Cheguei a Itália ao final daquela tarde e imediatamente me dirigi ao hospital onde meu pai estava internado. Mal cruzo a entrada e sou surpreendido por meus irmãos, Paolo e Maurizio.― Que bom que chegou, fratello. – Maurizio me cumprimenta.― E como ele está? – pergunto― Os médicos dizem que suas chances são mínimas, e se sobreviver ficará em estado vegetativo. – explica― E como foi o acidente? - indago― Papá estava indo a uma reunião de negócios, quando o motorista perdeu o controle do carro e bateu contra um poste. O motorista morreu no local. – Maurizio me responde― Tem alguma ideia de como isso aconteceu? – pergunto tentando entender―Suspeitamos que o carro tenha sido sabotado. – Paolo toma a palavra― Tem algum suspeito? – continuo meu interrogatório em meu modo sottocapo― Estamos investigando. Mas o serviço foi muito executado. – Maurizio é quem responde― Tratem de resolver isso o mais rápido possível. Usem a costumeira força dos Macri. Quero o responsável por esse "acidente" em minhas mãos o quanto antes. - ordeno― Rico. – escuto minha irmã Beatrice chamar―Como stai sorella? Io sono qui. – pergunto como está, dizendo que estou aqui ao abraçá-la― Papá....- começa a chorar―Eu sei pequena. Tudo dará certo, eu prometo. – digo acalentando-a Olho para meus irmãos e eles imediatamente sabem o que devem fazer. Uma semana depois, enterramos nosso pai. Seu estado era irreversível. Beatrice estava inconsolável. Com apenas quinze anos, já era órfã de pai e mãe. Sua única família agora se resumia a mim e aos meus irmãos. E para seu próprio bem, resolvemos mandá-la de volta para o colégio interno. Assumi o lugar de meu pai como chefe e imediatamente passei a caçar o responsável ou responsáveis pela sua morte. Agora estamos num galpão com um suspeito que mesmo após ter sido torturado, se recusa a dizer quem foi o mandante.― Por que não fala seu desgraçado? – Paolo vocifera ao dar um soco no estomago do verme ― Mortos não falam. – ele desdenha tossindo e posso ver sangue escorrer por sua boca― Podemos continuar com isso por muito tempo. – Maurizio responde― Não tenho medo. Serei morto aqui ou depois. – ri enquanto cospe mais sangue Passamos mais de doze horas torturando o homem e nada do maldito abrir a boca. Estava cansado, furioso e impaciente. Mas tenho que admitir, o homem sabe como manter a boca fechada. Quem lhe encomendou o serviço sabia em quem confiar. A certa altura, vi que não arrancaria nada desse bastardo.― Deixe-o ir. – digo para meus irmãos e me afasto― Ma che cazzo. Por que isso agora? – Maurizio esbraveja, enquanto me segue― Vá com calma, fratello. – Paolo intervém ― Federico deve ter algum plano.― E realmente tenho. – falo pegando meu telefone e discando para um velho conhecido. Ele atende no segundo toque.―Tenho um serviço para você. – digo para meu interlocutor e desligo― O que está fazendo? Quem era ao telefone? – Maurizio me interroga― Alguém que me deve favores. – respondo― E o que tem em mente? – Paolo indaga― Vamos soltar esse verme e colocá-lo sob vigilância. Se quem planejou tudo isso o pegar, saberemos a quem atingir. – respondo Meus irmãos se entreolham, mas não ousam a desrespeitar minhas ordens. Deixam o homem moribundo em uma viela. E no mesmo instante envio uma mensagem para meu contato. Ygor Gorky, um dissidente da máfia eslava, assim como seu nome sabe ser extremamente amargo para conseguir o que quer. Voltamos para casa e dali algumas horas, me reunirei com os chefes das outras 'ndrines. Precisamos realinhar nossos próximos passos. Agora que assumi a posição de meu pai, mudarei algumas coisas. Já se passaram algumas semanas desde que cheguei a Itália, foram tantos assuntos para resolver que acabei me esquecendo de avisar Antonella. A garota deve achar que sou um cretino aproveitador. Mas agora não posso pensar nisso. Preciso me concentrar e tomar a melhor decisão para nossa 'ndrina. Mas só de pensar na ragazza, sinto algo se remexer em meu peito. Tento afastar esses pensamentos. A reunião de hoje não será fácil. Estamos perdendo espaço para a Cosa Nostra, e outras máfias estão se aproveitando disso para nós atacar. Não posso e não permitirei que algo dessa magnitude continue acontecendo. Os chefes das famílias D'Amico, Galli, Bianchi e Ricci me aguardavam no escritório.― Sinto por sua perda. – Emiliano D'Amico diz ao me cumprimentar – Giuseppe era um bom amigo.― Obrigado, Emiliano. Meu pai tinha muito apreço por você. – agradeço― Bem todos aqui sentimos muito a partida de Giuseppe, mas não viemos aqui para isso. – ouço Matteo Galli falar – Precisamos tomar algumas medidas e precisa ser rápido.― Compreendo o medo de vocês, mas não precisam se preocupar. – digo ― Meus homens já estão cuidando para que ninguém mais ouse entre em nosso território. – falo com firmeza― Somente isso não será o bastante. Precisamos mostrar a eles que somos fortes para que sequer cogitem nós ameaçar. – Matteo retruca― E a herdeira dos Nigro? - Vitório pergunta ― Soube que esteve à procura dela. Uma união entre vocês nos fortaleceria. – explana― E quanto a minha filha? – Giacomo Ricci reclama – A minha Francesca não é um objeto para ser descartado.― Mas o que você tem a nos oferecer? – Emiliano pergunta – Sua família só continua viva por causa dos Macri. Porque se dependesse dos seus filhos, seu nome já estaria riscado de nossa história. – termina ―E todo sabem a fama de sua figlia – Vittorio fala com escárnio― Quem você pensa que é para falar assim de minha bambina. – Giacomo parte para cima de Vittorio, sendo contido por Emiliano― È troppo! Basta! Não estamos aqui para discutir a reputação de ninguém. Muito menos da filha de um dos nossos. – digo sério― Não coloque panos quentes, Federico. – Vittorio diz irônico ― Todos sabemos do seu caso com a Francesca.― Já disse basta, Vittorio. – bato na mesa com força ― Tome cuidado com que fala. – adivirto ― Não esqueça que estou no comando agora, e posso não ser tão complacente como meu pai. – vejo levantar as mão em rendição― Você ainda não respondeu minha pergunta, Federico. – Giacomo insiste ― Como Francesca fica nessa história?― Tenho certeza de que ficará bem. – digo recostando me em minha cadeira ―Somos adultos. Garanto que ela irá superar.― Como ousa! Disgraziato. – cospe― Nunca prometi que me casaria com Francesca, Giacomo. – falo com minha voz baixa e séria ― Você despedaçará o coração de mia bambolina. – diz cabisbaixo e quase sinto pena ao pensar em Francesca― Como disse, tenho certeza de que ela irá superar. – repito ― Agora preciso pensar no que é melhor para nossa 'Ndrina.Terminamos nossa reunião acordados de que entrarei em contato com o patriarca da família Nigro para acertar os tramites de meu casamento com Antonella.
Começo a me arrepender de ter concordado com a ideia de minha amiga. Me olho novamente e quase não me reconheço. Betina me obrigou a usar um vestido preto curto e justíssimo, repleto de paetês. Estou usando saltos altíssimos, que tenho a sensação de que cairei a qualquer momento. Tina fez uma maquiagem leve, mas que destaca meus olhos. Meus cabelos estão soltou, levemente ondulados nas pontas. ―Fiu-fiu! – ouço Betina assobiar ― Garota, você está um arraso! – diz apertando meus ombros em frente ao espelho―Não acha que está um pouco exagerado?! – falo insegura― Para com isso, Nella. Você está linda. Garanto que irá matar muita gente de inveja. – me encoraja ― Agora o toque final. – espirra um perfume em meu pescoço― Que perfume é esse? – pergunto― Um que deixará qualquer um aos seus pés. – diz me dando uma piscadela e a vejo borrifando em seu pescoço, pulsos e entre o decote de seu vestido. Tina está deslumbrante em seu vestido vermelho curto com alças finas. As costas nuas da peça, deixam a mostra sua bela tatuagem. ― Vamos garota. – diz pegando a pequena bolsa prateada com seu telefone e carteira ― Hoje a noite é nossa. Saímos de seu apartamento em direção a boate em que o pessoal do Direito dará a festa. Na entrada a hostess pede nossos convites e mostramos nossos telefones para que lesse o código. Recebemos uma pulseira que nos dá acesso ao mezanino e ao bar do local. Entramos, o local está a meia luz e já está lotado. Esse pessoal gosta mesmo de uma balada. O Dj está tocando uma música que não consigo identificar. Betina me arrasta para o mezanino, onde nos sentamos em uma das mesas.―Quer beber alguma coisa? – Tina pergunta―O que? – indago sem ter escutado por causa da música― Eu perguntei se quer beber alguma coisa. – repete um tom mais alto― Não sei. Eu não sei o que servem nessas festas. – falo resignada― Que tal começarmos com algo fraco. – diz olhando o cardápio em seu telefone ― Duas saquerinhas de frutas vermelhas e uma água. – pede ao garçom que parou a nossa frente― Mais alguma? – o homem pergunta com o tablet em mãos― Por enquanto só isso. – o dispensa e ele acena― Amo essa música. – Tina começa a mover a cabeça e cantar a letra Alguns minutos depois uma garçonete entrega nossas bebidas.―Obrigada. – Tina e eu agradecemos quando a moça coloca os copos sobre a mesa―Prove. – Tina fala ao me entregar o copo ― Você vai gostar. Pego o copo de sua mão e dou uma sugada pelo canudo. Sinto o gosto de algo agridoce, mas bom. Dou um aceno positivo para Betina e continuo a beber.―Sabia que iria gostar. – diz após também beber de seu copo Algum tempo depois o garçom surge com um prato de canapés e alguns fingers food. Betina agradece e pede mais uma bebida para nós duas. Em certo momento, perco a conta de quantos copos que tomei. Betina está achando graça.― Vamos, Nella. Vamos mexer esse popozão. – fala pegando em meu braço e me arrastando escada abaixo para a pista Começamos a dançar e não sei se estou fazendo certo. Fecho meus olhos e sigo o ritmo da música. De repente, sinto um par de mãos em minha cintura, tirando-me totalmente do meu transe e me deixando paralisada.― Tire suas mãos dela, seu idiota. – ouço uma voz que achei que não ouviria novamente― Cai fora, velhote. Cheguei primeiro. – escuto o homem ralhar com a voz embolada― Se você tem amor a sua vida. É melhor fazer o que estou mandando. – vejo Federico em toda sua imponência.― Calma cara. – o homem diz e não sinto mais suas mão sobre meu corpo Federico fica olhando o homem se afastar, enquanto tento sair do estupor. Alguns segundos depois, o vejo me olhar como se estivesse me analisando. Suas irises estão tão dilatadas que não sei dizer se é porque está feliz ao me ver ou se está sob efeito de alguma substância. ― Antonella. – pronuncia meu nome enquanto se aproxima. Fico estática sem saber o que fazer.―Mia bella ragazza. Vamos sair daqui. – diz ao me abraçar. Sinto que sou levada e não consigo reagir. A brisa sopra em meu rosto e percebo que saímos. Num estalo, recobro a consciência sobre meu corpo. E me vejo arrastada para o carro de Federico.―Federico o que está fazendo? – digo tentando soltar meu braço―Primeiro vamos sair daqui. – ordena abrindo a porta do carro para mim
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A herdeira perdida da máfia
RomanceAntonella Menezes foi criada em meio as pessoas da maior favela de São Paulo. Desde de pequena teve que mostrar ser uma pessoa valente para sobreviver em meio a violência e o preconceito das pessoas. Só não sabe que sua história está prestes a sofre...