Entre Gótico e Colorido

Capítulo 3

A escuridão envolvia o quarto compartilhado no prédio Ophelia, apenas interrompida pela luz pálida da lua que penetrava pelas cortinas pesadas. Era tarde da noite, e o silêncio do colégio Nevermore era preenchido apenas pelo sutil ruído do vento que balançava os galhos das árvores.

Wednesday, deitada em sua cama, encarava o teto sombrio enquanto tentava desesperadamente afastar os resquícios de um pesadelo perturbador. Seus gostos macabros geralmente a tornavam imune a imagens aterrorizantes, mas quando se tratava de Enid, a história era diferente. A gótica não conseguia suportar a ideia de perder a presença colorida e animada de sua amiga.

O pesadelo repetia-se em flashes torturantes. Enid enfrentando um monstro grotesco conhecido como Hyde, uma batalha sangrenta e angustiante. Wednesday observava impotente enquanto Enid era ferida, suas roupas coloridas tingidas de vermelho, contrastando brutalmente com a escuridão ao redor. O corpo de Enid caía inerte sobre o chão, e um grito silencioso ecoava na mente de Wednesday.

A gótica acordava abruptamente, com o coração acelerado e uma sensação de desespero se apoderando de seu ser. O suor frio cobria sua testa enquanto tentava controlar a respiração ofegante. O silêncio da noite tornava-se opressivo, e a sombra do pesadelo ainda pairava sobre ela.

Com cuidado para não acordar Enid, Wednesday levantou-se da cama e dirigiu-se à janela. A lua cheia banhava o quarto em uma luz fraca, revelando os traços pálidos e marcantes do rosto de Wednesday. Seus olhos negros, geralmente inexpressivos, agora refletiam a agonia que ela tentava esconder.

A gótica olhou para a cama de Enid, onde a amiga repousava tranquilamente. A visão da garota arco-íris ilesa trouxe um alívio momentâneo, mas a imagem do pesadelo persistia em sua mente. Wednesday sabia que era apenas um sonho, mas as emoções que ele evocava eram reais.

Enid, despertada pelo movimento de Wednesday, observou-a com uma expressão de preocupação. — Wednesday, está tudo bem? Você parece... perturbada.

O silêncio persistiu por um momento antes de Wednesday finalmente quebrá-lo. — Tive um pesadelo. Envolvia você e... Hyde.

A expressão de Enid tornou-se séria, e ela se levantou da cama, aproximando-se de Wednesday. — Hyde? Isso é estranho. Normalmente, essas coisas não te afetam.

Wednesday assentiu, sentindo um nó se formar em sua garganta. — Eu sei. Mas quando se trata de você... é diferente.

Enid envolveu Wednesday em um abraço caloroso, algo que a gótica geralmente evitava, mas naquele momento, ela não recusou. — Hey, não se preocupe. Foi só um pesadelo. Eu estou aqui, segura e bem.

A gótica apertou os olhos por um momento, tentando conter as lágrimas que teimavam em escapar. — Eu sei, mas... ver você daquela maneira, sem vida, me assusta. Eu não suportaria perdê-la, Enid.

Enid afastou-se um pouco para encarar o rosto preocupado de Wednesday. — Você não vai me perder, Wednesday. Estamos juntas nisso, lembra? Além disso, eu sou mais resistente do que pareço.

As lágrimas finalmente caíram dos olhos de Wednesday, trilhando um caminho silencioso por suas bochechas pálidas. — Eu sei, mas... eu não me perdoaria se algo acontecesse com você. Fui eu quem te deixou sozinha com aquele monstro.

Enid segurou o rosto de Wednesday com ternura, forçando-a a encarar seus olhos azuis. — Não é sua culpa, Wednesday. Nós dois enfrentamos Hyde juntas, e nós dois saímos ilesos. Além disso, você sabe que eu sou capaz de cuidar de mim mesma.

A gótica engoliu em seco, absorvendo as palavras reconfortantes de Enid. — Eu sei, mas ainda assim... Eu não consigo me livrar desse sentimento de culpa.

Enid sorriu suavemente, limpando as lágrimas de Wednesday com o polegar. — Vamos superar isso juntas. E se precisar, sempre estarei aqui para te confortar, mesmo durante os pesadelos mais sombrios.

O abraço entre as duas amigas perdurou por mais alguns momentos, oferecendo consolo mútuo em meio às sombras da noite. O quarto, antes envolto em silêncio e escuridão, agora abrigava uma conexão mais profunda entre Wednesday e Enid, uma que transcendia as diferenças e se fortalecia diante dos medos compartilhados.