Capítulo 11

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Cheguei a Itália ao final daquela tarde e imediatamente me dirigi ao hospital onde meu pai estava internado. Mal cruzo a entrada e sou surpreendido por meus irmãos, Paolo e Maurizio.― Que bom que chegou, fratello. – Maurizio me cumprimenta.― E como ele está? – pergunto― Os médicos dizem que suas chances são mínimas, e se sobreviver ficará em estado vegetativo. – explica― E como foi o acidente? - indago― Papá estava indo a uma reunião de negócios, quando o motorista perdeu o controle do carro e bateu contra um poste. O motorista morreu no local. – Maurizio me responde― Tem alguma ideia de como isso aconteceu? – pergunto tentando entender―Suspeitamos que o carro tenha sido sabotado. – Paolo toma a palavra― Tem algum suspeito? – continuo meu interrogatório em meu modo sottocapo― Estamos investigando. Mas o serviço foi muito executado. – Maurizio é quem responde― Tratem de resolver isso o mais rápido possível. Usem a costumeira força dos Macri. Quero o responsável por esse "acidente" em minhas mãos o quanto antes. - ordeno― Rico. – escuto minha irmã Beatrice chamar―Como stai sorella? Io sono qui. – pergunto como está, dizendo que estou aqui ao abraçá-la― Papá....- começa a chorar―Eu sei pequena. Tudo dará certo, eu prometo. – digo acalentando-a Olho para meus irmãos e eles imediatamente sabem o que devem fazer. Uma semana depois, enterramos nosso pai. Seu estado era irreversível. Beatrice estava inconsolável. Com apenas quinze anos, já era órfã de pai e mãe. Sua única família agora se resumia a mim e aos meus irmãos. E para seu próprio bem, resolvemos mandá-la de volta para o colégio interno. Assumi o lugar de meu pai como chefe e imediatamente passei a caçar o responsável ou responsáveis pela sua morte. Agora estamos num galpão com um suspeito que mesmo após ter sido torturado, se recusa a dizer quem foi o mandante.― Por que não fala seu desgraçado? – Paolo vocifera ao dar um soco no estomago do verme ― Mortos não falam. – ele desdenha tossindo e posso ver sangue escorrer por sua boca― Podemos continuar com isso por muito tempo. – Maurizio responde― Não tenho medo. Serei morto aqui ou depois. – ri enquanto cospe mais sangue Passamos mais de doze horas torturando o homem e nada do maldito abrir a boca. Estava cansado, furioso e impaciente. Mas tenho que admitir, o homem sabe como manter a boca fechada. Quem lhe encomendou o serviço sabia em quem confiar. A certa altura, vi que não arrancaria nada desse bastardo.― Deixe-o ir. – digo para meus irmãos e me afasto― Ma che cazzo. Por que isso agora? – Maurizio esbraveja, enquanto me segue― Vá com calma, fratello. – Paolo intervém ― Federico deve ter algum plano.― E realmente tenho. – falo pegando meu telefone e discando para um velho conhecido. Ele atende no segundo toque.―Tenho um serviço para você. – digo para meu interlocutor e desligo― O que está fazendo? Quem era ao telefone? – Maurizio me interroga― Alguém que me deve favores. – respondo― E o que tem em mente? – Paolo indaga― Vamos soltar esse verme e colocá-lo sob vigilância. Se quem planejou tudo isso o pegar, saberemos a quem atingir. – respondo Meus irmãos se entreolham, mas não ousam a desrespeitar minhas ordens. Deixam o homem moribundo em uma viela. E no mesmo instante envio uma mensagem para meu contato. Ygor Gorky, um dissidente da máfia eslava, assim como seu nome sabe ser extremamente amargo para conseguir o que quer. Voltamos para casa e dali algumas horas, me reunirei com os chefes das outras 'ndrines. Precisamos realinhar nossos próximos passos. Agora que assumi a posição de meu pai, mudarei algumas coisas. Já se passaram algumas semanas desde que cheguei a Itália, foram tantos assuntos para resolver que acabei me esquecendo de avisar Antonella. A garota deve achar que sou um cretino aproveitador. Mas agora não posso pensar nisso. Preciso me concentrar e tomar a melhor decisão para nossa 'ndrina. Mas só de pensar na ragazza, sinto algo se remexer em meu peito. Tento afastar esses pensamentos. A reunião de hoje não será fácil. Estamos perdendo espaço para a Cosa Nostra, e outras máfias estão se aproveitando disso para nós atacar. Não posso e não permitirei que algo dessa magnitude continue acontecendo. Os chefes das famílias D'Amico, Galli, Bianchi e Ricci me aguardavam no escritório.― Sinto por sua perda. – Emiliano D'Amico diz ao me cumprimentar – Giuseppe era um bom amigo.― Obrigado, Emiliano. Meu pai tinha muito apreço por você. – agradeço― Bem todos aqui sentimos muito a partida de Giuseppe, mas não viemos aqui para isso. – ouço Matteo Galli falar – Precisamos tomar algumas medidas e precisa ser rápido.― Compreendo o medo de vocês, mas não precisam se preocupar. – digo ― Meus homens já estão cuidando para que ninguém mais ouse entre em nosso território. – falo com firmeza― Somente isso não será o bastante. Precisamos mostrar a eles que somos fortes para que sequer cogitem nós ameaçar. – Matteo retruca― E a herdeira dos Nigro? - Vitório pergunta ― Soube que esteve à procura dela. Uma união entre vocês nos fortaleceria. – explana― E quanto a minha filha? – Giacomo Ricci reclama – A minha Francesca não é um objeto para ser descartado.― Mas o que você tem a nos oferecer? – Emiliano pergunta – Sua família só continua viva por causa dos Macri. Porque se dependesse dos seus filhos, seu nome já estaria riscado de nossa história. – termina ―E todo sabem a fama de sua figlia – Vittorio fala com escárnio― Quem você pensa que é para falar assim de minha bambina. – Giacomo parte para cima de Vittorio, sendo contido por Emiliano― È troppo! Basta! Não estamos aqui para discutir a reputação de ninguém. Muito menos da filha de um dos nossos. – digo sério― Não coloque panos quentes, Federico. – Vittorio diz irônico ― Todos sabemos do seu caso com a Francesca.― Já disse basta, Vittorio. – bato na mesa com força ― Tome cuidado com que fala. – adivirto ― Não esqueça que estou no comando agora, e posso não ser tão complacente como meu pai. – vejo levantar as mão em rendição― Você ainda não respondeu minha pergunta, Federico. – Giacomo insiste ― Como Francesca fica nessa história?― Tenho certeza de que ficará bem. – digo recostando me em minha cadeira ―Somos adultos. Garanto que ela irá superar.― Como ousa! Disgraziato. – cospe― Nunca prometi que me casaria com Francesca, Giacomo. – falo com minha voz baixa e séria ― Você despedaçará o coração de mia bambolina. – diz cabisbaixo e quase sinto pena ao pensar em Francesca― Como disse, tenho certeza de que ela irá superar. – repito ― Agora preciso pensar no que é melhor para nossa 'Ndrina.Terminamos nossa reunião acordados de que entrarei em contato com o patriarca da família Nigro para acertar os tramites de meu casamento com Antonella.

Começo a me arrepender de ter concordado com a ideia de minha amiga. Me olho novamente e quase não me reconheço. Betina me obrigou a usar um vestido preto curto e justíssimo, repleto de paetês. Estou usando saltos altíssimos, que tenho a sensação de que cairei a qualquer momento. Tina fez uma maquiagem leve, mas que destaca meus olhos. Meus cabelos estão soltou, levemente ondulados nas pontas. ―Fiu-fiu! – ouço Betina assobiar ― Garota, você está um arraso! – diz apertando meus ombros em frente ao espelho―Não acha que está um pouco exagerado?! – falo insegura― Para com isso, Nella. Você está linda. Garanto que irá matar muita gente de inveja. – me encoraja ― Agora o toque final. – espirra um perfume em meu pescoço― Que perfume é esse? – pergunto― Um que deixará qualquer um aos seus pés. – diz me dando uma piscadela e a vejo borrifando em seu pescoço, pulsos e entre o decote de seu vestido. Tina está deslumbrante em seu vestido vermelho curto com alças finas. As costas nuas da peça, deixam a mostra sua bela tatuagem. ― Vamos garota. – diz pegando a pequena bolsa prateada com seu telefone e carteira ― Hoje a noite é nossa. Saímos de seu apartamento em direção a boate em que o pessoal do Direito dará a festa. Na entrada a hostess pede nossos convites e mostramos nossos telefones para que lesse o código. Recebemos uma pulseira que nos dá acesso ao mezanino e ao bar do local. Entramos, o local está a meia luz e já está lotado. Esse pessoal gosta mesmo de uma balada. O Dj está tocando uma música que não consigo identificar. Betina me arrasta para o mezanino, onde nos sentamos em uma das mesas.―Quer beber alguma coisa? – Tina pergunta―O que? – indago sem ter escutado por causa da música― Eu perguntei se quer beber alguma coisa. – repete um tom mais alto― Não sei. Eu não sei o que servem nessas festas. – falo resignada― Que tal começarmos com algo fraco. – diz olhando o cardápio em seu telefone ― Duas saquerinhas de frutas vermelhas e uma água. – pede ao garçom que parou a nossa frente― Mais alguma? – o homem pergunta com o tablet em mãos― Por enquanto só isso. – o dispensa e ele acena― Amo essa música. – Tina começa a mover a cabeça e cantar a letra Alguns minutos depois uma garçonete entrega nossas bebidas.―Obrigada. – Tina e eu agradecemos quando a moça coloca os copos sobre a mesa―Prove. – Tina fala ao me entregar o copo ― Você vai gostar. Pego o copo de sua mão e dou uma sugada pelo canudo. Sinto o gosto de algo agridoce, mas bom. Dou um aceno positivo para Betina e continuo a beber.―Sabia que iria gostar. – diz após também beber de seu copo Algum tempo depois o garçom surge com um prato de canapés e alguns fingers food. Betina agradece e pede mais uma bebida para nós duas. Em certo momento, perco a conta de quantos copos que tomei. Betina está achando graça.― Vamos, Nella. Vamos mexer esse popozão. – fala pegando em meu braço e me arrastando escada abaixo para a pista Começamos a dançar e não sei se estou fazendo certo. Fecho meus olhos e sigo o ritmo da música. De repente, sinto um par de mãos em minha cintura, tirando-me totalmente do meu transe e me deixando paralisada.― Tire suas mãos dela, seu idiota. – ouço uma voz que achei que não ouviria novamente― Cai fora, velhote. Cheguei primeiro. – escuto o homem ralhar com a voz embolada― Se você tem amor a sua vida. É melhor fazer o que estou mandando. – vejo Federico em toda sua imponência.― Calma cara. – o homem diz e não sinto mais suas mão sobre meu corpo Federico fica olhando o homem se afastar, enquanto tento sair do estupor. Alguns segundos depois, o vejo me olhar como se estivesse me analisando. Suas irises estão tão dilatadas que não sei dizer se é porque está feliz ao me ver ou se está sob efeito de alguma substância. ― Antonella. – pronuncia meu nome enquanto se aproxima. Fico estática sem saber o que fazer.―Mia bella ragazza. Vamos sair daqui. – diz ao me abraçar. Sinto que sou levada e não consigo reagir. A brisa sopra em meu rosto e percebo que saímos. Num estalo, recobro a consciência sobre meu corpo. E me vejo arrastada para o carro de Federico.―Federico o que está fazendo? – digo tentando soltar meu braço―Primeiro vamos sair daqui. – ordena abrindo a porta do carro para mim

A herdeira perdida da máfiaOnde histórias criam vida. Descubra agora