My Michelle - Paul McCartney

Encontros e Despedidas

✨1980✨

Já é tarde da noite quando termino os afazeres domésticos e coloco minha filha para dormir. Escolho um dos discos da estante, e coloco na simples vitrola rosa do quarto : "Clair de Lune, de Charles Debussy". Sophie sempre pega no sono com facilidade quando escuta música clássica.

- Essa eu sei que você gosta, meu amor. - Digo sorrindo para ela, enquanto abaixo o volume.

Arrumo seu bichinho de pelúcia favorito do seu lado no berço, aquele que ela sempre babava e não largava nunca de mão. Passo os dedos com delicadeza em seus lindos cabelos loiros e macios, que apesar de poucos, tem um cheiro maravilhoso.

Ela abre um sorriso para mim, mostrando apenas sua gengiva linda e ressaltando suas bochechas rechonchudas. Era como se ela quisesse dizer alguma coisa para mim, como se já entendesse o que eu falo. Permaneço em seu lado, a olhando com ternura.

Já percebia o olhar de Sophie distraído e pesado, concentradíssima na melodia do piano tocando ao fundo. Suas piscadelas se tornam mais cansadas com o tempo, até seus olhos não abrirem mais. Seu peito subia e descia de uma forma serena, seu rostinho adormecido me dá satisfação de observar. Eu fiz simplesmente uma obra de arte! Hoje, milagrosamente, ela conseguiu dormir rápido, coisa que raramente acontece.

Desligo o abajur que refletia uma luz fraca pelas paredes lilás de seu quarto. Beijo sua testa, e ainda fico a olhando dormir por um longo tempo, ainda receando que ela fosse acordar.

- Michelle, meu amor, Sophie já dormiu? Preciso te mostrar uma coisa... - Jurgën, da porta do quarto, me chama baixinho para não acordá-la.

- O que aconteceu? - me aproximo dele.

- Uma tragédia, para ser sincero... Vamos para a sala. - Seu semblante era de preocupação. O que poderia ter acontecido??

Ao chegar na sala, a TV estava ligada. Naquele exato momento, o plantão da emissora estava passando.

" Interrompemos a programação para atualizar de última hora uma triste notícia !

Agora à pouco, dia 8 de dezembro, foi assassinado o cantor e compositor John Winston Lennon, 40 anos, na porta do Edifício Dakota, em Nova York. O assassino Mark David Chapman, que diz ser seu fã, disparou quatro vezes em suas costas após esperar por horas na frente de seu condomínio. O cantor ainda estava com vida na ambulância, mas infelizmente não resistiu e faleceu logo quando chegou ao hospital.

John Lennon nasceu no dia 9 de outubro de 1940 em Liverpool, e é mundialmente conhecido por ter sido integrante do quarteto de rock..."

-... I-isso só pode ser piada, Jurgën... - solto uma risada insana, apenas para enganar a mim mesma de que tudo isso é apenas uma grande mentira.

Olho para o rosto de Jurgën, que continua sério e abatido. Ele permanece calado, apenas soltando pesados suspiros .

- ...Não pode ser! - coloco minha mão em minha boca, sem saber o que fazer. Não é para ser assim, isso não faz sentido!

Na TV, o jornal ainda fala da história de John, mas eu não consigo mais prestar atenção. Tudo perde o som por um instante, enquanto sinto minhas pernas fraquejarem e sento no sofá. Observo para o nada, mas acabo pensando em tudo.

Meu Deus... Eu o tinha visto um dia desses; estava tão feliz! Estava junto com Yoko já grávida, esperando o tão querido Sean... Seu jeito cômico de ser nunca mudou, mesmo com o passar do tempo.

Quando a ficha caiu que nunca mais verei Lennon outra vez, assimilando essa dura verdade, meus olhos se enchem de lágrimas.

- Eu não consigo acreditar! - escondo as lágrimas e meu rosto nas minha mãos.