e quando você vai embora, eu ainda vejo você

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Teu corpo sobre o meu. Cada toque é poesia, tua língua dança na minha, evocando a familiar maresia. Tudo era quente, ousado e intenso. Eu desejava a sua morte. Ou melhor, eu queria matá-lo; talvez porque ele beijava bem, porque suas curvas eram perfeitas, porque minhas mãos se encaixavam perfeitamente em cada parte dele, como se cada contorno tivesse sido moldado para mim. Ele tira a roupa e fica nu; eu não consigo evitar o sorriso. Trágico. Ele me olha como se soubesse que eu o quero, e eu sorrio já sabendo o que ele quer. Ele cai sobre mim novamente, dessa vez sem roupas, ainda que esteja vestido com a mesma ousadia de sempre. Morde meus lábios, puxa meu cabelo, arrasta os dedos sobre os meus, desliza a língua sobre mim. Eu penso que nada é tão brutal quanto nós dois imersos em raiva e desejo. Ele diz:

— Achei que você me odiasse. — Seu sorriso é sarcástico e faminto, com as íris escuras de luxúria fixas nas minhas. — Sabe, meu bem, isso que estamos fazendo prova o contrário. — Ele continua terrivelmente gostoso, exatamente como eu me lembrava. Eu reviro os olhos. Não tenho muito o que dizer. Quando penso que vamos avançar para algo mais, o som do alarme me chama atenção.

Pera, som de alarme?

Sou forçado a erguer-me com calma, em choque. Sinto-me irritado, desmotivado e excitado. É tudo muito intenso. Passo a mão úmida de suor na testa enquanto uma forte enxaqueca me atinge, talvez pelo peso dos pensamentos. Ele me conhecia tão bem. Mesmo no sonho, Han sabia onde tocar, onde beijar, onde não beijar. Era como se eu fosse seu refém, pronto para aceitar qualquer coisa em nome da minha vida. Em nome do meu alívio. Essa realização me irrita tanto quanto gostaria. Se ele me tocasse, me jogasse de cabeça em sua armadilha atraente, sem piedade, e dissesse o quanto me deseja, ainda que saibamos a fantasia dessa fala, eu aceitaria de bom grado, porque sou seu refém eterno, tão fraco e frágil a seus feitiços quanto qualquer outro.

Sei que preciso levantar de uma vez da cama, apesar da intensa batalha com meu corpo, que pede por mais minutos, mais segundos daquele sonho, mais vestígios daquele toque infeliz. Os lençóis brancos amontoados ao meu redor são testemunhas silenciosas de uma noite mal dormida, onde sonhos tumultuados se misturaram com o suor que umedecia meus cabelos rebeldes sobre o travesseiro. Não posso deixar Jisung me vencer. Só eu sei o quanto é tentador, mas tenho muitas coisas a fazer hoje, e ceder meu tempo a fantasias pobres de dignidade não é uma delas. Preciso trabalhar. Preciso encontrar Han. Abro as cortinas brancas e sem graça, sendo recebido pela luz impiedosa do sol que invade o quarto de hotel, pintando cada canto com um dourado brilhante. Minha cabeça está explodindo, enquanto meu celular insiste com seu alarme estridente, ecoando na atmosfera já abafada pelo calor nordestino. Lá fora, os pássaros entoam uma serenata matinal, como se soubessem dos meus pensamentos anteriores, e pra piorar, zombassem disso. Credo, acho que estou mesmo fodido da cabeça.

Lista de coisas para não fazer na próxima vida (caso não queira parar no hospício/terapia/psiquiatra):

1 - me envolver com homens sobrenaturalmente atraentes e claramente problemáticos.

Se eu tivesse feito uma lista dessas na vida passada, não precisaria enfrentar, em pelo menos um dos sete dias da semana, minha mente viajando até aquele corpo, ansiando por mais dele, e, para tornar tudo ainda mais frustrante, nunca conseguir completar o sonho. É quase como se meu cérebro me obrigasse a lembrar o quanto sinto falta de estar naquela banheira com ele, mostrando-me mil e um cenários diferentes de como aquilo poderia se repetir e onde poderia acontecer. Mas, sem finalizar toda santa vez, até porque ele precisa me lembrar também que nenhum sonho será tão real quanto aquela noite.

Balanço a cabeça. Talvez minha mente só esteja um tanto confusa porque teve que lidar com muito de Han Jisung ultimamente. Bom, muito mais do que o comum desde o acontecimento na praia. Ontem foi um dia e tanto. Passei parte da minha manhã e tarde agindo como se ele não fosse um incômodo, como se vê-lo sem camisa, tomando banho com Yang, sorrindo e bebendo como um alcoólatra, fumando três cigarros por hora, não me despertasse nada. Mas despertava. Cada átomo nele mudava algo em mim, e isso era ainda mais constrangedor. Não há maneira de controlar o poder que ele tem sobre tudo o que sinto, embora eu já tenha tentado de todas as formas encontrar uma saída. Há algo em mim implorando para que eu odeie Han Jisung; caso contrário, ele perceberá o quanto ainda o desejo e tirará toda vantagem possível disso.

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