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O azulado, ainda de fios tingidos, foi até próximo ao camburão para certificar-se de que estava tudo bem, chamou pelo outro garoto, que apareceu bem trajado e com um sorriso infantil rotineiro, este por sua vez já estava pronto, sendo assim foi colocado em espera à alguns metros de distância do automóvel.

Khun passou a jogar o óleo que estava dentro de uma galão nos fundos, jogou por cima das roupas velhas, nos bancos próximo ao volante, na carcaça e até nas rodas. Conferiu que Baam estava distante e acendeu um fósforo, jogou-o e o fogo rapidamente se alastrou, sabia que em breve o carro poderia explodir, sendo assim garantiu o sucesso do plano lançando mais alguns outros fósforos e se afastou.

Ambos passaram a caminhar em direção às luzes da cidade, sem nem olhar para o fogaréu que tinha o dever de apagar toda e qualquer prova que os incriminasse.

O destino deles era o apartamento do "raptor", porém o rumo mudou-se um pouco durante o seguinte diálogo:

—Você está com fome? —perguntou ao se lembrar que não tinha nada de decente em sua residência para servir ao outro

—Um pouco. —respondeu timidamente, evitando falar que estava morrendo de vontade de comer alguma coisa minimamente aceitavél que não fosse aquela gororoba que serviam no bordel.

—Vamos passar no mercado então, tudo bem? —o moreno acenou positivamente com a cabeça. —Não está cansado? Vamos ter que andar um pouco mais.

—Não, está tudo bem.

—O que você acha de comer karê?

—Seria ótimo! —respondeu animado. —Eu adoraria.

Ao passo que foram chegando mais na região central o movimento de pessoas foi aumentando, e por ser uma cidade grande, mesmo a lua já estando perto do centro do céu, as luzes dentro das moradias, os postes e a agitação fazia parecer que era dia.

Os dois incomodaram-se consideravelmente, Baam, com agonia e medo da aproximação de qualquer um daqueles estranhos, sentia uma dor estranha no abdômen, bem abaixo da caixa toráxica, e não conseguia definir um nome para isso.

Ele grudou no braço do falso loiro, que correspondeu ao toque segurando sua mão com firmeza. Este por sua vez usava todo o movimento que seu globo ocular conseguisse fazer para garantir que não tinha ninguém o seguindo ou o observando, buscava ser discreto, e se não o fizesse apenas causaria mais suspeitas.

O supermercado tinha apenas poucos funcionários e alguns jovens sobretudo no setor de bebida alcoólica, afinal pelo dia e pelo horário só estaria fora de casa aqueles que trabalhassem ou que fossem confraternizar.

Não apenas por escolha, mas também por necessidade os homens seguiram para as partes menos movimentadas, as dos vegetais e frutas, por conseguinte temperos e refri.

Ao final, Khun teve de abandonar algumas coisas para trás, pois não conseguiria levar tudo, optou só pelo necessário.

Enquanto passava pelo caixa martirizava-se internamente por não ter tido o bom senso de comprar alimento antes de colocar seu plano em prática, era algo que soava tão óbvio, levaria o moreno de encontro à uma geladeira vazia sem nada de gostoso.

Jamais ligara para ser um bom anfitrião, até porque o único que conhecia seu apartamento era Leesoo, mas neste caso estava com um turbilhão de pensamentos negativos sobre ser tão negligente.

Saíram do estabelecimento, o menor ficou encarregado de apenas algumas sacolas mais leves e o refrigerante, todo o resto o azulado equilíbrio nos braços.

Mais algumas quadras de distância, somado a todo o percurso, deu pouco mais de uma hora de caminhada, eles chegaram à porta do condomínio de duas torres.

O proprietário abriu o portão de entrada com o reconhecimento facial, e ambos passaram, direcionando-se ao hall, chamaram o elevador que naquele horário era vazio e veloz. Subiram e a porta do apartamento em questão foi desbloqueada por meio de senha.

Entraram, Agnis retirou o calçado com maestria, pois tinha uma prática assustadora em estar sempre afobado, sendo assim a ponta de um dos pés encostado no calcanhar do outro o deixava apenas de meia.

Enquanto isso, o outro teve de apoiar as sacolas no chão, sentar-se, desamarrar o cadarço para assim concluir o objetivo. Aproveitou-se para deixar os tênis de uma forma que ele julgou não atrapalhar, alinhados em um canto, e fez o mesmo com o outro exemplar.

Por fim deixaram as compras no balcão da cozinha.

O dono do apartamento convidou o menor para conhecer todo o ambiente, onde viveria por um tempo.

Da cozinha mostrou a pequena lavanderia, depois a sala, o banheiro central, o escritório, que já foi apresentado como o local que ele dormiria, afinal tinha um colchão prontamente ajeitado no chão, por fim foi ao quarto principal e a suíte.

O azulado indicou que o hóspede podia banhar-se por ali, deixou uma muda de roupas e uma toalha, aproveitou para explicar sobre o chuveiro ser a gás e levar um tempo longo para aquecer, qual dos registros era de água fria, e sobre o shampoo e condicionador e por fim apenas pediu que ele usasse o sabonete líquido. Confirmou por conseguinte que posteriormente ajeitaria o banheiro principal para que ele pudesse o usar com exclusividade e se retirou.

Foi à lavanderia para ligar o aquecedor, depois tirou o moletom e pendurou próximo a entrada, encarou seu seu próprio sofá, o qual estava conservado mesmo estando ali por três anos, e notou que de fato nunca o usou por muitos mais do que dez minutos, mas naquela madrugada ele parecia muito convidativo.

Ele sentia-se despedaçado, as costas doíam e o sono parecia chegar, apesar da crença que não conseguiria dormir de qualquer forma. Os músculos sofriam o efeito de virar carne moída depois que a adrenalina passa, mas mesmo assim ele respirou fundo e retornou para a cozinha, deixou o refrigerante na geladeira e foi picar a carne e os vegetais para cozinhá-los.

Pegou uma panela de pressão do armário debaixo da pia e notou uma camada grossa de poeira, teve de lavá-la brevemente antes de posicionar no cooktop, percebeu então que nunca tinha usado suas panelas, elas estavam completamente novas mesmo em anos desde de suas compras. Mais uma enxurrada de pensamentos chegaram ao homem que duvidou de suas capacidades culinárias, mas espantou isso ao pegar a tábua de madeira e levar ao balcão onde iniciou o corte nos alimentos.

Angústia, uma das palavras mais difíceis de se descrever fora de contextos de crise, pois ela tende a aparecer somente nesses casos, mas para Khun sua existência vinha sendo um sofrimento constante repleto de angústia.

Grande parte de suas lembranças são um emaranhado de uma dor de baixo do tórax e tensão muscular que chega doer, noites mal dormidas e uma apatia misturada com hipersensibilidade que confunde todos ao seu redor e a si mesmo.

Estava fechando a panela e acendendo o fogo, quando notou seus ombros tensos e seus supercílios franzidos, ele estava angustiado, agoniado, ansioso, incomodado com alguma coisa sem nome, sem definição. Ele tinha vencido seu último confronto com Maria, Baam estava a salvo banhando-se em seu banheiro, ele podia jurar com todas as letras que sua dor de cabeça passaria ao chegar a esse ponto, mas não passou, nunca passava.

Apesar de satisfeito com os atuais resultados, ele estava frustrado com o seu corpo, o que tinha de errado? Porque ele tinha que se sentir assim? Questionava-se, desejando que esse mal estar companheiro deixasse-o.

Eu Vou Te Salvar-{Khun x Baam}Onde histórias criam vida. Descubra agora