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Eu nunca fui do tipo que se atrasa

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Eu nunca fui do tipo que se atrasa. Na verdade, eu odiava atrasos. Eu costumava acordar antes de todos os meus compromissos, bem antes. Gostava da minha rotina de preparação para o que quer que fosse. Tempo. Eu sempre gostei de ser dona do meu próprio tempo.

Eu fico na cama mais do que o necessário, encaro o espelho do banheiro mais do que o normal quando vou escovar os dentes e evito ao máximo todas as minhas refeições. Merdas assim, agora, me fazem do tipo que se atrasa.

Mesmo sabendo que eu já estou 90 minutos atrasada, adiei a escolha do jeans de sempre, com a mesma jaqueta de camurça e o mesmo óculos de sol que usei nas últimas vezes. Eu nem sei dizer em quê enfiei meu pé. De uma maneira geral, eu não penso mais antes de enfiar qualquer coisa em mim para sair de casa.

A multimídia do meu carro insiste em tentar me alertar que eu estou passando dos limites e que eu devo me apressar para chegar até a casa de Finneas em Los Feliz. Eu não poderia me importar menos com os números do relógio. Eu não quero chegar. Se dependesse de mim, todos os semáforos permaneceriam fechados além do normal esta manhã. Tudo o que postergava minha chegada era válido.

Assim que recebi a mensagem do meu produtor há algumas horas, confirmando o encontro onde todos nós discutiremos a soundtrack dos shows do Lollapalooza, me converti em uma grande cagona. Não há outra maneira de definir – eu estou, sim, borrando minhas calças.

Estou inquieta, irritada e minhas bochechas doem, porque não consigo parar de mordê-las. Eu também enchi o celular de Leslie com mensagens desaforadas e desesperadas, mas, até agora, ela não me respondeu. O que acentua, ainda mais, a minha agonia.

O computador de bordo me avisa que eu estou chegando ao final da rota e eu observo a construção de longe. É uma casa charmosa, arejada e que esbanja luxo a uns 10 metros da praia. Gosto de construções de madeira, me fazem sentir estranhamente abraçada. Embora esse não seja o caso. Entrar nesse lugar, especificamente, me faz sentir picotada. Como uma resma de papéis dispensáveis de um escritório de advocacia.

Nada como ser destruída em uma manhã de sol.

Esse pensamento me faz rir, de nervoso. Eu ainda me impressiono com a maneira como estar perto dela me faz sentir. Somos literalmente uma montanha-russa, eu pensei. Às vezes, você está no ponto mais alto; outras, no ponto mais baixo.

Lights of HomeOnde histórias criam vida. Descubra agora