Capítulo 21

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            Depois de esvaziar a garrafa de uísque, meus olhos se fecharam por conta própria. Mas o sono ébrio não foi nada satisfatório. Acordei com o corpo dolorido e com a cabeça martelando por causa do álcool.

Olhei para o relógio e vi que ainda faltavam algumas horas para  me encontrar com Antonella. Me dirigi ao banheiro a fim de me livrar do cheiro da bebida.

Ao fechar a porta atrás de mim, o reflexo no espelho revela um semblante tenso. Livro-me das roupas e ligo o chuveiro, deixando a água correr, enquanto tento dissipar os vestígios do álcool que permeiam meu corpo. O cheiro forte da bebida parece impregnar cada poro, e a necessidade de parecer sóbrio para a conversa iminente é urgente.

Saio do box e com uma toalha, seco o rosto, tentando também afastar as imagens perturbadoras que rondam meus pensamentos. A culpa e a raiva ainda estão presentes, mas a preocupação sobre o que será revelado durante o nosso encontro adiciona uma nova camada de complexidade à situação.

Pedi para que Antonella me encontrasse em uma cafeteria próxima ao hotel. Não sei o poderia fazer se nos encontrássemos em um local mais reservado.

Com a mente ainda turva pelo efeito do álcool, respiro fundo, tentando recobrar a compostura. O encontro com Antonella será um teste de paciência e eu preciso estar preparado para enfrentar o desconhecido que nos aguarda.

Chego à cafeteria no horário combinado e avisto sentada numa das mesas ao fundo. Sua beleza se destaca mesmo usando roupas modestas. Caminho de devagar e a tensão sobre nós é palpável.

Buongiorno, Antonella! - a cumprimento

―Bom dia, Federico! – ela responde

Afasto a cadeira e sento-me a sua frente. Nenhum de nós diz uma única palavra. O silêncio parece amplificar a atmosfera carregada de expectativas, o barulho da cafeteria ao nosso redor é um contraste com a quietude desconfortável que nos envolve.

Um garçom se aproxima. Peço um café, e a espera se torna uma pausa entre atos, um respiro tenso antes do desfecho iminente.

― Por que Antonella? – pergunto quebrando o silencio

― Você não tem o direito de me fazer essa pergunta. – diz olhando diretamente em meus olhos

― Como não. Fui privado de meu filho, meu herdeiro, meu sangue. E você vem me dizer que não tenho direito a lhe perguntar nada. – falo com raiva assustando-a

Somos interrompidos pelo garçom que traz meu pedido, o líquido fumegante a frente, se torna testemunha silenciosa da tempestade emocional que se desenha entre nós. Cada gole é um pequeno intervalo, na busca errante de manter me calmo.

― Eu já disse. Ele não é seu filho. – diz após se recuperar ―Você sabe muito bem que sou uma mulher casada. Matteo é um Orekhov. – diz e sinto meu sangue ferver

― Matteo Orekhov. – repito o nome do menino ―E ainda teve coragem de dar o nome de outro homem a ele. – respondo entredentes

―De outro homem não. Do pai dele. – enfrenta-me

―Até quando continuará mentindo, Antonella? – pergunto com sarcasmo ―Eu sei muito bem que seu casamento é uma fachada.

― E como pode ter certeza disso? Eu amo Mikail e não poderia ter escolhido esposo melhor. – meu coração erra uma batida ao ouvi-la dizer que ama outro homem ―Ele me ama, respeita e jamais me enganou. – suas palavras soam como um soco meu estomago e vejo o quanto está magoada

―Nunca tive a intenção de te magoar. – falo em um tom apaziguador

― Claro. Eu havia acabado de me entregar a você e sou abordada por uma mulher que se diz sua noiva e você nunca quis de magoar. Mas como diz o ditado:" L'inferno è pieno di buone intenzioni" – diz ironica

A herdeira perdida da máfiaOnde histórias criam vida. Descubra agora