𝐒𝐄𝐌 𝐀𝐌𝐎𝐑. - 𝐉𝐎𝐀𝐐𝐔Í𝐍 𝐏𝐈𝐐𝐔𝐄𝐑𝐄𝐙.

049. AONDE EU DEVERIA ESTAR.

Bruna Marquezine

Amanheceu um novo dia, e com ele veio uma sensação mista de ansiedade e empolgação. Depois da conversa com Joaquín na noite anterior, uma parte de mim se sentia mais leve, como se compartilhar o peso da notícia com ele tivesse aliviado um pouco da carga que eu vinha carregando sozinha. Mas ainda havia uma preocupação que não me deixava relaxar completamente: contar pros nossos pais.

Enquanto tomava o café da manhã sozinha, depois de quase todos já terem tomado porque eu e o Piquerez acordamos tarde. Estou perdida em meus pensamentos, não pude deixar de imaginar as reações. Sabia que a notícia de que seriam avós traria alegria, mas também preocupações e, possivelmente, um turbilhão de perguntas para as quais talvez ainda não tivéssemos todas as respostas.

Joaquín entrou na cozinha, ainda meio sonolento, mas com um sorriso que iluminava o rosto. Ele se aproximou, me deu um beijo no topo da cabeça antes de servir seu próprio café.

– Buen día, amor. — sua voz era suave, repleta de carinho.

– Bom dia. — respondi, retribuindo o sorriso. Era difícil não me sentir melhor com ele por perto.

Havia algo que eu precisava dizer, uma decisão que tinha tomado durante a madrugada, enquanto o mundo ao nosso redor dormia.

– Joaquín, eu estava pensando... Sobre contar pros nossos pais. — comecei, hesitante.

Ele se sentou à mesa, sua atenção totalmente voltada para mim, indicando que estava pronto pra ouvir tudo que eu tinha a dizer.

– Eu... Eu não quero contar pra eles agora. —confessei, mordiscando o lábio inferior. – Quero dizer, claro que vamos contar, mas eu estava pensando em fazer isso de uma forma especial. Uma surpresa, sabe?

A expressão de Piquerez era de compreensão, seus olhos brilhando com uma mistura de excitação e um pouco de nervosismo pela ideia.

– ¿Una sorpresa? (Uma surpresa?) — ele repetiu, claramente curioso sobre o que eu tinha em mente.

– Sim. — eu disse, sentindo uma onda de determinação. – Quero que seja um momento memorável pra todos nós. Algo que possamos recordar com alegria nos próximos anos. Mas isso significa que precisamos manter o segredo por um pouco mais de tempo. Você acha que consegue fazer isso?

Joaquín ponderou por um momento, mas logo seu sorriso se alargou, como se a ideia o tivesse conquistado completamente.

– Claro, Bru. — disse, segurando minha mão sobre a mesa. – Si eso es lo que quieres, estoy dentro. Hagamos de esta sorpresa algo increíble. Juntos. (Se é isso que você quer, eu estou dentro. Vamos fazer dessa surpresa algo incrível. Juntos.)

Eu sorri, aliviada e feliz por ele estar ao meu lado, apoiando minhas ideias, mesmo as mais inusitadas. Sabia que o caminho à frente teria seus desafios, mas também estava repleto de momentos de alegria e união. E era isso que queríamos compartilhar com nossos pais. Não apenas a notícia da chegada de um novo membro à família, mas o amor e a cumplicidade que nos uniam.

Após concordar com o plano de fazer uma surpresa para nossos pais, Joaquín se levantou e caminhou até onde eu estava. Seu olhar carregava uma mistura de ternura e entusiasmo, que só servia pra reforçar a conexão especial que compartilhávamos.

Com uma delicadeza que era tão característica dele, colocou as mãos sobre minha barriga ainda sem sinal visível da gravidez, mas que nós sabíamos ser o começo da nossa pequena família.

– ¿Alguna vez has pensado si es un niño? (Já pensou se for um menino?) — Ele começou, com um brilho travesso nos olhos. – Voy a enseñarle a jugar al fútbol antes de que aprenda a caminar. (Vou ensinar ele a jogar futebol antes mesmo de aprender a andar.)