Tuesday

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Michelle:

  Já é o dia seguinte, e acordo sonolenta, com minha mãe batendo na porta.

- Michelle,  está dormindo ainda?

- Oi mãe, pode entrar. - me sento na cama, coçando os olhos. Já estava me preparando para um longo sermão que ela iria me dar.

Entretanto, vejo ela entrando cuidadosamente, segurando uma bandeja.

- Fiz o café pra você.

- Oh mãe, não precisava, de verdade. Eu fazia alguma coisa. Papai já foi?

- Saiu há poucos minutos. E hoje faço questão de trazer pra você, filha. Vi ontem que chegou cansada para o jantar, porém satisfeita, então eu te deixei dormir mais um pouco mesmo.

Ela coloca a bandeja no meu colo, e senta ao meu lado.
 
- Está uma delícia, mãe, obrigada - falo de boca cheia, deixando um sorriso escapar. Ela apenas fica, bem serena, me olhando comer.

- A senhora quer me dizer alguma coisa?...

- Na verdade, quero sim, Mille... - sua expressão dica mais séria -  Olha, eu sei que estamos discutindo há muito tempo sobre o quê você faz da vida e como faz isso. Mas só quero que saiba que estou sempre torçendo por você, seja pelo o que for. Eu e o seu pai acreditamos muito em você, filha. E sabemos que é uma garota de muito potencial.

A escuto em silêncio. Não estava esperando por aquilo, muito menos aonde ela queria chegar nisso.  E ela continua...

- Mas meu maior medo, sinceramente, é de você acabar que nem eu. Sabe, seu pai é o único que sustenta a nossa casa e traz dinheiro para cá. E eu apenas cuido da casa e de vocês dois... Não estou dizendo que não gosto da minha vida, muito pelo contrário! Mas, Michelle, você é jovem, iteligente, criativa, e sabe o que quer. Trabalhe para que seja independente o mais cedo possível e não deixe que as coisas mundanas a deixem mudar de caminho. Sei que terá uma vida de sucesso. E se realmente você trabalha dessa forma, que assim seja. Mas fico receosa com o mundo lá fora. Sabe que só quero o seu bem, né?

- Sei sim... - a encaro, atenta - Mas para eu conseguir o que quero, não posso apenas ficar neste quarto, entende?

- Entendo, filha. Eu que sou uma mãe coruja mesmo. - Ela levanta sorrindo e dá um beijo na minha testa. - Mas você verá as recompensas surgindo em breve.

Fico, de certa forma, espantada. Há muito tempo não conversava com minha mãe daquela forma, não estava esperando por aquilo. Mas fico mais aliviada, por outro lado, de fortalecer novamente nosso vínculo de antes, que nunca quis que perdêssemos.

- Ah, mudando de assunto! Aquele menino, o Paul, ligou novamente para cá.

- De novo!? - quase me engasgo com o suco que tomava.

- Oh, mas ele não estava querendo falar com você não! - ela diz rindo - Ele mesmo se convidou para almoçar conosco. Ele me contou como se conheceram e de onde ele veio. E ficou até te elogiando...

- Só o que me faltava... - apoio a testa na minha mão.

- Ora, ele parece ser um bom rapaz! Foi muito educado e gentil comigo, conversamos um bocado e tanto. Seu sotaque liverpudiano é tão forte... Até me despertou boas lembranças de lá.

- Mas a senhora aceitou que eles viessem mesmo??

- Claro que sim!... Não resmungue! Tem até sorte de seu pai chegar só de noite. O almoço estará na mesa às 11, viu? - Ela sai animada do quarto.

Mas o que deu no mundo hoje hein?

O que achei mais maluco não é nem o fato deles almoçarem aqui, mas sim da minha mãe ficar sabendo disso e aceitar! Hoje ela está ao avesso, só pode...

Mas, tenho que admitir, até que gostei que eles viessem.

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Paul:

- Sério mesmo que ela deixou cara??

- Seríssimo. Bons modos é a chave do negócio. Você deveria começar a aprender também, John. - Arrumo meu cabelo na frente do espelho, deixando ficar um grande topetão.

- Hmpf, nem morto... - John fala enquanto escova os dentes. - Mus for focin de canveçir?

- É o quê!? Escova direito, ô imbecil!

Ele cospe na pia:
- Perguntei se foi fácil de convecê- la. Melhor agora, surdo??

- Ah, eu falei apenas a verdade: contei a ela da nossa situação aqui, e disse que do pouco tempo que conheci Michelle, já vi o quão boa garota ela é. Foi tipo isso.

- Hmmm, acho que isso não será só um passatempo, nããoo... - John solta uma risada enquanto escova.

E realmente, estava pensando o mesmo. Michelle estava  desmostrando ser uma pessoa compreensiva e gentil conosco. Além disso, seu ar misterioso e fechado me instiga mais ainda a querer ficar perto dela. Não sei de muita coisa da vida dela, se eu for parar para pensar, mas estou decidido a saber mais.

- Passa aí a brilhantina. - John me tira dos meus devaneios.

O entrego um pequeno pote de brilhantina que tinha trazido para arrumar o cabelo.

- Se bem que deixar o cabelo igual aos franceses não seria uma má ideia, não acha... - John para para pensar. Experimentar coisas novas é típico dele.

- Tá maluco!? Nunca que vou fazer uma maluquice dessas no meu cabelo! Toma, usa isso também, se for possível. Vai causar uma boa impressão. - Jogo um chapéu coco para ele. Vi numa revista que era tendência.

Após minutos nos arrumando, coloquei uma boina preta - para impressionar - e vestimos longos casacos. O dia estava prometendo chover com o céu bem nublado.

- Tomara que isso não dê merda hein... - Lennon comenta, sem muitas expectativas.

- Tomara que você não faça merda, isso sim.

E assim fomos andando até a casa de Michelle, que não é tão longe daqui.

My Michelle - Paul McCartneyOnde histórias criam vida. Descubra agora