sentimentos que nao suporto

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Meus olhos se demoraram no rosto surpreso — talvez até assustado? — de Minho. Ele parecia menos bronzeado do que da última vez que o vi, em contraste com o meu próprio tom de pele mais escuro. Acredito que ele não tenha se exposto ao sol o suficiente enquanto esteve em São Paulo. Não consigo decidir se gosto mais do seu cabelo moreno ou loiro; o loiro me trazia uma sensação familiar. Eu adorava acariciá-lo, e, quando tomávamos banho juntos, fazia questão de cuidar de seus fios lindos e naturais. Amava inalar o cheiro de shampoo barato e sorria sempre que ele passava as mãos para organizá-lo, mesmo que às vezes falhasse. Sinto-me agradecido por ele ter mudado drasticamente para o preto, porque as memórias doces seriam mais frequentes se ele ainda estivesse com o visual de antes. Agora ele parece um homem sério, que passou por muitas mudanças em pouco tempo e guarda sentimentos que podem corroê-lo aos poucos. Ele parece melancólico, mas lindo — esse é o poder do preto. Quero criar novas memórias com esse novo Minho, mas me contenho em comentar qualquer coisa sobre seu cabelo. Me contenho em falar qualquer coisa.

Ele não gosta mais das minhas carícias, muito menos da minha voz, e, a julgar pela sua cara de raiva agora, ele não quer nenhuma memória a mais comigo. Ele me quer longe. E eu não vou me arrastar por ele, porque esse é o segredo da paixão. Você se adapta ao espaço de outra pessoa, um espaço que só diminui com o tempo, e você precisa acompanhar essa mudança. Eu não quero me diminuir por Minho; algum dia já quis crescer com ele, mas isso morreu.

Morreu porque eu matei, preciso me lembrar.

E, por mais que doa, cada vez que sinto meu celular vibrar no meu bolso, com mensagens compulsivas da mulher que me trouxe ao mundo, lembro por que larguei Minho. Lembro por que reformulei minha vida, por que comprei ternos novos, por que reativei minha conta bancária vinculada aos meus pais, por que, mesmo odiando ceder parte de mim às pessoas, cedi tudo de mim a alguém que não me ama e a quem eu certamente não amava. Minho talvez entenderia se eu explicasse, mas eu não queria sua compaixão. Fiz o que fiz porque precisei, e, se quero reconquistá-lo, preciso fazê-lo pela admiração, não pela pena. O antigo Lee Minho se diminuía por mim o tempo todo, e isso me cortava por dentro e me calava por fora. Eu percebia que ele fazia de tudo para me ter consigo, como se fosse desesperado. Ele era desesperado. Minho queria largar sua vida por mim, e nós não éramos nada além de um nada. E agora, ele me odeia porque não permiti que o fizesse. Afinal, eu não deixei minha vida por ele, por que eu ia querer que ele o fizesse?

Mas ainda dói ver que ele me odeia por isso.
Sempre dói.
A todo tempo.

E agora eu trabalharia com Lee Minho por semanas, sairia com ele, provaria comidas; seríamos obrigados a dialogar. Eu o veria usar regatas brancas novamente, porque o calor da Bahia pode ser mais desafiador do que parece — ao menos foi isso que as pesquisas indicaram. E precisarei apertar os punhos sobre meu copo para não querer tocar o dele só mais uma vez. Às vezes me pego sentindo falta de suas risadas, seu cheiro, sua inocência. Lee sempre foi um cara diferente; ele tinha uma alma doce e pura, por mais que fosse um carrancudo ridículo às vezes. Eu me sentia sujo perto dele, como se pudesse contaminá-lo com apenas um olhar, mas ele me admirava. Ele me desejava. Queria que eu estivesse sempre o tocando, e eu, egoísta ao máximo, jamais neguei, porque queria sujá-lo também; ao menos assim ele teria parte de mim eternamente consigo, nem que fossem partes ruins. Ao encarar sua expressão irritada agora, sinto que fui bem-sucedido. Eu o sujei. E também o fiz me enxergar como o homem sujo que sou. Ele não me admira mais, não quer que eu o toque, muito menos sorri para mim. Que idiotice triste, não é mesmo? É por isso que me proíbo de pensar nele. Uma merda que, mesmo me proibindo, estou pensando. Penso que está na hora de olhar para outra coisa.

Levei meus olhos a Felix, que estava muito bem-humorado com a notícia. Bem, não me lembro exatamente do momento em que esse homem não esteve feliz. Com certeza ele fuma um baseado; conheço os meus de longe. Talvez eu esteja sendo preconceituoso, mas não dá para evitar. Até Minho deve cogitar isso, apesar de nunca ter comentado. Fora que Hyunjin sempre teve uma queda por maconheiros; lembro-me bem dos modelos com quem ele se envolveu durante o tempo na Europa, e aposto cinquenta reais que a primeira pergunta que ele deve ter feito para sair com eles foi "Você fuma um baseado?", como se estivesse em um programa de namoro ou no Tinder. Era como uma condição para namorá-lo: tinha que ser doido e saber bolar um. Acho que foi por isso que nos beijávamos quando eu estava sob os efeitos das minhas coisas ilícitas. Falando no idiota, foquei nele, que encarava seu namorado com ternura.

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