027. PULSEIRA.

3.1K 365 153
                                    

Joaquín Piquerez

Bruna está sentada na minha frente com o cardápio sobre a mesa lendo as opções. Isso já me dá um alívio enorme, porque da última vez ela sacou o cardápio em frente ao rosto e eu mal conseguia vê-lá.

– Já sabe o que vai pedir ou só quer ficar me olhando mesmo? — pergunta tirando a atenção do cardápio pra me olhar.

Solo quiero seguir mirándote. (Só quero ficar te olhando mesmo.)

Ela apoia os braços em cima da mesa e me encara também. Ficamos assim por uns 5 minutos, sem dizer uma palavra.

– Licença. — um garçom chega até nossa mesa. – Já sabem o que vão pedir?

– Sei sim. — ela suspira e abre o cardápio. – Quero massa com salmão grelhado.

– Certo. — o garçom anota. – E você?

Lo mismo por favor. (O mesmo por favor.) — sorrio pro garçom que corresponde e anota.

– Você pode beber Piquerez? — Bruna me pergunta e eu confirmo com a cabeça. – Traz um vinho também, por favor.

O garçom acenti e saí.

Entonces, ¿puedo saber cuál es tu razón especial para traerme aquí? (Então, posso saber o motivo especial para me trazer aqui?)

– Nada, só queria ficar a sós com você. — franzi o cenho. – Na verdade... — solto uma risada. – Eu queria conversar com você.

¿Acerca de? (Sobre?) — afasto meus braços da mesa e Bruna faz o mesmo quando o garçom coloca o vinho e duas taças em cima dela.

– Sobre nosso passado. — arqueo a sombrancelha. – Pra ser mais específica, sobre as pessoas que nos envolvemos antes de...

¿De que nos quedemos? (De nos conhecermos?)

– Isso. — ela dá um gole no vinho que o garçom já nos serviu na taça. – Você pode começar.

¿Porque yo? (Por que eu?)

– Porque eu quero. — ela pisca e eu dou risada.

Bien. — dou um gole no vinho. – Nunca tuve una cita. Siempre he sido una persona distante. (Eu nunca namorei. Sempre fui uma pessoa desapegada.) — os olhos de Bruna estão fixos a mim, ela parece tentar me ler, vê se eu estou sendo sincero.

Confesso que esses assuntos de relacionamento sempre me deixam um pouco incomodado, afinal, não sou o tipo de cara que gosta de namorar.

Mas, de alguma forma, com ela quero que seja diferente. Cada sorriso dela mexe comigo, e me faz perceber que talvez minha aversão ao compromisso esteja prestes a ser desafiada.

Não vou mentir pra ela me fazendo de santo. Gosto de ficar com as pessoas, gosto de sair por aí e beijar na boca, gosto de viver experiências diferentes, e aqui no Brasil eu fiz muito isso. Tentei fazer da maneira mais discreta possível, não gosto de ser exposto e nunca quis ter fama de pegador.

– Achei você sincero. — Bruna fala depois de me ouvir. – Gosto disso em você.

Respiro aliviado.

Soy honesto con quien me gusta. (Sou sincero com quem gosto.)

– Eu só estou entrando nesse assunto porque, sei lá... — coça o nariz. – Eu escutei umas coisas sobre você e fiquei pensativa sobre oque a gente tem.

¿Que cosas? (Que coisas?)

– Isso que você acabou de falar. — franzi o cenho. – Que você é desapegado, e que "come quieto". — faz aspas com os dedos. – E você foi sincero comigo, dizendo que é assim mesmo. Em nenhum momento tentando passar a imagem de santinho, sabe?

𝐒𝐄𝐌 𝐀𝐌𝐎𝐑. - 𝐉𝐎𝐀𝐐𝐔Í𝐍 𝐏𝐈𝐐𝐔𝐄𝐑𝐄𝐙. Onde histórias criam vida. Descubra agora