Capítulo 17: Pov Kujou Sara (2)

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  Sara nunca gostou de falhar, ou melhor, nunca lhe foi permitido falhar. As lembranças de seus longos confinamentos dentro daquela gaiola humilhante, a assombravam de tempos em tempos. Mesmo com o líder de seu clã estando em prisão perpétua e tendo sido substituído por Kamaji, as feridas no coração dela teimavam em permanecer abertas.

  Mas um dia fechariam! Com tempo, esforço, e apoio elas fechariam.

  E Sara tinha apoio, Itto e a vovó Oni. Não, ela estava sendo injusta, Kunikuzushi-sama e Mei-sama a apoiavam mesmo sendo eles a fonte de boa parte dos problemas da Tengu... se bem que Itto também...

  Mas tinha falhado tanto com a futura shogun como com o príncipe, e essa falha tinha colocado o futuro casamento de Mei-sama em risco!

   Tinha se concentrado tanto em procurar pelos rastros do novo laboratório de Arleccino e Dottore, que subestimou a velocidade que relações humanas poderiam se formar caso o ""casal"" fosse deixado a sós. Humanos e Yokais eram muito diferentes, para ela era ilógico se afeiçoar a alguém tão rápido, entre os seus a primeira fagulha de paixão demorava décadas para surgir, se bem que eles tinham o luxo de uma vida bem mais longa que os humanos.

  Sara veria todos de sua família adotiva envelhecer e morrer enquanto ela permaneceria a mesma, e veria isso de novo por sabe-se lá quantas gerações. Mas isso não importava no momento.

  Ela cometeu o erro de achar que poderia fazer sua busca durante o dia, e só vigiar o casal durante a noite até Lumine dormir, e Tartaglia sair discretamente do acampamento para fazer a busca dele. Na mente disciplinada e focada dela, as pessoas só teriam momentos românticos em seus tempos livres, então a ideia de que a aventureira e o Mensageiro pudessem flertar de dia enquanto caçavam, sequer passou por sua cabeça.

  Conclusão:

  - Achou apenas pistas de uma concentração elemental vinda de baixo da terra, muito suspeita mas não conseguiu achar uma entrada.

  - As duas pessoas que deveria estar vigiando acabaram se afeiçoando um ao outro.

  Para ajudar a mocinha teve que ficar doente na volta, tossindo cada vez mais a ponto de quase desmaiar enquanto estava montada a cavalo. Então Sara teve que voar o mais rápido que pode para impedir a queda, o que acabou revelando a sua presença. Dizer que Tartaglia ficou irritado com essa invasão de sua privacidade, seria minimizar muito o estado que ele ficou. A Tengu viu o olhar furioso que o Mensageiro direcionou a ela.

  Entretanto, tudo foi esquecido quando Lumine teve mais um acesso de tosse.

  O 11º Mensageiro arrancou a aventureira dos braços de Sara, a colocando em seu cavalo e a abraçou para que não caísse. Tendo certeza de que ela estava segura, ele assobiou para chamar sua matilha de aluskis, sendo prontamente respondido com uma infinidade de latidos e o som de dezenas de patas correndo em sua direção. Com a matilha junto a ele, Tartaglia partiu a galope em direção à Mondstat, deixando para trás o cavalo que Lumine tinha montado. O sol estava subindo,  a chuva tinha quase parado, e as patas dos animais espalhavam lama pelo ar enquanto seguiam a toda velocidade.

 A Tengu quis sair voando para acompanhar Tartaglia, mas seu bom senso a fez montar no cavalo abandonado e seguir a galope atrás do Mensageiro. Cavalos eram animais caros, não poderia justificar para o oficial do Banco do Norte a perda de um deles, fora a papelada toda que teria que lidar no processo entre os dois departamentos dos fatui. Não, Sara estava fugindo de tudo que pudesse virar um problema a mais para ela resolver.

  Tartaglia e ela chegaram na cidade causando alvoroço, e assim permaneceram até Kunikuzushi-sama resolver a questão da aventureira desmaiada no hall do hotel. Foi tudo feito de maneira tão impecável, que Sara sentiu o mesmo orgulho de uma mãe corvo ao ver seu filhote voando pela primeira vez.

O orgulho do mensageiro e o preconceito da astrólogaOnde histórias criam vida. Descubra agora