𝐃𝐑𝐄𝐀𝐌

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Pai...

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Minha mãe morreu ano passado vítima de um infarto, os médicos não conseguiram reanimá-la e ela nos deixou, até hoje meu pai acusa o hospital de negligência médica. Após a morte dela ele ficou inconsolável, se afundou na bebida para matar toda a tristeza que sentia no peito por ter perdido sua esposa, e alterando muito a minha relação com ele que já não era das melhores.

Eu achava que nada era pior do que ver meu pai chegando em casa totalmente bêbado e fora de si tendo que se apoiar em algo para ficar de pé, mas me enganei.. Pior do que vê-lo daquela forma era apanhar dele estando naquela forma, quando estava alcoolizado ele adquiria uma força de que parecia ser de outro mundo, segurando meus braços com tanta força que poderiam estourar minhas veias do braço. Ele já me bateu inúmeras vezes enquanto estava bêbado, atingindo meu rosto e os interiores do meu corpo, eu não conseguia sentir raiva dele, era a única coisa família que ainda me restou e eu precisava me manter com ele por ainda ser menor de idade.

Estou no meu quarto, a porta está trancada pra não ter perigo dele entrar alterado como sempre, um forte cheiro de perfume amadeirado ronda o cômodo, o cheiro me agrada e é pra disfarçar mais aroma forte das naftalinas que estão por toda parte. Observo minha chupeta na cômoda próximo ao meu abajur, ela era de quando eu era criança e as vezes uso durante a noite para relaxar e dormir mais tranquilo. As vezes respiro fundo e penso o quanto ser um bebê tiraria metade dos meus problemas. No meu guarda-roupa, bem lá no fundo, está o meu antigo cachorrinho de pelúcia, Bob, esse foi o único amigo que tive durante toda a minha vida que nunca me deixou de lado.

Ouço fortes batidas na porta, escondo a chupeta dentro da gaveta e respondo breviamente, sabendo que quem está batendo é o meu pai, transtornado como sempre.

- Quem é?

- Abre essa porra de porta, Noah!

- Pra que, não tem nada pra você aqui dentro.

- Eu tô mandando, abre essa porta agora! — Ele gritava, a voz mal saía mas ele insistia em gritar. Abro a porta, relevando um homem bêbado que mal conseguia se manter de pé.

- O.. O que vo-cê tava faze..ndo nesse qu-arto?

- Não é da tua conta.

- Olha você me.. — Ele se engasga, depois tossindo mostrando o quanto a garganta já se degradou. — Você me res-peita que eu sou pai.

- É como se não fosse. — Digo sincero. — Agora pode sair daqui?

- Você vai ver só, moleque! — Ele sai, andando todo torto pelo corredor.

Fecho a porta a trancando novamente, me jogo na cama respirando fundo enquanto olho pro teto infiltrado do meu quarto, se pudesse cair sob a minha cabeça pra eu morrer de vez eu agradeceria, mas não é o que temos para hoje.

Escuto um alto barulho vindo do fim do corredor, destranco a porta e ando até chegar no fim do mesmo me aproximando da escada, olho para o fim dela e vejo meu pai caído. Dou de ombros e volto para o meu quarto, sem me importar se aquele velho está bem ou não, ele não se importa comigo então não preciso me importar com ele.

Deito na cama de novo, mas dessa vez abro a gaveta pegando minha chupeta e a colocando na boca, começando a sugar suavemente. Eu estava relaxando e quando menos percebi acabei caindo no sono.

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Me vejo em um lugar com o céu azul, uma brisa maravilhosa soprava se alastrando pelo lugar inteiro e quando olho para o chão, me impressiono vendo que estou pisando nas nuvens e abaixo delas não havia nada, o que me fazia assimilar de que eu estava no paraíso.. Ando até um portão próximo de mim, era dourado e brilhante, semelhante ao que os frequentadores da igreja dizem ser da entrada para onde todos que acreditam em Deus passarão um dia, o portão estava fechado e através dele observo uma forte luz que estava próximo dali, na ponta de uma escada. Eu passei a acreditar que estava morto e fui para o céu.

- Onde eu estou? — Pergunto para mim mesmo, confuso com o que está acontecendo.

- Você está no céu, querido, juntinho de mim.. — Uma voz feminina me responde, era tão familiar, mas estou de costas não saberia quem seria.

- No céu? Mas eu nem... Mãe?! — Me viro respondendo a voz e quando visualizo o ser, era a minha mãe, com seus belos cabelos cacheados enquanto vestia uma roupa branca semelhante as vestes de anjos, sem hesitar corro até ela e a abraço, derrubando lágrimas teimosas do rosto.

- Está tudo bem querido, eu estou aqui....

Após a generosa fala, tudo ficou escuro, eu novamente ouvia os sons de trânsito estressante e já sentia o cheiro de perfume amadeirado no ar.. Abro meus olhos, visualizando meu quarto, minha chupeta ainda está na minha boca e a porta está aberta.. Fico tenso lembrando que esqueci de fechar a porta e provavelmente meu pai que já deve ter se levantado pode ter passado e me visto dormindo de chupeta, eu me mataria se ele descobrisse..

Saio do meu quarto e ando novamente até a escada, meu pai que estava no chão até então não estava mais, ando até o quarto dele e ele também não estava lá. Assimilei que ele saiu novamente, provavelmente o desejo de consumir álcool havia voltado e ele decidiu ir beber mais, eu não me importava mais com o que ele fazia da vida dele, eu só queria fazer 18 anos e ir embora daquele hospício que eu chamava de casa.

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Vou até a cozinha, abro a geladeira e a encontro vazia, abro os armários e eles também estão vazios. Meu pai é um homem tão miserável que não deve fazer compras a semanas, não sei como estou sobrevivendo, mas estou com tanta fome que comeria uma vaca viva se me permitirem.

A campainha tocou, andei até a porta e olhei pelo olho mágico, era um cara altamente bombado com roupas finas e junto dele haviam dois outros homens com roupas mais discretas, eu não sabia quem era mas resolvi atender.

- Boa tarde?

- Olá jovem. O senhor Edgar está em casa? — Ele me pergunta arqueando a sombrancelha. — Precisamos falar com ele urgentemente.

- Ele não está.. Deve ter saído. Não sei o que ele faz da vida dele.

- E você é o que? — Ele olha no fundo dos meus olhos.

- Filho dele..

- Filho? Esse vagabundo disse que morava sozinho. Estão vendo como esse meliante é mentiroso?! — O rapaz dizia bravo olhando para seus comparsas.

- Ele mora praticamente sozinho. Eu não acresento em nada da vida dele. — Digo cabisbaixo. — Ele deve voltar daqui a pouco, querem esperar? — Digo receioso, não sei nem quem eram aqueles caras mas tentei ser educado.

- Não precisa jovem. Ficaremos por aqui mesmo e quando nós o encontrarmos nós conversamos, até mais.. — O rapaz se despede.

- Até mais.. — Fecho a porta. — Quem será que são esses caras e o que eles querem com o meu pai?

CheshireOnde histórias criam vida. Descubra agora