007. ESTACIONAMENTO DO ALLIANZ.

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Joaquín Piquerez

Intervalo de um jogo que estamos perdendo, Veiga solta um:

– Você viu que a Bruna Marquezine está no camarote?

Eso es bueno, una señal de que le gusta un buen juego. (Que bom, sinal que ela gosta de um bom jogo) — termino de beber minha terceira garrafinha de água enquanto olho pra ele.

– Você é muito sonso. — ele fala rindo.

Veiga estamos perdiendo, lo que menos me preocupa es llamar la atención de Bruna ahora mismo. (Veiga a gente tá perdendo, minha menor preocupação é chamar atenção da Bruna nesse momento)

– Não seja por isso, você pode chamar atenção fazendo o gol da virada. — bate no meu ombro.

Quando penso em responder Veiga, Abel entra no vestiário chamando nossa atenção pra uma rodinha de conversa.

Ele tem um plano.

{...}

Mas o plano falhou, perdemos do mesmo jeito. Veiga ainda tentou ajudar diminuindo o placar mas terminou 2x1 pro Santos.

Estamos todos chateados, a fase do Palmeiras não é das melhores. Mas entramos nisso juntos e vamos sair juntos.

No fim do jogo a câmera do estádio ou da televisão não sei, fez questão de focar no Neymar comemorando o gol do Marcos Leonardo no camarote. Franzi o cenho e esperei que a imagem me mostrasse outra pessoa.

– Piquerez vam... — levantei a mão mandando Veiga esperar enquanto meus olhos estão atentos no telão.

Eles mostram a Bruna, a cara dela está fechada, parece incomodada com algo ou alguém, mas quando ela percebe que está passando no telão abre um sorriso.

Isso foi estranho e eu fico um pouco incomodado com isso, como se eu estivesse preocupado com seu bem estar mesmo que eu não tenha nada haver com isso.

Eu me esqueço que a Bruna é atriz e por isso pode atuar por vários momentos ou motivos em sua vida real.

Mas por que eu estou me preocupando com isso?

Bruna Marquezine

Tenho a leve sensação que eu sou o amuleto do Santos, nunca assisti um jogo deles no estádio que eles perderam.

– Acho que nossa social vai ser cancelada. — Sasha fala pra mim.

– Por que? — pergunto enquanto prendo meu cabelo.

– Porque era de um dos jogadores do Palmeiras, mas como eles perderam, não deve ter. — Sasha me responde. – Né amor? — cutuca o marido.

– O que? — ele está possesso, xingou uma tal de Leila o jogo inteiro.

– Não deve ter a social mais né!?

– Provavelmente não. — levanta da cadeira. – Mas eu levo vocês pra jantar se quiser.

– A gente aceita. — Sasha responde por mim.

– Eu não aceito não. — me fuzila com os olhos. – Com todo respeito João, mas eu suei tanto nesse camarote que agora eu só quero um banho. 

– Nesse calor um banho faz bem mesmo. — Neymar se intromete, mas agora ele está no mesmo camarote que o meu.

Ignoro o que ele fala.

– Poxa Bubu, vamos com a gente. — Sasha insisti.

– Não vou atrapalhar o jantar de vocês ficando lá com cara de bunda. — os dois dão risada. – Podem ir tranquilos, eu vou embora daqui mesmo.

– A gente te leva Bruna, não tem problema nenhum. — João oferece.

– Não será necessário. — tiro meu telefone do bolso. – Vou pedir um carro por aplicativo.

– Se você quiser eu te levo. — Neymar oferece, agora ele está perto de mim como na festa da Puma.

Me afasto negando com a cabeça.

– Não precisa, eu sei me virar.

– É só uma carona Bruna. — franze o cenho.

– Mas ela não quer. — Sasha fala rindo com os olhos tentando disfarçar o tom raivoso que ela demonstrou ao falar. – Ela vai embora com um amigo.

– Eu vou? — pergunto em choque e ela pisca os olhos algumas vezes. Minha ficha demora a cair, ela está falando do Piquerez. – É, eu vou. Tinha me esquecido, ainda bem que você lembrou. — sorrio de nervoso.

– Tem certeza? — Neymar pergunta, visivelmente incomodado.

– Tenho, tenho. Inclusive, deixa eu ir pro estacionamento antes que ele me esqueça aqui. — movimento as mãos algumas vezes. – Tchau pra vocês.

Abraço Sasha e João me despedindo deles enquanto sinto os olhos de Neymar cheios de expectativas em também receber um abraço, mas eu só falo um tchau. Me viro de costas caminhando pra longe dali enquanto  sinto minhas costas queimando, provavelmente ele está me observando até sumir do seu campo de visão.

Eu não sei onde estava com a cabeça pra concordar com essa idéia maluca da Sasha, eu não faço a mínima idéia de onde o Piquerez está e sei menos ainda como encontrá-lo. Não tenho seu telefone, não tem ninguém que eu conheço por perto, não tenho nada.
Minha única chance é ficando plantada na porta do estacionamento subterrâneo do estádio.

Várias pessoas passam por mim pra pegar seus carros, inclusive alguns param pra tirar foto comigo, outros me encaram com uma cara de dúvida, como se estivessem se perguntando o que eu faço aqui. E sinceramente nem eu sei.

O estacionamento está quase vazio, restam poucos carros, e isso me faz pensar que talvez o carro de Piquerez não esteja aqui e que talvez ele já tenha ido até embora. Abro o aplicativo do Uber no meu celular e observo a corrida dando um absurdo, saio e tento na 99 dessa vez, mas o valor é quase igual.

Não que eu seja pão dura, mas também não sou burra.

– Porra, 40 reais daqui até na minha casa?

– Mi viaje es gratis.(Minha carona é de graça). — ele fala rindo enquanto joga as chaves do carro com as mãos. – ¿Bruna me estaba esperando? ( Estava me esperando Bruna?) — Piquerez me pergunta enquanto se aproxima de mim.

– Estava quase desistindo, pensei que já estivesse ido. — ajeito a postura tirando minhas costas da parede e ele ri.

– ¿Qué sucedió? Tu amigo te dejó aquí solo?( O que aconteceu? Sua amiga te deixou aqui sozinha?). — a voz dele saí como um sopro sobre meu rosto.

Acho que estamos perto demais. Mas também não tenho pra onde fugir, estou praticamente encurralada na parede.

– Deixou, você acredita? — cruzo os braços tentando não parecer nervosa com o fato de sua respiração quente estar sobre meu rosto.  – E ainda mandou eu pegar carona com você.

– Me gustó mucho la idea de tu amigo. (Gostei bastante dessa idéia da sua amiga). — ele ri. – Pero tengo malas noticias para ti... (Mas tenho uma má notícia pra você). — seu dedo vai de encontro a pulseira do meu braço enquanto seus olhos estão fixos nos meus. – No me voy a casa. ( não estou indo pra casa).

– Você está indo aonde?

– Nos vamos a casa de un amigo mío. (Nós vamos para casa de um amigo meu). — da uma risada pelo nariz enquanto ainda mexe na minha pulseira, mas agora seus olhos descem pra minha boca.

Isso não me intimida. Na verdade me surgiu foi uma vontade de continuar, até ver onde ele vai.

– Estou surpresa que você entende tão bem o meu português. — minha voz saí suave e baixa, e agora eu também olho pra sua boca. – Estava me esforçando todo esse tempo atoa? — ele ri pelo nariz.

– No es de extrañar. (Atoa não). — curva sua cabeça um pouco mais perto do meu rosto, sua barba encosta no meu pescoço causando uma leve queimação por onde passa. – ¿Nunca has oído que los españoles abren las piernas? (Nunca escutou que o espanhol abre pernas?). — sussura no meu ouvido.

𝐒𝐄𝐌 𝐀𝐌𝐎𝐑. - 𝐉𝐎𝐀𝐐𝐔Í𝐍 𝐏𝐈𝐐𝐔𝐄𝐑𝐄𝐙. Onde histórias criam vida. Descubra agora