Os ruídos da cidade pareciam mais altos do que de costume.
Paris era um grande centro urbano e nada conseguia evitar os barulhos dos carros, as buzinas, as conversas das pessoas... até a tão admirada língua francesa parecia ser um incômodo naquele momento.
- Você jura que eu vou ter que ficar aqui na cidade por mais 4 dias?
- 7 dias! Quinta-feira que vem você será liberado e poderá viajar para o interior, pra sua casa. – A voz de Paul, seu assessor, soava nos ouvidos do homem através do telefone.
Ao ouvir a notícia, ele apoia a testa na mão esquerda e aperta os olhos, lamentando com todas as forças a sua situação.
- Eu vim a França não para ficar em Paris, Paul. – Ele reclama já com o tom de voz mais grave. – Quero ir pra minha casa. Em uma semana tenho que voltar para Los Angeles. Você está me dizendo que eu vim para França à toa? Vou ao menos conseguir ir para minha casa aqui?
Ele ouve um suspiro pesado do outro lado da linha.
- Não dificulte as coisas. Você fumou a vida inteira igual uma chaminé. Sempre soube das consequências.
E Johnny de fato sabia.
Desde que havia saído de Los Angeles pela manhã, estava sentindo dores no peito. Durante o voo para Paris o ator havia tossido sangue, o que havia preocupado Paul. Assim que pousou em território parisiense, o assessor não deixou Johnny se enfiar no interior do país, onde possuía uma enorme residência.
Exigiu que o ator fizesse um exame no pulmão para checar a situação. Paul havia agendado uma consulta com um médico geral para manhã seguinte, mas o pneumologista que cuidava de Johnny só estaria em Paris na outra semana.
- Faça a consulta amanhã. Agendei para o médico ir ao seu hotel, assim chamaremos menos atenção. Semana que vem você vê o Dr. Breteau e faz os exames que ele pedir. Sua suíte já está reservada por uma semana. Não reclame!
- Isso é preocupação à toa. Estou dizendo! – O ator reclama levantando da poltrona do café que estava e então desliga a ligação.
Ele dirige calmamente pelas ruas barulhentas de Paris tentando não ficar mais irritado. Colocou o endereço do hotel que Paul havia reservado a ele no gps e tentou espantar todos pensamentos negativos da mente.
Sua expressão era de cansaço, além de continuar sentindo dores no peito. A verdade era que o ator estava escondendo para ele mesmo seu medo. O que haveria de ser essas dores? Um câncer? Sua vida agora se resumiria a isso?
Desesperadamente, ele liga o rádio do carro e aumenta o volume no último na tentativa de afogar suas especulações.
Ao chegar no hotel, ele deixa o carro para o valet e entra no estabelecimento. Uma moça jovem lhe atende e logo encontra as reservas em seu nome. O ator entrega sua única mala para o funcionário e aguarda a recepcionista lhe entregar as chaves do quarto.
Uma dor de cabeça começa a surgir e ele apoia a cabeça no balcão enquanto aguarda. Poderia parecer um gesto sem educação, mas ele não se importava no momento. A semana tranquila e relaxante no interior que ele havia planejado, estava arruinada.
Um barulho alto faz ele abrir os olhos e olhar para o lado. Eram dois homens entrando no hotel. Entre gargalhadas, acabaram derrubando a decoração de uma das mesas do hall. Pareciam alterados, no mínimo bêbados.
"Turistas..." – Johnny pensou.
Um deles para de andar e continua rindo, agora em direção a uma garota que passava pela porta de entrada.
- Vamos logo, bela. – O homem diz puxando a cintura da moça para perto. Ela parecia distraída olhando ao redor com grande admiração.
Johnny reparou na expressão encantada da mulher, mas logo reparou também no que ela vestia. Um vestido curto e justo vermelho, que a moça insistia em descer a barra e o rapaz agarrado a ela insistia em puxar pra cima.
Seriam namorados? Ou ela seria uma francesa paga para satisfazer turistas? Na cabeça de Depp, parecia mais a segunda opção.
O casal assim como o outro amigo, logo passaram pela recepção chegando à área dos elevadores, sem ao menos reparar às pessoas a sua volta.
Ótimo, para Johnny.
Ele não havia sido notado.
Ao contrário dele, a moça sim havia sido notada pelos olhos do ator. A curiosidade e admiração em seus olhos. O sorriso surpreso por estar em tal lugar. Mas ele não podia se enganar. Reparou também nas pernas longas e morenas da garota, assim como no tecido que cobria o busto dela e estava levemente esticado por conta do volume do corpo dela.
Uma visão que teria agradado Johnny, se o homem bêbado e barulhento não estivesse agarrado ao corpo feminino.
- Aqui está! – Uma voz espanta Johnny de seus pensamentos. Ele olha pra frente e encontra a recepcionista sorridente segurando dois cartões. – Suas chaves.
- Oh, obrigado. – Ele sorri em troca e pega as chaves.
- Qualquer problema, estamos à disposição. Tenha uma ótima estadia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
In return
RomanceUm encontro ao acaso em um hotel em Paris. Uma noite conturbada e uma manhã de surpresas. A vida não era doce com Diana e por isso era difícil acreditar que coisas boas poderiam vir sem nada em troca. Em menos de sete dias, essa percepção mudaria. E...