Ele tinha uma sensação amarga justamente por acreditar tão fortemente que quando chegasse àquele ponto se sentiria melhor, porém não se sentia tão bem assim. A água quente acariciando a pele nos dias anteriores houvera sido o sonho e a esperança de consertar e livrar de todo o seu sofrimento, ao menos limpar a sujeira, mas ele se esfregava e esfregava e esfrega, e ainda se sentia sujo, e os toques ainda estavam em todos os lugares.
As lágrimas traiçoeiras escorriam pelos olhos misturando-se ao vapor do chuveiro e ao desespero de nem entender o que sentia, porque encontrava-se tão abalado, afinal sabia que tudo tinha acabado, não voltaria ao bordel, não experimentaria mais nenhum horror.
Desligou o chuveiro quando a pele dos ombros estava vermelho e a barriga arranhada, respirou fundo várias vezes mentalizando que não gostaria de sair do banheiro com rosto de choro, pois não queria mostrar-se assim à Khun, gostaria de parecer feliz e grato ao seu salvador.
Vestiu-se com o pijama de mangas compridas e barra da calça azul que beijava o chão, evitando encarar o espelho, pois tinha medo de não se reconhecer no reflexo, tinha ainda mais medo de ver como sua pele estava, talvez não fosse mais sua própria pele, talvez esta tenha ficado perdida em algum canto antes do leilão.
Ao abrir a porta o vapor escapou para o quarto, e ao passar a barreira do quarto o cheiro agridoce do karê gentilmente convidou-se para se fazer presente nos sentidos do moreno, que por sua vez recobrou um pouco mais de seu brilho, onde os olhos âmbares arregalaram-se, a boca chegou a salivar e o estômago vibrar.
—Uhm, que cheiro bom. —comentou com um sorriso delicado aproximando-se da cozinha.
Aquele, cujos fios caiam na testa ainda tingidos de loiro, olhou por cima do ombro o outro, viu sua expressão mudar, perdendo um pouco da carranca, das sobrancelhas tensas e do maxilar travado.
—Ainda vai demorar um pouquinho, —respondeu, —e eu nem sei se vai ficar bom.
—Tenho certeza que vai ficar uma delícia. —mostrou os dentes de maneira carinhosa.
—Você está com muita fome?
—Não, dá para esperar. —mentiu como se fosse hábito o fazer e passou despercebido pelo outro.
—Quer refrigerante?
—Quero.
E aquele que fechava a panela de pressão encaminhou-se para a geladeira, pegou a bebida, lavou um copo tirado do armário acima da pia e encheu-o.
—O aquecedor está bom? —questionou notando que sempre arrumou a casa apenas para si próprio sem necessitar de segunda opinião de outra pessoa, mas neste momento não estava sozinho.
—Está ótimo.
—Se quiser pode puxar uma banqueta ou sentar no sofá, como preferir. —disse se esforçando para que o outro ficasse confortável, ao mesmo tempo deixou duas porções de refri sobre o balcão, uma delas o menor pegou e encaminhou-se para o sofá. —Pode ligar a TV se quiser.
—Está tudo bem, é confortável o silêncio. —colocou os pés no sofá e ajeitou o rosto no joelho enquanto abraçava as pernas com uma feição de sono.
Ambos ficaram mudos, era apenas o som do vapor escapando pela válvula, o andar agitado de Aguero e o clima esquisito que pesava como a melancolia, mas tinha um pouco da textura de aconchego e intimismo.
Baam encarava o outro com tanto cansaço que esquecia de manter uma linha de pensamento coerente, e Khun pensava tanto que esquecia de estar cansado.
Bastou alguns minutos para que a carne ficasse pronta, a panela perdesse a pressão e eles pudessem se servir.
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Eu Vou Te Salvar-{Khun x Baam}
أدب الهواةGêmeos, Maria e Aguero Agnis, eram jovens lindos, reconhecidos por sua beleza até mesmo por sua própria família, mas um tio, homem amável, muito alegre e brincalhão, elogiava principalmente Agnis, Maria, vendo que todos, inclusive o tio, gostavam ta...