𝓐fter

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Tic-tac

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Tic-tac. Tic-tac. Tic-tac.

O badalar do pêndulo daquele antigo relógio de parede contabilizava o tempo, que parecia se arrastar. Os segundos eram eternos nas tardes de terça-feira, quando eu era obrigada a vir até aqui. Tudo naquela sala me irritava. As cores pastéis, os móveis milimetricamente bem-posicionados, o aroma floral de lavanda que invadia minhas narinas e até o barulho dos movimentos de sua caneta, rabiscando e rabiscando na porra daquela pequena caderneta sem pautas. O que caralhos você tanto escreve? Eu nunca falo nada!

— Senhorita Scott, — a mulher interrompeu suas anotações para falar — você sabe que não há motivos para estar desconfortável — seu tom manso me enoja e eu franzo meu nariz, desgostosa.

Eu viro meu rosto, voltando a reparar em qualquer coisa que não seja nela, postada em minha frente como uma boneca. Tudo em seu devido lugar, nenhum cabelo desalinhado. Pelo amor de Deus, eu penso. Era como uma edição limitada de Barbie, uma versão ruiva e insuportavelmente questionadora de Barbie Profissões.

— Se permita falar, Heather — ela volta a dizer, escondendo sua caneta na caderneta e fechando-a — Deve ser cansativo reprimir tantas emoções. Você está segura aqui.

— Não, eu não estou — respondo, contrariada. Quanto tempo faltam? Trinta minutos? Vinte? — Eu nem queria estar aqui e você sabe disso. Só precisamos cumprir horário.

Ela solta um suspiro demorado antes de me responder: Não funciona assim. A avaliação deve ser feita, e ela é feita, ainda que você se recuse a conversar comigo.

Eu dou de ombros, inclinada a deixá-la sem resposta mais uma vez. Por isso, ela continua: Seria mais fácil se você tentasse. Deixaria de ser uma obrigação e, talvez, acabasse mais rápido do que você imagina — sugeriu.

Solto uma risada nasal, desacreditada que ela pensou em me convencer de maneira tão cachorra — Eu vou lhe dizer o que farei, doutora — eu começo, voltando meu rosto para encará-la. Seus olhos brilhantes e castanhos me olhavam de volta, intrigados — Eu farei exatamente o que exige o meu contrato — meu tom é amargo. Vazio, como eu — Eu estarei aqui toda terça-feira, pontualmente, pelos próximos oito meses. Eu me sentarei em seu sofá acolchoado e suportarei sua música ambiente entediante. Eu aprenderei a tolerar o cheiro de lavanda e, então, eu ganharei o bendito laudo que meus empresários tanto querem e você nunca mais vai me ver.

Lights of HomeOnde histórias criam vida. Descubra agora