LEE MINHOAlgo interessante sobre mim é que sempre fui um apreciador de livros. Quer dizer, eu era um fanático que encontrava nas palavras uma zona de conforto em momentos difíceis demais para enfrentar sozinho. Isso não significa que eu não tinha amigos na adolescência, muito menos que vivia trancafiado em bibliotecas e cafeterias. Felix era provavelmente o mais extrovertido entre nós, portanto, Lee Minho jamais fora um cara solitário. Eu me diverti muito nos meus momentos mais triviais. Ler era meu hobby secreto. Em uma sociedade cheia de padrões, nunca se pode admitir que seu passatempo é ler romances clichês compulsivamente. Por isso, mantive essa paixão adolescente soterrada até que ela, magicamente, se dissipasse com o tempo.
Quando você cresce, as coisas ficam mais difíceis. Parece que tudo te suga para todos os lados e é preciso alimentar o sistema com uma rotina cansativa e exploratória. Nunca há tempo para momentos leves, como se deitar às nove e ler outro livro da Jane Austen, ainda que não seja tão atrativo quanto o último que você leu. Às vezes, eu só queria voltar a me sentir como o Pequeno Príncipe, criticando os adultos por suas condutas robóticas, mas agora eu me identificava mais com os adultos sem graça da história e achava o Pequeno Príncipe uma criança incompreendida.
No instante fatídico em que meus olhos se demoraram em Han Jisung, com aquele traje fajuto de um carioca viciado em praias, minha mente disparou. Minha mente, não meu coração. O tempo correu, nos conhecemos melhor, e a cada dia que passava, eu me sentia no meu próprio livro, uma história de autoria particular. Se eu tivesse escrito nosso livro, os cabelos de Han Jisung teriam um cheiro menos característico, para que eu não perdesse linhas e capítulos descrevendo o quão boa era sua fragrância. Os braços seriam talvez um pouco menos definidos, assim ele não sobressairia tanto em beleza e as pessoas talvez pudessem discutir para ver quem era o seu personagem favorito, ainda que eu sentisse que ele seria mais atrativo que eu independente das minhas tentativas em ofuscá-lo.
Se eu tivesse escrito nosso livro, ele não teria me deixado naquela praia. Teria me beijado e dito que a vida teria um final feliz desde que estivéssemos juntos, ainda que essa baboseira toda já tenha sido escrita por milhares de autores. Não gosto de admitir, mas talvez eu não seja tão vítima dessa história quanto gostaria de ser. Talvez eu não tenha desejado Han Jisung o suficiente para fazer as coisas darem certo se ele tivesse aceitado qualquer loucura por mim. Claro que eu estava loucamente apaixonado, ardendo as entranhas por qualquer sinal de reciprocidade vinda dele, mas será que era realmente amor? Sempre ouvi dizer que o amor tinha o poder de transformar tudo, mas não sabia ao certo até onde isso era verdade. Se o amor era realmente tão transcendente, nem mesmo meu ex-namorado tinha provocado esse sentimento em mim; quem diria que um dia sentiria isso por Han Jisung? Talvez eu o idealizasse mais do que verdadeiramente sentisse algo tão forte por ele.
Mais uma vez, repito: minha mente disparou, mas meu coração teve um erro de batidas quase imperceptível. Talvez nossa história poderia ter acabado por um erro meu, e não dele. Mas não acabou. Porque ele foi o maldito que me deixou antes que eu pudesse fazê-lo. Então ainda tenho autoria sobre minha raiva. Pelo menos é nisso que quero acreditar, para não me sentir um idiota pelo que estou fazendo com ele.
Que se foda.
Esqueçam essa reflexão aleatória.Segui meu caminho em direção à sala de refeições, pouco me importando agora com Han Jisung e tudo que ele representava. Desde os primeiros momentos juntos, quando ainda éramos unidos, eu sentia uma aversão crescente dele em relação à sua família. O idiota nunca compartilhava boas histórias sobre sua mãe, não ria dos meus comentários genéricos sobre castigos estúpidos da infância, e jamais esclareceu se era realmente filho único, embora eu já tivesse quase certeza disso devido às suas atitudes metidas e orgulhosas. Se ele não fosse filho único, seria, no mínimo, o mais novo, com uma grande diferença de idade em relação ao seu irmão ou irmã. No passado, isso não me incomodava tanto; pensava que ele talvez não se lembrasse das suas histórias de Natal ou que a vida rica criava um ambiente menos compatível com o meu. Contudo, agora percebo que ele simplesmente não confiava em mim o suficiente para revelar aspectos mais íntimos de sua vida.
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Porto Seguro
FanfictionSEGUNDO LIVRO DA SAGA COPACABANA! Após finalmente agendarem a data para o que promete ser o maior casamento do ano, Chan e Seungmin estão ansiosos para que todos os convidados cheguem a Porto Seguro e se hospedem no hotel reservado. No entanto, a ma...