billie
Meu olhar se perde na parede de cor clara, o celular ainda acomodado na mão sobre o meu colo. Não havia graça em retomar o jogo de tabuleiro abandonado ou reabastecer as taças de vinho. Eu quero estar sozinha. E reconhecer que uma ligação de Scott foi o suficiente para destruir o que venho tentando construir nos últimos dias me deixa genuinamente triste. Eu deveria ter percebido que andava mentindo.
— O que ela queria? — Marie surge no corredor, Shark pulava em suas pernas vez ou outra na tentativa de arrancar um brinquedo da mão dela — Se você quiser me contar, claro — sua voz parece mais baixa, como se ela estivesse envergonhada de sua curiosidade. Talvez Marie nem se sinta parte ativa da minha vida, talvez eu tenha falhado em inclui-la também.
— Queria conversar — respondo, colocando o celular de volta na mesa de centro. Ergo minhas mãos e a loira atira o brinquedo na minha direção. Eu pego sem dificuldade e meu filho corre até mim sem hesitar — Primeiro, tem que pagar pedágio — escondo o brinquedo atrás das minhas costas e abraço o cachorro — Eu te amo — murmuro para o Pitbull, que me ignora tentando sair do meu aperto. Eu o deixo ir e permito que arranque o brinquedo de mim.
Estamos observando o cachorro capturar o pobre macaco de pelúcia entre os dentes e desaparecer rapidamente.
— Não foi uma boa conversa? Eu digo isso porque acabou tão rápido... — ela pergunta e dá sua opinião enquanto contorna a mesa de centro e se senta no sofá.
— Foi um pedido para que conversássemos — olho para baixo, mexendo com a barra da bermuda jeans que usava.
— Você devia estar contente, senão vocês nunca iriam ter uma conversa de verdade. Você disse mais cedo que sabia que precisavam conversar, mas que achava complicado demais e por isso não ia tomar a iniciativa — relembra e eu suspiro, me pondo de pé. Resmungo um pouco e me mantenho ali, parada e sem me mexer, por um tempo.
— Ainda acho complicado. Na verdade, eu quero que tudo dê certo. Quero que volte a ser como antes, mas sei que vou quebrar a cara, então não vou alimentar minhas expectativas — me aproximo, e Marie encosta a parte superior do corpo no sofá para me dar mais espaço — Ao mesmo tempo, quero apagar tudo e seguir em frente, sem ela — me sento de frente para ela, com uma perna de cada lado de suas coxas.
— Você quer muitas coisas — Marie murmura, passando os braços pela minha cintura. Eu encaixo o rosto em seu pescoço.
— Eu sei disso — devolvo, no seu tom. Me aproveito do seu perfume. Tenho que admitir que Marie me traz conforto e me faz fugir da responsabilidade. Há um gosto ruim na minha boca quando penso que posso desapontar Heather por isso.
Eu não acho, na verdade. Tenho certeza.
— Quando vocês vão se encontrar? — a loira questiona. Suas mãos descem e sobem pelas minhas costas.
— Eu disse para ela que já a procurei demais durante tudo isso e que agora era sua vez. Ela encerrou a ligação — o ressentimento era palpável na minha voz.
— Talvez ela estivesse esperando uma outra reação. Apesar da forma como você aceitou, você ainda aceitou — diz baixinho, e eu retiro o rosto do seu ombro para enxergá-la melhor.
— Quem você acha que está certa? — pergunto, curiosa.
Uma das suas mãos abandona minhas costas e se assenta no meu rosto quando ela sussurra: Eu quero ajudar, Billie, não encher sua cabeça com mais coisas. Não posso fazer isso.
— Pode sim, por favor.
— Não, não posso. Foi você quem vivenciou isso, Billie, não eu. Portanto, você deve ponderar e tirar suas próprias conclusões — eu reviro os olhos diante da lição de moral, e a sua mão percorre meu rosto para chegar até o meu pescoço e me envolver em seus dedos — Não faz assim pra mim — mais um sussurro e eu não aguento com um sorriso — Só você sabe o que sente — ela continua e eu concordo com um sinal.
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Lights of Home
FanficUma sequência de Jane's Midnight Garden, com Billie Eilish e Ava Capri. Eventos fictícios, sem nenhuma ligação com a verdade.