Capítulo 7: Especial Kujou Sara

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  Sara saiu de sua reunião matutina mais irritada que o normal, seu mestre Kunikuzushi, ou melhor Scaramouche, tinha acertado em cheio um nervo sensível. Sim, ela estava com ciúmes de Itto, ela era um tengu e sua espécie era conhecida por ser possessiva! Até porque os sentimentos deles não funcionam da mesma maneira que os dos humanos, eles eram mais neutros, só conseguindo sentir algo quando estavam em extremos: amores violentos, ciúmes, superproteção, melancolia, fúria, euforia, delírio. Só sentimentos potencialmente destrutivos...

  Era por isso que ela se mantinha em sua rotina estrita, na repetição havia controle, e no controle a segurança, e com ela uma vida harmoniosa, pacífica. Tudo em sua vida deveria funcionar como um daqueles relógios de Fontaine. Às 5:55 ela acordava, rezava 5 vezes para a Arconte Electro, tomava um chá com uma infusão de 5 tipos folhas de matchá. Fazia tudo o que podia de acordo com seu número da sorte, era sua superstição, seu controle. O que a fazia acreditar que o dia seguiria bom, ou pelo menos dentro do esperado.

  Aí entrava Itto em sua vida, ele um Oni, uma força do caos, sempre um impedimento para ela seguir seu dia de acordo com o planejado. Por vezes até a impedindo de fazer as coisas no número de vezes ideal. Quantas vezes ela não foi interrompida na sua terceira prece por conta de alguma algazarra que ele estava aprontando na cidade? Quantas vezes ela mesma não teve que o prender?

  Só que aquele caos que ele trazia a fazia se sentir viva! Não conseguia sorrir em público, pois era a filha adotiva do clã Kujou, uma general, a vassala mais graduada de Vossa Alteza o príncipe Kunikuzushi. Mas, na primeira oportunidade que tinha- quando ficava sozinha- ela sorria ao se lembrar das idiotices do Oni. Não era raro ela sonhar com ele, com uma vida inteira junto a ele, livre, só fazendo o que queriam; correndo por toda Inazuma de mãos dadas sentindo o vento marinho em seus cabelos. 

  Era um sonho lindo, mas quando abria os olhos só lhe restava a realidade.

  Não que desgostasse de trabalhar para Vossa Alteza- pelo contrário morreria por ele- mas estava cansada de praticamente todo o resto. O clã que a adotou nunca a tratou como uma filha de verdade, ela era uma tengu em meio a humanos, mais como uma criatura a ser exibida do que uma pessoa de verdade. Ela tinha as habilidades militares e o poder de seu povo, e também tinha a benção da Arconte na forma de uma visão Electro. Só que não era o suficiente para o clã Kujou, nem mesmo a sua conduta perfeita, ou seu esforço contínuo em sempre ser a melhor. 

  Nada era bom o suficiente.

  Fora de casa as coisas não eram muito melhores não. Sara não era Sara, ela era sempre : madame Kujou. Não era uma pessoa, era apenas uma posição. Madame, general, vassala, protetora, conselheira. Isso trazia dignidade a ela? Sim. Um senso de dever cumprido? Também. Mas não era nem de longe o suficiente.

  Só Itto a via como Sara.

  E agora ele estava longe, vivendo uma vida cheia de adrenalina, de batalhas, e de causos fantásticos lá no mar. Tudo isso longe dela... ela não queria estar longe dele, foi a lei de Inazuma que a obrigou a isso. 

  Itto fez uma brincadeira que ultrapassou limites legais que não poderiam ter sido ultrapassados, e nem mesmo a vice-líder da gangue Arataki - a brilhante advogada Kuki Shinobu- conseguiu o livrar da pena. Era para ele ficar preso por no mínimo 5 anos, mas Sara depois de quase arrancar todas as suas penas de desespero, achou no código legal de Inazuma uma saída: pagar a pena prestando serviço à Marinha. E foi isso que ela aconselhou Kuki Shinobu a usar no tribunal. 

  Para seu alívio, deu certo.

  A sentença foi dada, e Itto zarpou imediatamente. Três anos se passaram, e por conta de todos os méritos de batalhas dele, logo teve sua sentença revogada e foi ganhando promoção atrás de promoção, até chegar a Almirante. Era algo admirável para Sara, e ela ficava feliz por ele finalmente ter encontrado algo no qual era bom, e que aparentemente via propósito. Algo que não restringia sua natureza de Oni, que não o obrigava a agir como humano.

O orgulho do mensageiro e o preconceito da astrólogaOnde histórias criam vida. Descubra agora