I | Meio Bobo...

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🐰

Jisoo não chorou nem um pouco naquela noite, mas desabou com o pequeno discurso e ficou alguns minutos a mais sentada com as costas na porta, mesmo depois de Roseanne ter ido embora. Não dormiu muito bem, mas seu cansaço a fez sentir um sono que não sentia havia meses, e acordou apenas no outro dia, num sábado ensolarado e barulhento, ouvindo algumas crianças de sua rua brincarem. Nem sua irmã e nem seu pai estavam em casa, então decidiu tirar o dia apenas para si, visitar sua mãe, andar no parque com Dalgom, receber elogios de crianças aleatórias e refletir. O plano perfeito.

Seria tudo mil maravilhas, se não houvesse uma certa loira, alta e irritante convivendo no mesmo planeta que si.

@roses_are_rosie: Bom dia, Kim.
@roses_are_rosie: Você vai passear com a bola de pelo que você chama de cachorro, não é? Vou acompanhar vocês.
@roses_are_rosie: Me desculpe, Kim, por favor :(

A coreana soltou um sorriso bobo, não acreditando que aquele sentimento dentro de si estava acontecendo.

@sooyaaa__: Não vai não.

@roses_are_rosie: Vou sim, o parque é público.
@roses_are_rosie: Tarde demais, Jisoo, já, já chego em sua casa.

Jisoo lembrou-se vagamente de como seu primeiro nome soava nos lábios da australiana e de que ela só o usava em situações que queria algo a mais, e rapidamente voltou ao seu quarto de novo, decidindo trocar a inicial roupa que estava para por algo mais apresentável para Roseanne. Estava muito ferrada, criando sentimentos pela garota qual mais odiava com reciprocidade. Logo, a campainha foi escutada e seu corpo tremeu. Continuar zangada com ela seria difícil durante o dia, principalmente porque sabia que a loira tentaria a reconquistar a todo momento.

— Eu falei que não queria a merda da sua companhia. — Jisoo ignorou o sorriso radiante da mais nova, e ainda mais o sorriso falhando em seu rosto.

— Bom dia para você também, Jisoo. — Ouvir seu nome pessoalmente a fazia ter espasmos, e se esforçou para não demonstrar o que aquilo havia causado. — Este é o Hank. 

Roseanne ignorou totalmente a ofensa vindo da mais velha e apontou com a cabeça para o cachorro de porte médio, sentado ao lado dela e sendo segurado por uma guia, ele tinha pelagem branca, mas com grandes manchas caramelo pelo corpo. Pareceu sorrir para Jisoo quando ela o observou.

— Adorável, ao contrário de você. — Falou. — Agora, por que está aqui?

— Eu já lhe pedi desculpas. — Rosé bateu os pés, vendo a coreana puxar Dalgom para fora, também com guia.

— Desculpas não resolvem muita coisa, Chaeyoung — Afirmou, olhando em seus olhos impacientes, e então, saiu andando com Roseanne correndo atrás de si. — Eu preciso ver minha mãe antes, só depois vou ao parque.

— Sua mãe? — A expressão da mais nova se tornou quase cômica quando ela parou, no meio do caminho, a face em uma espécie de desespero e surpresa. Apenas os próximos à Jisoo sabiam sobre a morte de sua mãe, e Rosé com certeza não era um deles, mas Kim decidiu que deixar a australiana nervosa era engraçado. A menor parou em frente a ela e assentiu. — Claro.

Simplista, Jisoo voltou seu caminho, podendo aproveitar a visão do outono em sua frente, sentindo o ar gélido por seus braços e as folhas secas amassarem sob seus pés, e sorriu. Sorriu por conseguir presenciar de perto, depois de tanto tempo, a bela paisagem que o outono trazia para si, e acreditava que havia os dedos de sua falecida mãe nisso, fazendo as folhas coloridas cairem em si e em Dalgom, apenas para que se lembrasse dela. Claro, aquele passeio seria bem mais emocionado se não houvesse uma Rosseanne Park atrás de si, que a tirou de seus devaneios com sua risada - agora já não tão irritante - e tirou uma folha laranjada de seus cabelos.

Quando a mais velha parou em frente ao cemitério, pode ver o queixo de Rosé quase cair. Ela foi rápida em pensar.

— Eu posso ficar aqui com Dalgom. — Disse em compreensão, já segurando a guia do pequeno cachorro. — Vá, me dê ele.

Dando um último sorriso agradecido para a loira, Jisoo entrou pelos portões do lugar. Abaixou a cabeça durante o percurso, sabia que, se visse as fotos dos outros falecidos e pequenos túmulos, iria começar a chorar pra caramba.

Não foi difícil de achar o túmulo de sua mãe, de quartzo branco e com uma enorme cruz acima, seu nome com letras douradas e uma foto da mulher sorridente. Havia apenas uma flor, uma rosa branca, que Jisoo sabia ser de sua tia, a única que também visitava frequentemente o túmulo da mulher, mas algo a chamou a atenção. As folhas caíram em cima do quartzo, justo as mais bonitas que já viu, e novamente, sentiu que era obra de sua mãe.

— Trouxe uma para você, mas pelo visto, você já tem as mais belas. — Jisoo começou, como se alguém fosse respondê-la. Deixou a folha que Park retirou de seu cabelo em cima da superfície branca, cruzando os braços em seguida. O frio bateu em sua bele exposta pela regata branca, balançando o grande vácuo entre suas pernas e o pano da calça jogger verde. — Tem sido mais fácil do que eu imaginei, omma, difícil mesmo está sendo o que sequer tinha cogitado. Appa ainda é frio, como sempre, mas anda muito mais distante e nunca está em casa, só pensa em trabalho e isso anda afetando Rora. Oh, Aurora... Ela está linda, omma, tão grande! Ainda não consegue vir te ver, mas sei que em breve ela ficará melhor. Seus amigos a ajudam, assim como os meus, e acho que até nossas belas amizades também tem dedos seus no meio. Appa não dorme em casa, então Dalgom anda dormindo em seu travesseiro, espero que não se importe, ele também sente sua falta.

— Dalgom! — Como se o universo ouvisse atentamente o que dizia, o pequeno apareceu, arrastando Roseanne, que gritava seu nome. Jisoo limpou as lágrimas que caíram. — Desculpe, eu atrapalhei... É que ele ficou agitado, e juro que o ouvi latindo seu nome.

A mais velha sorriu, o rosto ainda vermelho.

— Tudo bem, eu já estava terminando. — Limpou o rosto mais uma vez, percebendo o olhar curioso de Rosé em si. — Eu te apresentaria, mas me parece meio bobo...

— Bobo? Claro que não! — Ela se virou e fez uma reverência ao túmulo. — Bom dia, Srta. Kim, eu sou Roseanne Park, a maior inimiga da sua filha, talvez tenha ouvido falar de mim...

— Chaeyoung... — Colocou a mão em seu ombro, a citada pareceu não ligar.

— Nasci na Austrália, mas vim para cá pequena. Venho de família grande, cinco filhos, contando Taeyang, o único homem, e...

— Chaeng, não precisa. — Então, o rosto da loira petrificou. Ela virou o pescoço para Jisoo, sorridente.

— "Chaeng"? — Kim revirou os olhos, de repente, com vergonha de estar em frente à sua mãe. Escondeu com o cabelo seu rosto ruborizado.

— Já chega, vamos. — Quase empurrou a australiana até a saída, mesma que ficava comentando sobre o apelido e brincando com sua cara.

A presença de Park Roseanne era insuportável.

Durante o Alfabeto | ChaesooOnde histórias criam vida. Descubra agora