decem

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scott mccall

Faz um pouco mais um mês que venho trazendo Isaac em casa, mas não o deixo na porta, ele insistiu que o deixasse na esquina de casa porque, segundo ele, a vizinhança costuma falar mais do que realmente viu e eu sei que isso pode comprometer a integridade do meu ômega, também faz pouco mais de um mês não vejo o meu pequeno Jordan. Talvez seja um grande atrevimento chamar o filhote de meu, mas sinto em cada parte do meu ser que ele é meu, assim como é do meu ômega e nada mudaria isso.

Certa vez em uma das caronas ele me revelou sobre seu passado, foi mais acidental do que outra coisa.

— Eu tinha uns dezesseis anos quando conheci o
Kyle, ele era amigo do meu pai.

Lembro de segurar firme no volante para manter minha sanidade com cada palavra e a dor por trás delas.

— Meu pai perdeu uma aposta e então estou aqui.

Quando se gosta de alguém só queremos o melhor para esta pessoa, quando temos nossos filhos somos os responsáveis por eles para os manter em segurança e nunca os tratar como um objeto de pouco valor.

Isaac não me disse muito sobre sua vida, talvez prefira não falar sobre o que parece ser doloroso demais para si, mas quero fazer parte dela, quero cuidar de cada parte machucada e quebrada de seu coração.

Recentemente pedi para que um dos meus homens ficasse de olho em Kyle Blackwood, pedi para mandarem um relatório completo de sua vida, desde quando usava fraldas até agora e o que eu li foi muito desagradável. O miserável vive em jogatinas, bebe como um porco, além de viver em meio às prostitutas imundas, também vi que ele tem outros filhos mais velhos com pessoas diferentes.

O mais velho é um alfa também, o rapaz deve ter quinze anos, no máximo, seus outros filhos são duas betas, gêmeas, de oito anos. Claro que ele não dá o mínimo de assistência a nenhum deles e talvez seja até melhor o manter longe.

Vi também sobre suas dívidas por conta de apostas e bebidas, além da ficha criminal com passagem apenas por brigas enquanto estava embriagado, infelizmente nada que o mandasse para longe de vez. Pelo menos, não por enquanto.

•••

isaac lahey

Esses últimos dias venho recebendo carona de Scott, ele sempre é atencioso e muito gentil, pergunta pelo meu filhote e às vezes parece sentir saudade dele, conversar com ele parece natural como se nos conhecêssemos a temos, além do cheiro dele, o cheiro tão marcante e viril me traz conforto e segurança. Certa vez o alfa até mesmo se ofereceu para ficar com Jordan novamente, só que não quero abusar da sua boa vontade e apenas dei meu jeito de o deixar em casa.

Hoje eu havia recebido meu salário, por isso o alfinha e eu fomos dar um passeio neste fim de tarde.

A pracinha do quarteirão é feia e mal cuidada, porém é o único lugar onde se pode ver crianças brincando de maneira livre. Não deixei de pensar que em breve seria meu Jordan a correr por ali fazendo amiguinhos e se divertindo.

— Papa! — ouvi ele dizer. — Qué! — apontou para o algodão doce.

Ponderei se lhe daria ou não tanto açúcar, mas no fim sei que não faria mal apenas uma vez e também acho que ele merece um pouco de divertimento fora das paredes daquela casa.

— Tudo bem, vamos lá.

Fomos até o beta que vendia o doce. Ele era um senhor na casa dos cinquenta que volta e meia aparecia por aqui vendendo doce para as crianças e apesar de trabalhar com essa faixa etária não era um homem de feições simpáticas, na verdade era bem carrancudo e que tenho certeza de que assustava crianças menores.

Comprei um algodão doce e voltei para o banco com filhote. Lhe dei o vendo se lambuzar todo de açúcar.

Meu lobo gosta de me sabotar, gosta de criar ilusões baseadas em seus desejos, por isso não deixei de imaginar como seria se Scott estivesse aqui. Será que ele iria gostar? Ele poderia brincar com Jordan..

Tantas coisas...

Suspirei.

O tempo não demorou a passar, quando notei era noite e o movimento nas ruas começava a diminuir, então peguei meu filho e voltamos para casa. O dia tinha sido muito agradável, até agora. Kyle estava lá, sentado no sofá e visivelmente bêbado.

Quando passei pela porta seu olhar feroz se dirigiu a mim.

Apertei o bebê em meus braços por instinto quando ele se aproximou em passos tortos.

— Achou que eu não fosse descobrir sua putinha? ACHA MESMO QUE EU SOU IDIOTA? — a presença do alfa estava me subjugando, principalmente por conta da marca. — VOCÊ ME DÁ NOJO SUA CADELA IMPRESTÁVEL! ESSE TEMPO TODO ABRINDO SUAS PERNAS PARA AQUELE ALFA!

Engoli em seco.

—Na-não Kyle, não é isso! — tentei me justificar, mas ele segurou firme no meu braço aproximando nossos corpos.

Então o primeiro tapa veio. Ardeu. Por pouco não atingiu o filhote também.

O deixei no chão para que ele engatinhasse para o outro lado da sala, e assim ele fez.

— OLHE PRA MIM! — suas mãos nojentas puxaram meu cabelo. — Você não presta! E mesmo a vagabunda que seu pai disse que se tornaria!

Travei meu rosto me impedindo de derramar uma lágrima se quer.

— Eu juro. — comecei num sussurro. — Não tem ninguém!

Dessa vez ele desferiu um soco no meu rosto me fazendo cair com tudo no chão, então veio os chutes.

Cada um vinha com uma palavra de ódio acompanhando como costumava fazer, mas mesmo assim era difícil de se acostumar.

O alfa se abaixou levantando meu rosto pelo queixo, ouvi meu filhote chorar — nossos lobos eram ligados — e então vi os olhos do meu carrasco ali com um brilho divertido, mas ao mesmo tempo irritado.

— Eu sei das caronas Isaac. — disse baixo e assustador. — Eu sei que anda se encontrando com ele, não é? Aquela velha fofoqueira que toma conta dessa sua cria me falou. Caronas recorrentes... Ele anda te fodendo por caronas Isaac?

—N-não, não é isso! Eu não tô com ninguém!

—Oh? Não tá? — seu tom era zombeteiro. — Odeio mentiras Isaac, Odeio. Mas sabe o que eu mais odeio? Ver a porra do meu ômega com o cheiro de outro alfa como se fosse a porra de uma prostituta. É isso que você é? Uma prostituta barata? Se for me avise que eu faço dinheiro com você!

Acertou outro tapa no meu rosto, a essa altura já sentia o gosto ferroso na boca, meu nariz latejava e meu corpo tremia. Por mais que tentasse, não consegui conter as lágrimas pela dor, pela humilhação, pela injustiça.

Ele continuou a me agredir, dessa vez atingindo meu tronco a ponto de doer ao respirar. Se deu por satisfeito, então segurou um dos meus pulsos e me arrastou para fora de casa, literalmente me largando ali no jardim, voltou para dentro e em menos de um minuto estava segurando o meu filhote — este que chorava ainda mais — de qualquer jeito. Praticamente o atirou em mim.

— Vá atrás do alfa que anda lhe comendo e peça abrigo porque na minha casa puta não fica.

A porta foi fechada com brutalidade. Me levantei gemendo de dor junto com Jordan que abraçava meu pescoço como toda força que tinha em seu corpinho.

Comecei a andar sem saber para onde ir.

O tempo já estava esfriando e logo iria chover.

Então eu me vi ali machucado, sozinho e com uma criança pequena nos braços sem ter aonde ir.

𝐡𝐞𝐚𝐫𝐭 𝐨𝐟 𝐠𝐥𝐚𝐬𝐬 › 𝐬𝐜𝐢𝐬𝐚𝐚𝐜Onde histórias criam vida. Descubra agora