M | Nada Era Como Ela Pensava

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🐰

Quinta-feira. De A à Z, todos na Índigo amavam uma dessas, tinham as melhores aulas e sempre as melhores comidas na cantina, mas Jisoo estava odiando a sua. Não estava na escola, estava em uma sala fechada, com desenhos de crianças colados nas paredes e livros por todos os cantos. Psicólogo.

A tarde com Rosseanne foi mais que boa, e logo que seu pai foi embora, chamou Rosé para dormir em sua casa. Ela aceitou, mesmo com receio, pois queria estar com Jisoo até que ela se sentisse segura. Kim já estava melhor, mas precisava de mais tempo com a loira. Não ocorreu nada durante a noite, Jisoo apenas aproveitou a respiração da australiana em seu pescoço, enquanto se esforçava para dormir. Ao acordarem, comeram algo e Rosé foi embora, mas não antes de deixar um beijo nas bochechas da mais velha.

Quando contou ao seu pai o que aconteceu, foi a primeira noite em meses em que ele dormia em casa, e conseguiu o ouvir chorar quase a noite toda. Jisoo não queria ser esse peso, justamente por isso não queria contar, mas uma promessa de dedinho não pode ser descumprida. Faltou a semana inteira na escola, seu pai sabia que ainda não estava em condições disso, recebeu milhares de mensagens preocupadas mas não respondeu nenhuma.

Teve uma consulta no ginecologista, e por sua alegria, não estava grávida. A polícia perguntou sobre os detalhes, Kim ainda não tinha coragem de contar quem foi, então presumiram que era alguém conhecido, por isso o psicólogo.

— Bom dia, Srta. Kim. — Ou psicóloga. — Desculpe a demora, eu me chamo Bae Joohyun, mas todos me conhecem como Irene. Você pode me chamar dessa maneira. E você?

— Kim Jisoo. — Respondeu, como se não soubesse que a mulher já tinha uma ficha inteira de informações sobre si. — Pode me chamar apenas de Jisoo, ou Sooya, é como a maioria de meus conhecidos me chamam.

— A maioria?

— É, bem... — A frase se perdeu em perfeitos cabelos loiros. — Há uma garota que me chama de Kim, apenas para me irritar. Eu a odeio muito.

Irene cerrou os olhos para ela, pois o sorriso em seu rosto não combinava nada com as palavras ditas.

— É sua amiga? — Sorriu, mas Jisoo negou com a cabeça.

— Não. — Riu. — Não conseguiríamos passar duas horas sendo amigas.

— Mas você tem amigos, certo? — Jisoo assentiu. — Conte-me sobre eles.

Kim Jisoo perdeu horas de seu dia apenas falando sobre seu círculo de amizades, sobre os dois famosos grupos de populares e que era difícil em sua escola que um A e um Z fossem amigos. Nuna imaginou que pudesse ficar duas horas apenas falando de sua vida, do quanto amava os seus amigos e professores chatos.

Sua vida acadêmica rendeu na primeira sessão, Jisoo pensou que não faria mal contar sobre sua vida àquela mulher, já que a veria mais vezes e ela estava ali apenas para a ouvir fazer isso. Irene se despediu dizendo para que pedisse que seus amigos próximos fizessem um desenho de como viam ela.

— Até mais, Soo-ya!

— Tchau, Sra. Bae. — Se apressou em corrigir. — Irene unnie.

A mulher tão bonita sorriu e deu um aceno com a cabeça para o pai de Jisoo e para Jennie ao lado dele, que devolveram o aceno e se levantaram. Kim não podia acreditar que ele havia ficado ali por todo aquele tempo, deixado todos os seus deveres de lado para esperar sua filha e levá-la para casa protegida em suas próprias asas.

— Vamos para casa? — Seu pai ainda estava meio sem jeito de falar com ela, mas tentava.

Jisoo olhou o relógio, em seguida para Jennie.

— Nos leve na escola? Appa.

Hyunsuk ficou na retaguarda em relação a deixar sua filha sozinha no mesmo lugar em que aquilo aconteceu, mas ela parecia tão feliz que resolveu ceder. Falou para Jennie cuidar dela, e a mesma prometeu como se dependesse de sua vida.

— Por que estamos aqui em uma quinta-feira a tarde? — A Kim mais nova perguntou.

— Você verá.

Conforme andavam pelos corredores, podia-se escutar a bateria e as guitarras, confundindo a cabeça de Jennie. Assim que chegaram perto da porta, a música acabou e apenas um aplauso foi ouvido. Chegou com seu corpo na porta, o apoiando no batente.

Os olhos de Rosé brilharam no encontro com os seus.

— Kim.

Todos olharam para Jisoo ao mesmo tempo quando a loira falou.

— Chaeyoung.

— Soo-ya! — Viu Mina ali, e só assim pode tirar a atenção da australiana alta no meio da sala, recebendo o abraço da japonesa. — Que bom que veio.

— Trouxe companhia. — Apontou para atrás de si com a cabeça. Assim, Jennie entrou na sala, julgando o local com sua minúscula bolsa nos braços.

— Isso aqui existe desde quando?

— Ah, pronto. — Uma garota ali revirou os olhos, se levantando de sua bateria. — Os A vão passar a frequentar aqui? Não quero nossa sala cheia de mimadinhas.

— Tzuyu! — Lisa repreendeu.

— Cala a boca, garota. — Jennie jogou um lápis na taiwanesa. Provavelmente já se conheciam, mas com certeza não se gostavam. — Vai fumar uma maconha.

— Pois eu vou. — Mostrou a língua, antes de ir até uma janela e a abrir, bolando uma.

— Maconheira. — Ouviu por uma rara vez a voz da garotinha que sempre andava com Rosé e Lalisa. Baixa e cheia de tatuagens, ela revirou os olhos quando também recebeu um mostrar de língua.

— Aí, vocês tocam bem. — Jennie sentou ao lado de Minari, se acostumando com a sala. — Por que nunca tocaram em uma festa?

— Ninguém sabe sobre essa banda. — Lisa finalmente falou, dando um olhar repreensivo para Mina em seguida. — Ou melhor, ninguém sabia.

— Eu precisava mostrar vocês para mais gente, vocês tem é que me agradecer! — Jisoo e Jennie perceberam o quanto Myoui falava diferente naquele ambiente, estava muito mais confortável do que na mesa dos populares A.

— É verdade. — Ela respondeu, se ajoelhando. — Obrigada, Myoui Mina.

Jisoo riu, mas logo percebeu um olhar sobre si. Um olhar já bem conhecido.

— Eu posso conseguir que sejam vistos, se quiserem. — Jennie comentava, mas a Kim não ouvia.

Gostaria de sair dali e tirar aquele sorriso mal disfarçado do rosto de Rosé. Queria estar abraçada em seu corpo assim como Mina estava fazendo com a garota baixinha, trocando olhares assim como Lisa e Jennie faziam descaradamente. Mas havia público, e com certeza Rosé não queria que fossem vistas. Era o que Jisoo pensava.

— O que acha, Chaeng? — Lisa perguntou para a garota que brincava com as pintinhas de Minari.

— Será legal tocar fora desta sala. — Dando de ombros, suspirou. — Podemos fazer isso.

— Tem razão, podemos. — Lisa deu mais um olhar para a de traços felinos, antes de se virar para seu outro lado. Rosé encarava o chão. — Mas acho que a banana está verde demais bara cair do pé de batata. Não é? Rosie.

— Ahn? É, sim, claro. — Respondeu, mas seu rosto virou confusão quando todas passaram a gargalhar.

— No que estava pensando? — A menina, que Jisoo descobriu se chamar Chaeyoung, perguntou.

Roseanne olhou rapidamente para Jisoo, mas então disfarçou, passou as mãos nos fios dourados e sacudiu a cabeça.

— Vamos dar uma pausa aqui para comer algo? — Falou, por fim, não respondendo Chaeyoung.

— Estou morta de fome. — Jennie encarou a tailandesa.

— Ai, tá bom, já chega. — Tzuyu apareceu do nada, reclamando e fazendo todas rirem

Talvez os Z fossem bem mais legais do que Jisoo pensava.

Durante o Alfabeto | ChaesooOnde histórias criam vida. Descubra agora