Capítulo 10

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Desde criança Madalena sempre ouviu como as pessoas elogiavam os olhos de seus primos. Como eram verdes, claros e brilhantes. Como pareciam verdadeiras jóias emolduradas nos rostos bonitos que eles tinham; na pele muito branca e em cabelos de curvaturas bonitas. Até mesmo Chris que era ruivo, com sua forma de agir tão rebelde e personalidade sempre muito forte era constantemente elogiado pela beleza da sua estrutura facial. Principalmente a claridade de seus olhos.

Acontece que o local tinha um clima muito tropical e a maioria das pessoas tinham olhos escuros, povos nômades constantemente vinham de terras distantes e se anexavam em povoados do interior do império. Por serem mal vistos diante sua cultura pagã e idolatra, muitos se convertiam em seus casamentos com pessoas locais. Normalmente eram pessoas que abandonavam suas comunidades de origem, buscando uma vida diferente das perseguições dos religiosos cristãos. Por serem caminhantes de impérios próximos sempre traziam consigo características genéticas de peles escuras ou que bronzeavam com facilidade. E por mais que fosse belas e reluzentes, em lugares onde quem tinha a pele bronzeada faziam serviços pobres e braçais no sol, era uma característica de pessoas humildes. Ou muito desleixadas de mulheres que não se davam o trabalho de carregar uma sombrinha para sair de casa.

As pessoas de povoados e vilarejos tinham esse tipo de preconceito, porque normalmente os povos nômades vinham de impérios vizinhos com muitas rixas comerciais e culturais. De regiões onde o padrão de beleza e religiões aceitas eram outros. Todo mundo tinha uma historia para contar de algum estrangeiro nômade, e isso se fez um padrão onde quanto mais branca a pele era mais belo você era. Por mais que fossem povos misturados, onde em algum momento do tempo tiveram algum membro da família estrangeiro (na época que o império tinha divisas em lugares onde agora não lhe pertenciam mais) faziam do padrão claro uma forma de rebeldia. Mesmo que poucas pessoas conseguissem se manter daquela forma em dias de calor tão intenso, e mesmo que ironicamente (sem as pessoas de lugares mais afastados terem conhecimento) as partes centrais e mais ricas do império, onde era muito frio, achavam a pele bronzeada muito bela. Pois era sinônimo de pessoas que podiam viajar a partes mais quentes. Que por serem muito distantes da parte fria do império, levavam muito mais tempo a percorrer. Tornando uma viagem muito mais cara.

Madalena cresceu detestando a pele que se bronzeava de forma muito fácil, vivia com os braços e restante do corpo de cores diferentes devido ao sol no trabalho. Não era tão branca quanto os primos, não tinha olhos claros que eram tão valorizados, sua sobrancelha era mais grossa que a da prima. E detestava muito ter a boca mais carnuda que a dela (lábios finos eram considerados mais bonitos). Sem contar seu nariz, que incomodava muito por não ser pequeno e fino. Madalena não tinha um rosto feio, entretanto também não era bela. Pelo menos, não naquele lugar.

Ao crescer em um local onde o padrão da beleza não favorecia seus traços estrangeiros herdados de sua mãe, Madalena cresceu idolatrando a beleza da prima. Sua inveja crescia conforme Claire crescia, queria as atenções e a felicidade de ser bela como ela.
Entretanto depois de tudo que passou recentemente a aparência e atenção era a última preocupação de Madalena, pelo menos até aquele momento. Onde diante a uma pequena fresta de mente vazia, por estar passando por um momento muito difícil, se deixou assustar no caminho de casa por uma mulher muito bonita. Muito, muito bonita mesmo.

Madalena encarou os olhos azuis da desconhecida, que contrastavam com seus olhos escuros. Como se estivessem se repelindo. jamais tinha visto olhos tão rezulentes, brilhavam mesmo que fosse noite (iluminados por uma lamparina de gás que a desconhecida segurava). Logo o olhar cansado de Madalena seguiu os cabelos lisos, longos e trançados dela, que estavam em uma única trança sobreposta no ombro esquerdo. Enfeitada de pedras coloridas que a garota não sabia identificar, mas que pareciam preciosas. Madalena jamais vira um cabelo tão loiro, dourado da raiz às pontas. Não havia variação de cor como normalmente via nas pessoas loiras do povoado; era uma única cor dourada e reluzente. Tinha um vestido verde musgo com milhares de detalhes no tecido que deram dor nos olhos de Madalena (pelo menos o que ela conseguiu ver em baixa iluminação) não tinha uma estrutura abaixo dele que desse volume. Entretanto parecia um tecido que ela nunca havia visto a tia ou Claire usar. Parecia ser muito mais caro.

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