• breath of life •

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'Bips' ao fundo te despertaram do que parecia ser o sono mais longo do mundo. Uma cacofonia que virou silêncio, e logo em seguida agonia.

Porque não estava acordada e aquele com certeza não era seu mundo real.

Acordou em meio ao vazio escuro, deitada em águas cristalinas que aparentemente não serviam para lhe molhar, porque estava completamente seca.

— Onde estou? - perguntou, mas não teve resposta. Confusa, se levantou, se sentindo mais leve que pluma e dando passos incertos pelo caminho que estranhamente se abria mais ao fundo.

Caminhou pelo o que pareceu ser horas por aquela trilha, mas estranhamente não se sentiu cansada, somente seguindo quase cegamente a luz que ia chegando cada vez mais perto.

Como mágica, imagens foram emergindo na água, obrigando-a a parar e assistir como um filme, interessada e curiosa demais para simplesmente não ver aquilo. A primeira imagem que veio foi a de uma criança — uma menininha — correndo para os braços da mãe. A segunda mostrava essa mesma criança um pouco mais velha rindo e brincando com outras duas — dois meninos — e um homem mais velho. A terceira veio em um baque, a menina bem mais velha agora sendo jogada contra uma parede de concreto e cuspindo sangue pelo o que parecia a enésima vez. Se empertigando, andou mais dois passos, não querendo ver mais, mas então a quarta veio, mostrando a menina agora mulher, olhos vermelhos brilhando enquanto sorria e se movimentava em uma barra de metal polido. A mesma mulher apareceu na quinta, furiosa e gritando com outra mulher, tão bonita quanto ela e bem parecida também, porém mais velha. Mas foi somente quando a sexta veio que sentiu um aperto descomunal no coração.

Ofegou, apertando o peito com a mão e se encurvando de tanta dor, mas sem conseguir desviar os olhos da imagem na água.

Um homem, cabelos pretos e rosto e corpo desfigurados com cicatrizes de queimaduras. Olhos mais azuis que o próprio céu quando chega a manhã e, o mais incrível, um sorriso puro e genuíno nos lábios. Segurando a mulher no colo, a nanando tão docemente...

"Eu não sou um bebê para você me tratar desse jeito!"

"...Você sempre vai ser meu bebê, amor."

— Dabi...- como um sussurro, o nome deixou seus lábios, e como um furacão todas as imagens se misturaram e iam se apresentando diante de seus olhos rapidamente, mas incrivelmente conseguia ver cada uma delas. — Dabi!

Tudo fazia sentido agora.

"S/N!"

Precisava sair dali, precisa voltar para Dabi!

"Minha filhinha, ele tirou de mim a minha filhinha."

— Mãe...! - se desesperou, correndo para longe da luz que agora se aproximava rapidamente. — Não, eu não tô pronta! EU NÃO TÔ PRONTA! - gritou, continuando a correr.

Mas parecia que não adiantava, você não saía do lugar e era obrigada a continuar vendo as imagens. Dabi abraçando seu corpo e não descolando de você por longos minutos. Merlinda arrancando o coração de seu avô e chorando copiosamente por sua causa. Sua causa. Seus irmãos sem conseguir nem sequer levantar os olhos para ver você, e seu pai...nem teve a chance de vê-lo uma última vez.

Não estava pronta.

— Me deixe voltar, me deixe voltar para ele! Por favor...por favor me deixe voltar para eles, por favor! - continuava a gritar, nunca parando de correr e agora sentindo lágrimas escorrendo por seu rosto. — EU NÃO TÔ PRONTA!





— S/N!

Ofegou alto, sentando em um pulo na maca e convulsionando enquanto ouvia 'bips' e mais 'bips' descontrolados apitarem no seu ouvido. Desorientada, fez de tudo para sair dali, estava correndo, precisava correr, não estava pronta, precisava ver eles, precisava ver ele.

𝐃𝐀𝐁𝐈, 𝐜𝐨𝐦𝐨 𝐧𝐚𝐦𝐨𝐫𝐚𝐝𝐨Onde histórias criam vida. Descubra agora