Verão 13

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De volta em casa!

Eu abria os braços na manhã antes do feriado prolongado, ainda tínhamos uma subida de montanha pela frente, sem nenhuma hipótese de usar energia amaldiçoada.

- A gente não vai andar isso tudo não né? - Satoru se manifesta assim que pisa no primeiro paralelepípedo da subida.

- Definitivamente vamos - Suspiro.

As sensações de voltar pra casa seriam conflitantes, ver meus pais era caloroso, finalmente abraçar minha mãe e dormir no meu quarto.

Por outro lado, eu sentia minha nuca arrepiar e minhas mãos arderem só de lembrar que durante a subida vamos passar em frente a igreja onde o padre tantas vezes bateu nas nossas mãos e afirmou que estávamos possuídos.

Começamos a subir bem cedo, tinham casinhas no caminho, a maioria com idosos residentes.

- Nossa... Aquela velha fez o sinal da cruz pra vocês - Satoru resmunga depois de passarmos por uma casinha vermelha.

- Se acostuma, as pessoas desse caminho foram as mais felizes quando a gente saiu - Suguru da uma risadinha.

- Qual era o seu demônio mesmo, Suguru? - Perguntei ao tentar me lembrar com humor daqueles dias sombrios - o meu era Paymon

- Belial - ele revira os olhos e põe a língua pra fora.

A gente estava rindo e Satoru parecia tão confuso e ao mesmo tempo com vontade de rir

- Diziam que vocês estavam possuídos mesmo? - Satoru ajeita os óculos enquanto tenta subir os degraus mais rápido.

- É... Tipo isso - Levanto meus ombros, vemos uma pequena maldição passando entre as árvores.

- Deixa, eu pego essa - Suguru diz calmamente, não parando de se mover quando estende a mão e a criatura se retorcer até se tornar uma bolinha que parecia de vidro com um líquido âmbar e nada convidativa dentro.

Ele come o nos vemos a habitual cara de descontentamento.

- quer um beijinho pra melhorar? - Perguntei brincando.

- Prefiro um chiclete - ele me estende a mão.

- Se joga de um penhasco, Suguru - jogo a embalagem de chiclete na cara dele.

Ele ri e apanha facilmente antes que embalagem acerte aquele narigão ridiculamente lindo dele.

- Olha, eu sei que a oferta não foi pra mim - Satoru diz todo carente, se aproximando de mim com as sobrancelhas subindo e descendo de forma faceira - Mas eu aceito o beijo.

Não dava pra resistir a esses olhos brilhantes e sorriso convencido, parei de subir por um instante, segurei seu rosto. Satoru estava meio geladinho depois de todo esse tempo de subida tomando vento gelado na cara. Ele sorri quando percebe que vai conseguir o que quer, abraçando minha cintura com um pouco de calma e ali a gente se beija, meu corpo já acostumado ao frio compartilhando seu calor com o garoto mimado que eu gosto tanto.

Hoje ele parecia mais mimado e carente que o normal... Isso era tão bom que eu nem ousava reclamar.

- Sério vocês dois? - O moreno estava parado uns sete degraus acima, com as mãos na cintura e uma cara insatisfeita.

- Você negou, gato - Satoru da uma risada e eu assopro um beijo para meu amigo.

- Vamos, Toru, eu ainda tô morta de fome - Puxo sua mão, estava tão gelada quanto seu rosto.

Subimos em silêncio, passar na frente da igreja foi bom... Ela finalmente tava fechada.

- o que tá fazendo? - Digo me virando pra Satoru imediatamente depois de sentir os pelos da minha nuca se arrepiarem.

Foi bem na hora que passávamos em frente a construção católica sem circulação, Geto na frente, eu no meio e Satoru por último. Suguru e eu viramos imediatamente ao sentir toda aquela energia amaldiçoada.

Era Satoru conjurando um vermelho, fazendo uma arminha com a mão e disparando na direção da construção. Foi impensável, impossível de reagir, tenho certeza que ninguém esperava essa atitude.

- Não mexe mais com os meus amigos, idiota - Satoru grita, balançando o punho como se tivesse sido a igreja, a construção de maneira literal, quem tivesse maltratado a mim e o Suguru.

A porra da parede inteira caiu, explodiu cadeira pra caralho lá dentro. Por um momento, eu senti algo bom.

Eu peguei uma pedra e joguei, atingindo só uma vidraça que o vermelho não tinha estourado.

- Isso aí! - concordo com o grito de Satoru.

- Você tem tanta certeza de impunidade, meu Deus - Suguru estica o braço e libera uma espécie de raia, o anima mesmo, que cai por cima de nós de um jeito meio nojento.

- Não podia ser algo menos nojento não, Suguru? - perguntei me agarrando na cintura do meu amigo, evitando encostar naquela coisa nojenta.

- Algo menos nojento não cumpriria a função - ele diz meio sério. Ao mesmo tempo sinto Satoru se grudar em mim do mesmo jeito que eu estava no Suguru. Também murmurando sobre como isso era nojento.

Fiquei em silêncio, caminhando em baixo daquela coisa que deixava no o meu querido moreno mau humorado ver pra onde íamos.

Até que ouço ele escapar uma risadinha, ele parecia estar contendo a um tempo

- Um vermelho foi muito exagero - Ele não parecia ter achado isso enquanto tentava conter a gargalhada catártica.

- Prefere um azul? - Satoru pergunta todo animado - a gente volta lá e já joga um desse também.

- Não, para de ser idiota - Suguru limpa lágrimas de risada dos cantos de seus olhos. - nós chegamos.

A raia desaparece, amém, de cima de nós, dando finalmente a visão da pacata vila onde a gente cresceu, telhados vermelhos barro, a maioria das paredes é branca ou cor de madeira, uma praça, uma escola que conhecíamos e uma que não.

- Agora tem ensino médio aqui? - Perguntei depois de bloquear o sol com as mãos para enxergar melhor.

-Por que? Quer mudar de colégio? - Suguru perguntou de forma sarcástica.

- Que fim de mundo vocês cresceram né... Dois caipi- Satoru não conseguiu terminar, tomou duas pancadas na nuca pra largar de ser otário.

Dias de Verão - Gojo/Geto/ LeitoraOnde histórias criam vida. Descubra agora