G | Dupla De Péssimas Musicistas

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De novo, se encontrava chorando. Não sabia quando havia se tornado em um bebê chorão, mas poucas coisas a faziam cair em lágrimas desde o recente término. Jisoo limpava as próprias bochechas, desejando que ninguém além de Roseanne tivesse visto aquilo, era uma grande vergonha chorar em público quando se está no terceiro ano do ensino médio, não do fundamental. Sequer sabia o porquê das lágrimas, não era pessoal com Roseanne, e tudo o que sentia por ela agora era raiva, raiva por Rosé ter acreditado em Bae Suzy e ter lhe dado literalmente um tapa na cara, e isso não era um motivo para chorar. As gotículas apenas escorriam por seu rosto, sem que quisesse e sem que conseguisse parar.

— Jisoo? — Ouviu uma voz conhecida, mas que não se recordava da dona. Era baixa, quase como um sussurro, mas podia ouvir bem agora que o corredor estava vazio, com o sinal tendo sido tocado à alguns minutos. — Sei que está aí, não é todo mundo que usa um sapato da Dior na Índigo.

Ela riu, sua risada baixa como a voz. Jisoo respirou por dois segundos, antes de se sentir segura para abrir a porta.

— Mina. — A citada lhe deu um sorriso. — Por que não é está na aula?

— Por que você não está? — Jisoo ficou quieta. — Meus motivos são privados também.

— É começo do dia e já quero ir pra casa, como uma A, isso nunca me ocorreu antes. — Comentou.

— Há uma primeira vez para tudo. — Mina lhe lançou outro sorriso. Era a primeira vez que Kim trocava mais de duas palavras com a japonesa, porque Mina não era de falar pelos cotovelos. — Isso é normal, acontece com todos.

— O que você faz quando acontece com você?

Viu um sorriso travesso nascer embaixo da pintinha de seu rosto, fazendo a coreana sorrir também. 

Myoui a guiou pela escola, por corredores com pontos cegos e lugares onde não haveriam monitores ou professores, como se já tivesse feito isso várias vezes, e com certeza fez. Quando Mina parou em uma porta desconhecida e com luzes apagadas no cômodo em que ela levava, começou a achar que seria assassinada.

— Seja bem-vinda à sala de música. — A japonesa acendeu as luzes. Seria uma sala de aula normal, se todas as cadeiras não estivessem amontoadas em um canto, deixando o espaço da sala enorme, ou não houvesse instrumentos espalhados pelo local. — É uma extracurricular esquecida pelo resto da escola, então quase nunca tem alguém.

— E como tem as chaves? — Jisoo perguntou, passando a mão por uma bateria. Depois de um tempo sem receber a resposta, virou para uma Mina com o rosto vermelho.

— Digamos que conheço alguém que vem aqui. — Ela sorriu bobo. - Vou lhe contar uma coisa, mas porque vejo que você nunca fofoca junto Jennie e Nayeon.

— Manda. —  Mina dava seus jeitos, já que não conseguia conhecer as pessoas na conversa, observava seus hábitos e manias, e assim sabia tudo sobre todos, muito mais que as duas amigas de Kim Jisoo.

— Aqui toca uma banda, que só vem nas quintas a tarde, por isso está sempre vazio. — Jisoo vinha para a escola a tarde, mas nas sextas-feiras, para o treino das líderes. — Plot twist: É a banda de Lalisa Manoban.

— Lalisa Manoban? Aquela dos Z, amiga de Park Roseanne? — Não que se importasse, mas só lembrar daquele nome fazia seu sangue ferver. Mina afirmou, começando a balançar seu corpo.

— E de Son Chaeyoung — Deu de ombros, mudando logo de assunto. - Todas elas vem aqui, junto com mais alguns Z. Eu vim para assistir uma vez apenas, depois não tive mais a oportunidade.

— Isso é uma puta descoberta. — Jisoo riu, contagiando a japonesa. — Elas só tocam nas sombras?

— Sim. A escola dá zero apoio pro talento deles, todo o dinheiro vai para os times de futebol e... — Deu uma pausa, com medo de ofender à si mesma e à Jisoo. — Para as líderes.

— Isso é bem injusto. — Kim sentiu-se culpada, mesmo que não tivesse nada a ver com a distribuição de verbas do colégio. — Ei, você sabe tocar algo?

Myoui tentou lhe ensinar a tocar o pouco de guitarra que ela mesma sabia, ambas eram uma negação, e tiveram que chegar ao ponto de procurar na internet alguma canção para aprenderem. Com risadas e alguns xingamentos da parte de Jisoo para os acordes, o tempo passou correndo por seus olhos, os sinais de troca de aula foram tocando até que a hora de ir embora chegasse. Jisoo ainda não queria estar na frente de todo mundo e muito menos talvez dar de cara com Rosé. Comentou sobre ela com Mina, e a mesma comentou sobre Son Chaeyoung, sobre serem apenas amigas quando transou com Nayeon na festa, mas que largaria tudo por ela. A japonesa segurou sua mão e a encorajou a sair da sala, de começo, não viram ninguém, mas assim que chegaram ao estacionamento, a imagem de Roseanne encostada na parede se fez presente, encarando Mina entrar no carro de Jisoo.

Depois de deixar a japonesa em casa e agradecer as horas que passaram sendo inúteis como musicistas, dirigiu até sua casa em silêncio, apenas ouvindo as canções que tocavam no rádio.

Chegar em casa depois de um péssimo dia sempre era terrível para Jisoo, que apenas deitava em sua cama e vegetava até que o dia seguinte chegasse, e só nesse seu momento, se permitia chorar. Mas, assim que chegou, seu pai estava na cozinha, junto de Rora, que lhe deu um olhar de pedido de socorro.

— Boa tarde, appa — Reverenciou, se sentando na mesa ao lado da irmã.

— Boa tarde, Soo. — Seu pai raramente a chamava assim, então estava provavelmente de bom humor naquela rara tarde em casa. —Estava esperando que chegasse, preciso de você.

— Para o que precisa?

— O dia dos namorados é em breve... E isso anda me dando dor de cabeça. Nenhuma modelo da empresa aceita beijar um outro modelo, então não teria como fazermos uma revista de especial desse dia. — Seu pai estava sempre falando de negócios, de problemas no trabalho ou algo relacionado a isso, então quando Jisoo queria dizer algo a ele, falava disso em meio ao assunto. — Você poderia chamar aquele garoto, seu namorado, para fazer uma sessão, não? Formam um casal bonito.

Ainda havia a questão de seu término recente, que o universo insistia em lembrá-la sempre que estava prestes a esquecer.

— Haein e eu terminamos, appa.

— Oh. — Ele piscou algumas vezes, provavelmente procurando o que dizer. Seu pai não era carinhoso e muito menos atencioso, mas demonstrava da maneira que conseguia. — Será difícil encontrar outro garoto que seja bonito como você.

— Seria mais fácil se fosse uma garota. — Ouviu Rora engasgar ao seu lado, mas ignorou. Seu pai a olhou de novo, piscou de novo e então deu de ombros.

— Tanto faz, encontre uma garota bonita, então. — Ele voltou a comer, enquanto as duas irmãs se olharam em cumplicidade.

— Pode deixar.

Durante o Alfabeto | ChaesooOnde histórias criam vida. Descubra agora