billie
Meus olhos se fixam na figura refletida pelo espelho. O grande e retangular espelho apoiado na parede de cor baunilha – eu sabia que esta era da família dos beges, o que a tornava básica e versátil. Eu gostava de como casava-se com o dourado forte que emoldurava o vidro logo a minha frente, o tom de ouro que machucava minhas córneas quando os raios solares adentravam o lugar. Ainda assim, não deixa de ser esteticamente bonito; não é como se algo que me machucasse deixasse de ser bonito, afinal.
Minha sobrancelha esquerda se ergue em um movimento involuntário da Tourette. Um suspiro cansado sai pelos meus lábios entreabertos. Fazia isso mais do que gostaria de admitir – me encarar diante de espelhos. Não era um hábito novo de todo modo, apenas se intensificou nas últimas semanas, mas a sua conclusão ainda era a mesma: frustração.
Novamente, eu me sinto frustrada porque, de uma forma soberba, posso afirmar que não há nada estranho nos traços em meu rosto ou nas proporções do meu corpo e, depois de um tempo refazendo essa espécie de ritual, acabei me afeiçoando ainda mais com a minha aparência. Essa não é a resposta que estou buscando. Têm que ter algo de errado comigo já que nenhum dos meus relacionamentos, ou quase relacionamentos, deram certo... não é? Tudo se inicia tão bem e finda de forma tão dramática que é quase cômico.
A essa altura eu devia ter acostumado, não sei. Talvez tentar prever o futuro de forma mais acurada, me preparar para o momento em que não estivessem mais lá, já que não estariam ali por muito tempo. Só queria achar o motivo de ninguém querer ficar, e ser bonita por fora e quebrada por dentro na mesma proporção não me ajuda em nada nisso.
Dessa vez, parece um pouco diferente. Essa dor não se limita apenas em doer, ela queima, borbulha; era uma embalagem de plástico esquecida sobre as grades quentes de um fogão, derretida e impregnada. A única coisa que eu discordaria era do cheiro. Não tem cheiro ruim, não tem cheiro de plástico queimado. Pelo contrário, tem o cheiro dela.
Toda vez que eu lembro dela, sinto raiva. Nunca a faria acreditar que ficaria se soubesse antecipadamente que, em algum momento, teria que partir. Então, sinto raiva de mim mesma. Não era para eu ter pensado duas vezes... era para ter pensado dez, vinte vezes.
Quando nós estamos longe, consigo cobrir essa queimadura e fingir que ela nunca esteve lá. Me faz sentir exponencialmente melhor quando comparado a relembrar o bom e curto tempo que ela me fez acreditar que seríamos para sempre. Não foi para sempre.
Duas batidas soam contra a porta entreaberta do quarto onde estou e eu remexo meus olhos com o desconforto da forte luz solar. Eu tombo a cabeça para a direita, permitindo que o ruivo perceba minha atenção em seu reflexo e o observo erguer o braço esquerdo para apoiá-lo no batente.
— Está todo mundo lá embaixo, exceto Heather. Acho que ela se perdeu no caminho, mas é melhor a gente começar — sua voz é mansa, fleumática como quando nós éramos crianças e finalmente tomávamos coragem de pedir algo muito específico para os nossos pais. Eu sorrio pela lembrança e me viro de frente para ele —
— Tudo isso aqui é tão importante para ela... imagina se não fosse — ergo minhas sobrancelhas e debocho antes de caminhar em direção a porta. Eu a abro um pouco mais para que eu consiga sair antes que Finneas tenha tempo de dizer qualquer outra coisa.
Meus passos contra a escada eram confiantes e barulhentos, eles atraíram a atenção dos dois homens, que estavam espalhados pelo sofá, mas não tão longe um do outro. As expressões de Connor e Travis me sussurravam preocupação – o que não era para menos, eles não podem ser o que se comprometeram a ser sem a parte que está faltando.
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Lights of Home
FanficUma sequência de Jane's Midnight Garden, com Billie Eilish e Ava Capri. Eventos fictícios, sem nenhuma ligação com a verdade.