A maré está sempre nos afogando

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Não demora muito até que eu repita o ato de Felix e saia daquela situação assombrosa. A princípio, meu andar é calmo e tranquilo, mas começo a correr assim que saio da vista dos dois pombinhos. Preciso achar Jeongin urgentemente. Vou me encontrar com Minho e Keeho na praia para almoçarmos em algum quiosque e depois passearmos pelos arredores, talvez tomar um sorvete. Porra, isso vai ser um desastre, nunca sei sobre o que conversar com Lee Minho, especialmente porque não esperava que isso fosse acontecer tão rápido, mesmo com a companhia dos outros. Muita coisa para apenas dois dias aqui.

Continuo correndo. Passo por Seungmin, que está de pé próximo à piscina, observando Chris usar uma peneira azul enorme para pegar algo lá dentro, ou talvez limpar. Reparo rapidamente que Kim não parece apenas observar, ele parece julgar, pois dá um tapa na cabeça de Bang no exato momento em que passo correndo. Chris não reclama, apenas cessa seus movimentos para me olhar, acompanhado por Kim. Nenhum dos dois se dá ao trabalho de me parar, só me julgam e depois voltam ao que estavam fazendo. Imagino que seja normal um doido sair correndo na dinâmica deles. Me pergunto como esse grupo de amigos continua unido, já que nunca parecem minimamente normais. Quero dizer, dois noivos loucos e opostos, um possível maconheiro, um ex-estudante de direito estúpido, um pirralho linguarudo e uma lésbica completamente instável. Tudo bem que Ryujin está distante, mas ainda é amiga deles. O que é ainda mais surpreendente.

Me pergunto se gostaria dessa dinâmica caótica tanto quanto gosto da quieta e silenciosa entre meus amigos. Passo pelos quartos do hotel, procuro por Jeongin em todos os cantos, bato na porta dele, nenhuma resposta. Até bato na porta de Hyunjin, que me atende com o cabelo preto esvoaçado, as roupas amassadas, os lábios maltratados e vermelhos. Faço uma expressão de nojo ao ouvir ele dizer: "Meu namorado fica excitado quando está bravo." Não preciso prolongar a conversa, muito menos quero.

Finalmente, encontro Jeongin no gramado próximo a uma quadra de vôlei e futebol, uma área que eu nunca tinha visto antes. Não há ninguém ali além dele. O garoto está focado em seu celular, apontando-o para todos os cantos. Ele não nota minha presença até que esbarra o celular em mim e é forçado a me encarar, me vendo de braços cruzados e postura ereta.

— O que caralhos você tá fazendo? — questiono, meu sotaque carioca tomando toda a força que devia. Não passei muito tempo no Rio no último ano, fui obrigado a ir a muitas reuniões e confraternizações chiques, usando ternos que nunca gostei nem de ver em vitrines. Meu sotaque sempre fora algo que eu simplesmente conseguia controlar. Não digo apagar, ninguém apaga um sotaque, mas eu podia esconder se quisesse, pelo fato de estar sempre viajando e sendo instruído por professoras elitistas a como falar com "classe". Mas eu não quis. Amo ser carioca e gosto de falar como um. Minho gostava disso também. Sei disso porque ele zoava, repetia minhas falas com acidez, mas me chamava de "seu carioca" enquanto me roubava beijos, enquanto se aprofundava nos lábios que tanto julgava. Como éramos otários. Penso "otários" para não pensar "apaixonados". E vocês sabem disso.

— Tô pegando Pockemoons, filha da puta. Inclusive, você está atrapalhando. O que você tá fazendo? Está ofegante e suando. Estava correndo pelo hotel? Você sabe que esteiras foram inventadas nesse século, né? Dá até pra dançar no seu apartamento se quiser um cardio melhor. Ou correr na praia, parece tão legal quanto. — Ele fala rápido, como uma criança de dez anos insultando seu amigo burro. Eu sou o amigo burro. E com certeza mais velho. Faço uma careta, pedindo a Deus forças para não mandá-lo calar a boca. Eu precisava dele, afinal.

Deixei-o falar mais, não que eu estivesse ouvindo, claro. Precisava ficar em silêncio. Precisava pensar em uma forma de convencer Jeongin a me ajudar sem ficar lhe devendo nada. Não gosto de dever favores, muito menos a um pirralho claramente travesso e oportunista. Reconheço os meus. Talvez eu pudesse ajudar Yang a ser infantil também. Isso parecia uma troca justa. Changbin ainda estava namorando, embora a ausência de sua namorada no último dia tenha causado um alarde. Pelo que conheço dele, duvido que vá realmente terminar, se a deseja de verdade. Ele vai tentar resolver, vai tentar omitir o problema. Vai se sentir péssimo por ter ficado magoado com a garota, principalmente porque ela vai parecer inocente. Ela é. Pelo menos no que diz respeito ao gasto no hotel, ela é. Talvez, se eu conseguir convencer Yang de que posso ajudá-lo a enciumar Seo, ele me ajude. Sorrio internamente. Xeque-mate, Lee Minho.

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