Q | Mesmo Em Um Cemitério.

241 33 2
                                    


🐰

Jisoo sentiu seu coração explodir, tinha quase certeza de que ele parou por um segundo, observando os olhos chorosos da loira jogada em cima de si. Em toda a sua vida, nunca recebeu uma declaração assim, e novamente, as pequenas ações de Rosé colocavam os bens materiais que já ganhou no chão.

A loira não respondeu, só sorriu e franziu a sobrancelha.

— Está falando sério? — Kim balançou a cabeça positivamente, acariciando as bochechas molhadas da garota. — É claro que sim! Ai meu Deus, sim!

Jisoo riu da reação, riu de como Rosé desproporcionalmente pulou em seu colo e deu tapinhas em seu ombro, antes de quase a sufocar em um outro abraço.

— Você não se parece com a Roseanne que derramou bebida em mim naquela festa — A menor tirou os cabelos do rosto da sua agora namorada.

— Eu definitivamente não sou. — Ela riu. — Agora eu sou a Roseanne totalmente apaixonada por Kim Jisoo.

— Tudo bem, Chaeng, eu entendi que você me ama. — A loira sorriu e deixou mais um beijo em seus lábios.

— Mas eu te amo. — Repetiu. — Kim, como as coisas serão agora?

— Vamos sair daqui gritando que agora estamos em um compromisso. — Rosé riu.

— Não mesmo. Essas pessoas são más, vai que elas saem por aí falando que você sequer se abalou por você sabe quem e que fez para chamar a atenção. — Jisoo revirou os olhos, mas sabia que a garota estava certa.

— Isso foi uma péssima referência à Harry Potter, mas você tem razão. — Tombou a cabeça para o lado. — Podemos, então... Contar para nossa família e... Amigos próximos?

— Pode ser. — Respondeu. — Oh, Mina é sua amiga próxima? Porque eu tenho a impressão de que ela ainda me odeia um tiquinho.

— Ela vai com certeza saber de nós. — Rosé fez uma careta. — É birra, daqui uns setenta anos ela deixa disso.

Continuaram a estabelecer regras e esclarecer pontos sobre o relacionamento, até que o sinal tocasse.

As duas saíram da sala da biblioteca e chegaram na sala de aula juntas, na tentativa de fazer o colégio se acostumar  com a aproximação. Seus colegas de classe olharam torto, mas não fizeram comentários, a não ser os tais amigos próximos.

— Ei, florzinha. — Jihyo lhe cumprimentou assim que chegou, duas garotas curiosas nas carteiras de trás. Jisoo sabia que a de olhos arredondados queria saber o que havia acontecido, mas que nunca perguntaria diretamente. Park Jihyo era uma amiga próxima?

— Olá, Hyo. — A coreana sentou-se ao lado dela, sem dizer nada. 

— Então, unnie... — Nayeon não se aguentou.

Kim pensou no que responderia antes mesmo que a Im terminasse a frase, aproveitou a demora para recalcular. Tinha medo de suas reações, mais que tudo, tinha medo de suas rejeições.

— Estamos juntas. Caso fosse isso que ia perguntar... — Não virou para encarar as amigas, mas viu pelo canto dos olhos a Park sorrir orgulhosamente e trocar olhares com a Im e Jennie. Elas não disseram mais nada, o que tranquilizou de uma maneira os pensamentos ansiosos de Jisoo.

Jihyo era uma amiga próxima.

A aula seguiu-se pelo resto do horário letivo, o céu estava se preparando para descarregar suas gotas de água e as pessoas fechavam suas janelas. Era o último dia de outono, as folhas secas voavam e caíam por aí. Era o dia que visitaria novamente sua mãe.

Ela disse que Rosé não precisaria ir, mas sua nova namorada queria passar tempo consigo, mesmo que seja em um cemitério, ela mesma disse. Ali, apoiadas no túmulo da senhora Kim, Jisoo viu que ela não parecia sentir nem um pouco de medo.

— Você acha que sua mãe gostou de mim? — Rosé lhe sussurrou do nada, enquanto comia um sanduíche.

— Ela teria gostado, Chaeyoung. — Foi realista. — Agora quem precisa superar a morte dela é você.

— Oh, não sei se consigo. — Jisoo caiu em gargalhadas, gostava da maneira como a loira se esforçava para fazê-la sorrir. Perceber isso foi um dos motivos pelo qual se apaixonou. Kim limpou os cantos dos lábios dela e, depois de alguns segundos de uma Rosé pensativa, a mesma quebrou o silêncio novamente. — Você nunca me falou muito sobre ela.

— Bom, você não era a pessoa em que eu mais confiava no mundo. — Ambas riram de seus pensamentos passados. — Na verdade, eu acho que era ela. Minha mãe era incrível, Chaeng, não é atoa que conseguiu conquistar e amolecer até mesmo o coração frio do meu pai.

— Se lembra de bastantes coisas?

— Algumas. — Jisoo sorriu nostálgica, observando o quartzo branco. — Ela cantava para nós dormimos, mas eu nunca entendia nada pois eram canções em inglês. Eu não tive coragem de escutá-las novamente. Ela sempre encorajava nossa imaginação, me lembro vagamente de nós correndo pela sala com asas de fada falsas nas costas.

—  É uma boa memória de infância — Kim viu um sorriso bobo nos lábios tão beijáveis de Roseanne.

— E quanto as suas memórias de infância? — Ela pareceu pensar, seu sorriso se desfazendo aos poucos. — Não precisa me contar...

— Não, está tudo bem. — Ela coçou a nuca. — É só que... Acho que não tenho muitas memórias com meus pais. Não juntos. Bem, eu passava horas na garagem tocando guitarra com meu pai, ás vezes dançava com minha mãe, mas... Quando não era individual, eu estava sempre na casa de algum primo ou de amigos.

— Eles são separados? — Jisoo perguntou inocentemente, não se lembrava de ter visto a mãe de Rosé quando foi em sua casa.

— Não. — Ela encarava o nada. — Bem, não eram.

— Ah, sinto muito.

— Já disse, está tudo bem. — Ela garantiu e deu de ombros, suspirando como se finalmente tivesse tirado algo de seus ombros. — É melhor viver com pais separados, do que com os que deveriam estar, mas não estão.

— E logo você seguirá sua própria vida, não?

Ela apenas assentiu, sorrindo para a Kim. Sua namorada inclinou-se para ver a foto de sua mãe.

— Ela era tão linda quanto você. — Chegou em sua conclusão, levantando o torso e abraçando Jisoo por trás. 

— Obrigada. — Seu coração derreteu. — Dizem que somos parecidas, na verdade. Em todos os aspectos.

— Ela era baixinha e irritante? — Rosé levou um tapa. — Rainha e brilhante, eu quis dizer.

— Idiota. — Jisoo virou-se de frente para os tão amados cabelos dourados. — Ela teria te amado. 

Rosé riu um pouco, antes de ser interrompida pelo selar de seus lábios. Foi curto, porque logo Jisoo passou a distribuir vários selares por seu rosto. Não era a cena mais linda do mundo, afinal, ainda estavam em um cemitério, mas nada disso as importava, não quando estavam apenas elas - e mais uns corpos mortos - juntas e felizes.

A coreana sabia que estaria prestes a receber mais um "eu te amo", mas a frase foi interrompida pelo estrondo de um trovão, e no mesmo momento em que as gotas de chuva começaram a cair, ouviu uma voz chorosa e muito bem conhecida. 

— Unnie, eu sinto saudades dela. 

Durante o Alfabeto | ChaesooOnde histórias criam vida. Descubra agora