piloto

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O vento brincava com os cabelos recentemente tingidos de preto de Minho, fazendo-os dançar ao seu ritmo. O carpete cinza incomodava os pés do paulista, mas não o suficiente para diminuir sua felicidade diante daquele apartamento dos sonhos. Sentado sob a cama desarrumada, Minho observou alguns porta-retratos de de Soonie, Doongie e Dori ao redor do quarto.

Em uma dessas fotografias, os três gatos estavam deitados tranquilamente nas costas de um homem musculoso e de cintura fina, cuja identidade Minho desconhecia, mas que parecia lindo. Além disso, havia um outro porta-retrato exibindo a mãe de Minho com os dois filhos na praia, uma lembrança que Minho não recordava de ter registrado, especialmente quando ainda tinha cabelos loiros. Contudo, ali estavam, sorrindo à beira-mar.

De repente, o som de copos tilintando ecoou do outro cômodo, assustando Minho, que momentos antes permanecia imóvel com os pés presos no estranho carpete cinza, enquanto estava sentado na cama de casal coberta por lençóis amontoados.

— Amor, você não vai sair do quarto? Preciso de ajuda com os vinhos. — Uma voz masculina ressoou, do outro lado da porta. Amor? Quem era esse? O que estava acontecendo? A voz dele era meio diferente, como se não fosse paulista. Talvez baiano. Ou carioca.

Minho, ainda atordoado, decidiu levantar-se da cama. Tudo aquilo era surreal, como se tivesse atravessado para outra realidade bizarra. Calçou as pantufas de coelho perto da mesinha do abajur e abriu a porta branca, encontrando-se em uma bela sala. Um sofá cinza, que parecia ter sido escolhido por ele mesmo, estava no lugar, exatamente igual ao que planejava comprar quando se mudasse para um apartamento maior. Uma gatinha de metal enfeitava a mesa de centro de vidro, e uma TV estilo cinema, aparentando ter umas 60 polegadas, certamente era o maior investimento da casa. Na verdade, toda aquela sala parecia ter sido projetada por Minho. De repente, seu olhar foi atraído para a luz da cozinha americana, separada da sala apenas por um grande balcão preto de um material desconhecido, mas lindo. O balcão possuía uma tela de vidro, coberta por pratos de frios, duas taças de vinho e uma garrafa de vinho aparentemente caro e bem conservado. Então, o rapaz de cabelos loiros desgrenhados, suéter preto e botas estranhas se virou para Minho, estendendo os braços e pedindo que ele por favor levantasse a manga do suéter, já que suas mãos estavam sujas de queijo, tomate e outras coisas. Parecia algo normal para ele, mas no momento em que Minho demorou os olhos em seu belo rosto, seu coração pareceu congelar. Era ele. Mas ao mesmo tempo, não era. Estava radiante, diferente, transbordando amor. Como se tivesse sido amado por um outro Minho, que ele também amaria no dia seguinte. Sentiu uma pontada de inveja por esse rapaz, e isso doeu.

— Olha, gatinho, eu sei que você me acha um pitel e tudo mais, mas que tal me ajudar e depois vir aqui me dar um selinho, hum? — Minho cogitou recusar, mas por quê? Esse não era o Jisung que o abandonou na praia; pelo menos não parecia ser. Este o amava. Este queria compartilhar o resto da vida com ele. Este preparava queijo para os dois, servia duas taças de vinho no balcão e tirava fotos com seus gatos.

— Claro, ji. — Minho rapidamente mudou sua expressão ao responder a Jisung. Han pareceu surpreso com o apelido antigo, mas não comentou nada. Ele apenas sorriu quando Minho arrumou sua manga e lhe deu um beijo nos lábios, que se prolongou em um beijo carinhoso. Parecia que Minho estava ansioso para isso, algo estanho, mas Han relevou.

— Pode pegar minha aliança no balcão? Tirei para temperar a carne, mas agora está me incomodando porque parece que não sou um homem casado com Lee Minho. — Casado? Um homem casado? Ele falava aquilo com a maior tranquilidade, de certa forma até irônica com a piadinha final. O coração de Minho disparou. Um homem casado com Lee Minho. Não sabia o que estava de fato acontecendo, mas queria eternizar aquele momento. Correu para pegar a aliança conforme Jisung pediu e a colocou em seu dedo assim que ele lavou a mão. Encaixava perfeitamente. A joia era linda, revestida em ouro com pequenas pedrinhas de cristais que se assemelhavam muito a diamantes. Diamantes, meu Deus! Minho rapidamente esticou a mão, vendo o mesmo formato de anel em seus dedos, só que em versão prateada. Ouro e prata, simbolizando os dois.

— O que acha de dançarmos antes de comer, como fizemos no dia em que ficamos noivos? Gosto de reviver esses momentos. — Minho concordou, meio atordoado. Mal sabia sobre aquele dia que estavam vivendo, quem dirá sobre um noivado. Mas se tudo aquilo fosse um grande sonho, desejava nunca acordar.

Então, Jisung gritou por uma tal de Minsunga, rindo do nome e logo comentou algo sobre proibir Jeongin de ir à sua casa e mexer com suas coisas. Uma caixa de som semelhante à Alexa logo respondeu, perguntando o que ele precisava.

Ele pediu para colocar a música "When I Was Your Man" e respirou fundo, colocando a mão no coração de forma meio melodramática e engraçada quando a música começou a tocar. Agarrou a mão suada de Lee e o puxou em direção ao quintal atrás da cozinha, iluminado por luzes amarelas, com um cantinho com uma cabana aparentemente montada à mão do lado esquerdo, com almofadas, colchão e outro tipo de luz apagada. Do lado direito, um espaço vazio, apenas com piso de mármore no chão. Han agarrou o corpo de Minho como fez no dia em que disse para ele partir e começou a dançar ao som da melodia. E assim ficaram, Minho com o coração apertado, sentindo cada parte da letra daquela música esfaquear seu interior. Muito jovens, muito bobos para perceber. Minho realmente queria ter feito o que podia para manter Jisung consigo. Queria ter dançado com ele naquela praia para sempre, sem ter o beijado tão melancolicamente, sem ter implorado para ele ficar, sem ter sentido toda aquela dor da despedida.

— Você sabe que deveria estar dançando com outro homem agora, Lee Minho. Um que realmente existe. — E assim, ele se afastou novamente. Ele sempre se afasta. Por que ele sempre se afasta? Parece que aquela tortura estava começando de novo, parece que seu coração estava sendo despedaçado de novo e de novo. Sempre aquele mesmo momento. Sempre terminava com uma dança. Minho se lembrava de já ter sonhado vários outros cenários assim com Han, na praia, no quintal, na casa de seus pais, até mesmo na Rússia. Mas sempre acabava com Jisung se afastando, destruindo tudo, dizendo não.

— Mas eu sou seu marido, Han. — Lágrimas escorriam sobre seu rosto novamente, molhando cada centímetro dele. Aquilo doía mais uma vez, mesmo já tendo enfrentado esse cenário até mesmo na realidade. Mesmo assim, doía. Mesmo Minho tendo bloqueado Han em todas as redes sociais, parado de ligar para Chan nas madrugadas para falar sobre ele, cansado de tweetar sempre que via Han com outros homens em postagens de amigos, ainda magoava da mesma forma, mesmo depois de tudo. Não importa o quanto Minho tentasse odiar ou fugir de Han, sempre doeria da mesma forma.

— Não, você não é, Minho. — Ele disse, com a mesma secura de todas as outras vezes.

— Minho. — Chamou, deixando Lee confuso. — Acorda, Minho!

— Minho, acorda, caramba! — Chan o sacudiu, finalmente vendo o outro começar a abrir os olhos com cautela. Ainda meio sonolento e desorientado, Lee perguntou:

— Han?

— Errou, Chan. — Riu irônico, finalmente se acalmando na poltrona e aguardando a ordem de pouso, para que pudesse retirar o cinto e começar a pegar as bolsas no compartimento de malas do avião. Minho estava nessa há meses, mesmo jurando de pés juntos que a única coisa que Jisung havia deixado para ele era ódio. Ainda assim, Chan o pegava sussurrando o nome do outro enquanto dormia, sempre se debatendo como se estivesse no pior pesadelo do mundo. Ele se recusava a procurar qualquer ajuda, como o clássico teimoso que era. Para ele, isso significava fraqueza. Mal sabia ele que era totalmente ao contrário.

— O que houve? — Perguntou confuso, sem ter a menor ideia do que estava fazendo naquela poltrona desconfortável.

— Estamos pousando. — Chan respondeu.

— Pousando?

— Prezados clientes da companhia Azul, dentro  de instantes estaremos pousando no Aeroporto de Porto Seguro, Bahia. Mantenham os encostos da poltrona na posição vertical e suas mesas fechadas e travadas. Observem os avisos luminosos de apertar cintos. — A voz da comissária de bordo ressoou pelo avião, quase como se estivesse respondendo à pergunta anterior de Minho. Em seguida, uma onda de adrenalina inundou todo o corpo de Minho, indicando que o avião estava descendo. O ruído das rodas tocando o solo tornou-se audível e alguns passageiros começaram a comentar em suas poltronas sobre o decorrer do voo, algo que Minho não pôde fazer porque esteve claramente dormindo durante todo o voo.

— É cara, bem vindo a Porto Seguro.

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