𝐂𝐚𝐩í𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟔 - 𝐅𝐞𝐥𝐢𝐳?
Lyra despertou com um suspiro, os lençóis macios envolvendo-a como um abraço reconfortante. O colchão sob seu corpo era um verdadeiro luxo, um contraste marcante com as noites inquietas nos Jogos Vorazes. A sensação de acordar em uma cama real, sem o peso constante do perigo iminente, era um bálsamo para sua alma.
Ela contemplou o quarto ao redor, os móveis cuidadosamente dispostos, as cortinas que filtravam a suave luz do amanhecer. Era um ambiente tão distante da arena, onde a sobrevivência dependia de astúcia e coragem. A transição daquela cruel realidade para o conforto de um quarto ainda parecia surreal.
Lyra refletiu sobre a sensação de felicidade que experimentava. Era uma felicidade complexa, tingida de melancolia pelos acontecimentos recentes. A coroa de campeã que ela compartilhava com Katniss e Peeta representava mais do que uma vitória; era a garantia de uma vida que, de certa forma, voltaria ao normal. Não exatamente como antes, mas uma versão alterada da normalidade.
Ao se levantar da cama, Lyra deixou escapar um suspiro, apreciando a maciez do tapete sob seus pés descalços. Ela percebeu que, desde a entrevista com Caesar, desde o momento em que recebeu a coroa de campeã junto com seus colegas, sua rotina de sono havia sido mínima. O zumbido persistente em seus ouvidos, resultado do estrondo da plateia, agora dava lugar à serenidade do quarto.
Com uma gratidão silenciosa, Lyra reconheceu a bênção de um sono ininterrupto e a comodidade daquela cama graciosa. Ela ainda não estava em casa, mas mesmo assim, essa sensação, apesar de tudo, trouxe um sorriso tênue aos seus lábios.
A loira se dirigiu à porta do vagão, abrindo-a com um leve rangido antes de seguir pelo corredor até o vagão restaurante. Ao chegar lá, hesitou por um momento ao perceber que Peeta e Katniss estavam envolvidos em uma conversa. Entretanto, ela superou a breve indecisão e entrou no vagão, escolhendo se sentar ao lado deles.
Lyra apontou para a jarra de suco que estava sobre a mesa. Com um pequeno sorriso, Katniss prontamente pegou a jarra e a entregou à loira. A garota serviu o suco em um copo.
— O que vai acontecer agora? — Peeta indagou, aguardando a chegada de Lyra para lançar a pergunta.
— Acho que devíamos tentar esquecer — Katniss respondeu, e a expressão dela refletia a complexidade dessa tarefa.
— É difícil esquecer tudo o que aconteceu lá dentro — observou o loiro, e Lyra concordou com um aceno de cabeça — O que planejam fazer quando chegarmos ao Distrito?
— Eu pretendo retomar minha vida normal — afirmou Katniss.
— E você? — Peeta dirigiu a pergunta a Lyra.
A loira deu de ombros, pegando um pedaço de pão antes de responder.
— Não sei, talvez voltar para a rua — deu de ombros novamente.
— Rua?
— A rua é minha casa, posso dizer que é melhor do que muitas — ela mordeu o pão.
— Ah... entendi — Peeta assentiu.
✕✕✕
Faltavam algumas horas para chegarem ao Distrito 12. Peeta havia desaparecido dentro dos vagões, enquanto Katniss permanecia sentada no vagão restaurante, exibindo uma expressão pensativa. Lyra, por sua vez, encontrava-se de ponta cabeça em uma poltrona, seu cabelo esparramado pelo chão. Sem ter nada específico para ocupar seu tempo, ela estava entregue aos próprios pensamentos.
A voz de Katniss penetrou nos ouvidos de Lyra.
— Acha que estão orgulhosos de nós? — indagou Katniss.
— Espero que sim. Nós quase morremos, eles têm que estar orgulhosos — respondeu Lyra, provocando um sorriso na garota. — Mas se não estiverem, não se importe com a opinião deles. Eles não passaram por isso, não têm que achar nada — acrescentou a loira, franzindo o cenho. Ela conseguiu expressar o que tanto queria antes de ir para a demonstração e receber suas notas.
— Eu não achava que iria sobreviver — confessou Katniss, e Lyra franzia o cenho.
— Claro que você ia sobreviver. Foi a melhor ali — afirmou com sinceridade. — Sem você, não teríamos ganhado.
— Claro que sim.
— Claro que não — contradisse Lyra, fechando os olhos ao bocejar.
A loira se recompôs na cadeira, endireitando-se.
— Rue... Sinto muito por ela — comentou Lyra.
— Ela não tinha chance de ganhar — Katniss suspirou. — Eu iria ajudá-la, mas ela iria morrer em algum momento.
As palavras da morena surpreenderam Lyra.
— É, eu sei disso.
E, assim, o silêncio se instalou. Lyra sentiu uma estranheza no ar, como se estivessem revivendo o primeiro dia no trem, no instante em que ela notou os olhos azuis da garota. Uma sensação peculiar, uma estranheza que pairava não apenas no ambiente, mas também dentro dela.
— É melhor a gente esquecer — Katniss sussurrou, quase sem voz, mas Lyra ouviu cada palavra claramente.
— Esquecer? — Lyra encarou os olhos azuis da garota, que, surpreendentemente, já encontravam os verdes. Era uma paisagem, o céu e a grama; os olhos de Lyra eram um jardim chuvoso, enquanto os de Katniss eram o céu, limpo e sem nuvens — Eu não acho que conseguiria esquecer.
E, por algum motivo, suas memórias voltaram para os momentos em que Katniss a abraçou na arena, a respiração ofegante em seu pescoço. Não precisava atuar naquele momento; Lyra não era Peeta. Ela não precisava se importar.
E ela não se importou, não deveria se importar. Lyra desejou poder compreender o que se passava na cabeça de Katniss naquele momento. Quando pensou que a garota estava distraída demais com Peeta para se preocupar com sua presença, quando imaginou que estavam apenas atuando e, de repente, foi envolvida em um abraço apertado. Poderia ter sido o calor do momento, por terem vencido o jogo. Lyra não deveria se importar, e realmente não se importava.
— Eu também não — ela respondeu, sentindo uma confusão interior. Seria melhor esquecer tudo o que aconteceu, mas como esquecer?
O trem parou, indicando que estavam em casa agora.
— Bom, acho que é isso — ela sorriu, seus olhos se fechando no processo. Era um sorriso verdadeiro. Lyra se levantou e caminhou até a porta do vagão. Antes de sair, voltou o olhar para Katniss, que ainda estava sentada — A gente se esbarra enquanto eu estiver fugindo.
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𝐒𝐓𝐀𝐘 𝐀𝐋𝐈𝐕𝐄 | 𝐊𝐚𝐭𝐧𝐢𝐬𝐬 𝐄𝐯𝐞𝐫𝐝𝐞𝐞𝐧
Random𝐒𝐓𝐀𝐘 𝐀𝐋𝐈𝐕𝐄 || No Distrito Doze, onde a realidade se desfaz em sombras e o tempo se perde nas dobras do desconhecido. Tudo é um quebra-cabeça desorientador, uma dança confusa entre o ser e o não ser. As linhas entre o certo e o errado são tu...