duodecim

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scott mccall

O som da porta batendo foi alto o suficiente para chamar atenção dos dois na entrada da casa, pouco me importei com as gotas de chuva e lama nas minhas botas.

A única coisa que eu queria eram resposta.

O alfa foi o primeiro a me olhar, talvez pelos meus feromônios que estavam mais fortes do que de costume e isso incomodava qualquer um em seu território. Ao lado da pequena casa pude ver da janela uma senhora carrancuda, ela observava tudo o que acontecia aqui fora.

Cheguei próximo a eles.

— Quem é você? — pude sentir o cheiro de álcool vindo dele, era nojento.

— Onde está Isaac Lahey? — perguntei curto e grosso.

Pensei que ao perguntar pelo ômega sua reação fosse violenta, ofensiva e que partiria para cima de mim, todavia, não foi o que aconteceu. Ele sorriu, mas não parecia feliz, surpreso talvez. Depois, acho que pelo álcool, começou a gargalhar.

— Então é você!

— Onde ele está?

— Eu sei lá. — deu de ombros. — Mandei aquela puta embora.

Não percebi quando aconteceu, mas logo eu já estava o segurando pela gola da camisa sacudindo seu corpo e rosnando enfurecido.

O bêbado riu mais uma vez.

— Não fale assim do meu ômega.

— Seu? Eu marquei aquele desgraçado! Ele ficava debaixo do meu teto! Comia a minha comida e ainda tive de sustentar aquela cria que ele teve!

Rosnei antes de meu punho ir de encontro ao rosto nojento do alfa. Uma, duas, três, quatro vezes, o suficiente para fazer seu nariz quebrar e partir a boca.

Não era o bastante para descontar toda a minha raiva, talvez se eu arrancasse sua pele devagar enquanto saboreio seus gritos de desespero.

— Onde. Está. O. Isaac? — perguntei pausadamente.

— Não sei. — disse com a voz fraca. — Ele saiu mais cedo.

— Onde?

— Não sei.

Soquei mais uma vez, o alfa caiu de joelhos, então chutei sua costela e o ouvi arfar de dor.

— ONDE?

— Não sei. Não sei. Não sei.

Me afastei do corpo caído e entrei na casa pequena. Pude sentir seu cheiro por toda parte, fraco, mas ainda presente, entrei no seu quarto olhando para a cama com lençóis bagunçados.

O alfa e a ômega impregnaram tudo com cheiro de sexo e suas essências terríveis, o cômodo era modesto como toda a casa, fui até seu armário separando algumas peças, depois fui até o quarto ao lado que pertencia ao filhote. Este era sem dúvidas o lugar mais confortável daqui, dava pra notar que Isaac fez todo o possível para deixar aconchegante, do jeitinho que deve ser.

Sai com uma mochila pequena, seria o suficiente para um dia, depois eu compraria tudo novo para eles. Estava de saída quando fui abordado.

— Ei, garotão! — ouvi a voz da ômega que estava acompanhando aquele verme. — Sabe que eu sempre gostei de homens assim? — arqueei minhas sobrancelhas em confusão e descrença. — Posso te fazer bem feliz essa noite. — foi se aproximando. — Não vai se arrepender.

— Tsc. — continuei meu percurso até o carro.

Seria uma longa noite até encontrar Isaac, o pouco que sei do ômega é que não tem família na cidade, muito menos amigos, também não tem celular ou qualquer outro meio que possa se comunicar. Seriam coisas que terei de providenciar o quanto antes.

isaac lahey

Quando amanheceu pude perceber que fiquei praticamente toda a noite em claro. Meu filhote dormia tranquilamente ao meu lado num emaranhado de lençóis quentinhos e fofos, observei seu rostinho claro com bochechinhas rubras, seu nariz pequeno e redondo como o meu e os lábios finos, eu faria qualquer coisa por ele, fosse ir embora para o mais longe possível de Kyle, ao ficar debaixo do mesmo teto que aquele homem desde que isso signifique que meu bebê estará seguro ao meu lado.

Essa noite eu tive sorte, talvez finalmente a Lua tenha se compadecido comigo e colocou Kira no meu caminho, mas ainda me sinto horrível por precisar tanto da ajuda de terceiros. Me sinto incapaz de cuidar de mim e do meu filhote, tudo o que eu queria era segurança.

Um cheiro bom me tirou da cama me guiando até a cozinha, lá encontrei Kira tirando mais biscoitinhos do forno, ela parecia muito alegre pelo sorriso ostentado.

— Bom dia Isaac! Venha, sente! — queria acordar com aquele bom humor também. — Fiz biscoitinhos de baunilha e tem chá de morango.

— Bom dia. — respondi me sentando à mesa.

— O seu filhote ainda dorme?

— É, ele parece gostar da cama.

— Bom. — sentou à minha frente com a bandeja de biscoitos, havia bolo também e frutas. — Tomei a liberdade de conversar com um amigo meu sobre seu caso, claro não disse seu nome, só perguntei sobre medidas legais e esse tipo de coisa. — assenti. — E pela lei o alfa que te marcou tem direito sobre você e sobre o filhote, infelizmente. Eu já sabia e imagino que você também. — assenti mais uma vez. — Porém vocês não são casados legalmente, para que ele não tenha esse direito você teria de se submeter a uma série de exames e alguns deles posso dizer que são bem invasivos, mas se puder provar que a marca é fraca e que você, biologicamente consegue se manter saudável longe dele então você pode se considerar livre, porém também tem o filhote que é bem novo e dependente de você por ser o pai Ômega e do pai alfa, para ter uma separação total o bebê também seria submetido a exames, mas Isaac. — cruzou os braços por cima da mesa. — Dificilmente um juiz os afastaria. É mais provável que mantenha visitas regulares.

— Então eu só estaria livre se Kyle estivesse... estivesse morto?

O ômega a minha frente me analisou então assentiu calado.

— Entendo que seja difícil, muitos rezam para que isso aconteça com seus parceiros abusivos. — ela ficou séria — Só não faça nada que possa te prejudicar.

Arregalei os meus olhos em desespero.

— E-eu, eu não faria isso! Eu nunca machucaria ninguém! — tentei me explicar.

O que é verdade.

Odeio o Kyle? Sim. Gostaria que ele sumisse? Também, mas não tenho coragem para se quer levantar a voz, quem dirá cometer um crime tão bárbaro como assassinato. Não vou negar que em certos momentos pensei em envenenar sua comida, mas na mesma velocidade que este pensamento veio, ele se foi.

Não posso fazer isso, o que me resta é torcer para que alguém venha lhe cobrar alguma coisa, ou que ele padeça por alguma enfermidade.

Fiquei ali até perto da hora do almoço, Kira me deu seu número para caso precise de sua ajuda mais uma vez.

Agradeci por tudo, ela jamais imaginaria o quão importante foi para mim, para nós dois, se não fosse por ele Jordan teria passado frio, fome..

Ao sair pude notar que de fato estava longe de casa, andar carregando uma criança seria cansativo, mas necessário visto que não tinha dinheiro aqui comigo para pagar um transporte público — tudo ficou em casa — muito menos um táxi. Caminhei por longos minutos, talvez quase uma hora quando senti aquele cheiro tão familiar que entorpece meus sentidos.

Ele está por perto.

O meu lobo interior grunhiu agoniado em busca do alfa.

Olhei para os lados vendo apenas um parque muito bem arborizado, havia crianças brincando e famílias em piqueniques — o dia estava bastante agradável para atividades ao ar livre — continuei a observar enquanto caminhava quando o vi.

Scott corria em nossa direção, parecia cansado e usava pijama, seus cabelos estavam numa rebeldia sexy. Mal tive tempo de lhe cumprimentar, seus braços cercaram o meu filhote e eu em um abraço forte e até desesperado.

— Eu achei, eu achei vocês!

𝐡𝐞𝐚𝐫𝐭 𝐨𝐟 𝐠𝐥𝐚𝐬𝐬 › 𝐬𝐜𝐢𝐬𝐚𝐚𝐜Onde histórias criam vida. Descubra agora