em agonia.- Me ajude Deus! -Chorou com mais força, ouvindo as risadas estranhas.

Haviam passado alguns minutos, tudo estava quieto, Mas ela não parava de chorar e ainda sentia o cheiro de podre. Estava com os olhos tão fechados e fazendo tantas orações na sua mente, que não percebeu nem viu que ali iluminava uma luz dourada de lamparina.

Nobreza de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora