Capítulo 1: Que tal cinco encontros?

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Eu não conseguia parar de pensar em todas as vezes que eu tive que provar para minha família que eu sou tão competente quanto eles. Não é só porque eu escolhi Julliard ao invés de Harvard, Dança Contemporânea ao invés de Direito, que eu não posso ser tão bom e respeitado como eles.

Eu cresci no meio de advogados. Advocacia deveria estar no meu sangue como está no de Solar, como diz meu pai em todas as vezes que brigamos. Acontece que eu tenho uma irmã, Park Solar, a mais jovem e promissora Advogada da Park Advocacia. Ela é o brilho nos olhos dos meus pais e a pessoa com quem sou comparado desde que nasci.

Nós temos apenas um ano de diferença, e como irmãos temos nossas brigas e provocações, mas ela é a pessoa mais importante da minha vida e a pessoa que mais me entende também. Podemos dizer que somos unha e carne. Compartilhamos segredos e estamos sempre prontos para a briga quando alguém ousa mexer com um de nós. Foi ela quem me defendeu de todas as pessoas da escola quando, por infortúnio, fui pego dando uns amassos com Nathan, um estudante do último ano, na sala de música do colégio. Tive os piores anos da minha vida como estudante por causa disso.

Minha história foi além dos muros da Saint-James. E quando eu me dei conta, até os alunos riquinhos e mimados do colégio interno que ficava no mesmo quarteirão estavam sabendo. Fui forçado a sair do armário e a enfrentar meus pais quando eles foram chamados pela diretoria.

Naquela época o sobrenome Park não possuía tanto prestígio como hoje. Meu pai reergueu o sobrenome da família depois que meu avô se afundou em dívidas se metendo com gente pesada na Coreia. Então, como explicar para pais coreanos extremamente tradicionais que seu filho de dezesseis anos é gay, e que toda a escola sabia disso porque ele estava aos beijos com outro cara dentro de uma sala de aula?

Fácil não foi, mas eu enfrentei e Solar tem grande mérito nisso. Não fosse ela, meus dias de estudante colegial teriam sido ainda mais insuportáveis e talvez eu não tivesse a força que tenho hoje. Ela, sim, nasceu para advogar. Nunca vi pessoa mais justa e fiel a seus instintos quanto ela. Na escola, ela organizava debates e montava clubes LGBTQIAPN+ dando espaço para as pessoas serem elas mesmas e encontrarem apoio uns nos outros. Algumas de suas iniciativas geraram frutos incríveis como ONG'S e Associações voltadas para a comunidade e são até premiados hoje em dia. Solar sempre foi uma garota prodígio. Meus pais odiavam que ela se metesse nesses assuntos, mas graças a ela, pude ser eu mesmo, e por isso sou um completo molenga quando se trata de Solar.

Aos dezoito anos dei a segunda maior decepção da vida de meus pais. Um ano antes, Solar havia sido aprovada em Harvard para cursar Direito. Já na minha vez, enquanto viam que os filhos de seus amigos já estavam recebendo suas respostas de Harvard, Yale e Stanford, eu continuava sem receber uma carta de aprovação sequer. Então eles me puseram contra a parede e mais uma vez, antes que eu estivesse pronto, fui forçado a falar que não tinha uma carta de Harvard, mas, sim, de Julliard.

Eu fui aceito na Universidade mais renomada entre artistas e a mais difícil também. Passei horas ensaiando no pequeno estúdio de dança que havia no bairro, fora os momentos em que eu me dediquei sozinho e escondido dos meus pais. Fui dormir tantas vezes já na hora de levantar que as olheiras em meus olhos já eram profundas, e sempre justificava dizendo que eram pelas horas dedicadas aos estudos com assuntos do colégio. Mas eu entrei, iria cursar Dança Contemporânea, e um dia teria meu próprio estúdio de dança, quer eles queiram ou não.

Eu sempre amei dançar, o que era claro para qualquer um que observasse minha trajetória escolar. Sempre fui excelente em matérias ligadas à arte. O aluno destaque do teatro, da aula de artes visuais, até das aulas de música que eu fazia só para mostrar para Nathan que eu era bom em tudo, que eu era o melhor, e claro, para aproveitar a única sala que não tinha uso todas às sextas-feiras após às 16h no colégio.

Meus Encontros, Minhas Regras ● Jjk+PjmOnde histórias criam vida. Descubra agora