Entre Gótico e Colorido

Capítulo 9

O dormitório de Wednesday estava envolto em uma penumbra suave, apenas a luz difusa de uma lâmpada iluminava a pequena escrivaninha. A gótica, habitualmente imersa em seus romances sombrios, tentava mais uma vez concentrar-se em sua máquina de escrever. No entanto, sua mente teimava em ser dominada por uma presença inconfundível.

A máquina de escrever ficou em silêncio quando Wednesday afastou as mãos dela, deixando escapar um suspiro de frustração. Seu olhar vagou pelo quarto, e seus pensamentos invariavelmente retornaram a uma figura loira, com olhos azuis que pareciam desvendar segredos profundos.

O som da porta se abrindo fez Wednesday se virar abruptamente, surpreendida pela entrada saltitante de Enid Sinclair. O rosto da loba irradiava alegria, um contraste notável com a aura gótica do quarto. Uma corrente elétrica pareceu percorrer o corpo de Wednesday ao ver Enid, e ela se esforçou para esconder a turbulência que a presença da loba causava em seu interior.

— Wednesday! Como vai, minha amiga gótica favorita? — cumprimentou Enid, o sorriso aberto iluminando o ambiente.

Wednesday, tentando manter sua compostura habitual, respondeu com um simples aceno de cabeça. — Estou bem. E você, Enid?

A loba se aproximou, sentando-se na borda da cama de Wednesday. — Estou ótima! Mal posso esperar para contar sobre as últimas fofocas e... o que está acontecendo? Você parece um pouco distraída.

A gótica desviou o olhar, tentando afastar os pensamentos tumultuados que a consumiam. — Não é nada, Enid. Apenas tentando escrever, mas as palavras não estão cooperando hoje.

Enid inclinou a cabeça, estudando o rosto de Wednesday com curiosidade. — Isso não parece só sobre a escrita. Você está bem mesmo? Pode me contar, você sabe que pode confiar em mim.

Um silêncio tenso pairou no ar enquanto Wednesday ponderava sobre suas próprias hesitações. Finalmente, ela soltou um suspiro resignado, cedendo à pressão interna. — Enid, é complicado. Eu... eu sinto algo que não deveria estar sentindo.

A expressão de Enid mudou de curiosidade para compreensão, e ela colocou uma mão suave no ombro de Wednesday. — Pode me contar, Wednesday. Somos amigas, certo?

A gótica desviou o olhar, sentindo o calor subir por suas bochechas pálidas. — É sobre você, Enid. Eu... Eu acho que estou começando a sentir algo além da amizade. E eu prometi para minha mãe que não me apaixonaria.

Um silêncio carregado preencheu o quarto enquanto as palavras de Wednesday ecoavam. Enid permaneceu em silêncio por um momento, absorvendo a confissão da amiga. Então, seu rosto se iluminou com um sorriso caloroso.

— Wed, isso é incrível! — exclamou Enid, parecendo genuinamente feliz. — Eu também tenho sentido algo diferente ultimamente. Parece que nossos corações estão seguindo o mesmo caminho.

A gótica olhou para Enid, surpresa pela reação positiva da loba. — Você não está chateada? Eu prometi que não deixaria isso acontecer.

Enid riu suavemente, retirando a mão do ombro de Wednesday para segurar ambas as mãos dela. — Willa, o amor não é algo que podemos controlar. Promessas do passado não podem impedir o que o coração deseja. E se eu disser que também tenho sentimentos por você?

A confissão de Enid pegou Wednesday de surpresa, seus olhos encontrando os de Enid em busca de confirmação. A loba assentiu, sorrindo abertamente. — Eu também, Wednesday. Acho que é hora de pararmos de resistir a isso e deixar o amor seguir seu curso.

As bochechas de Wednesday coraram intensamente, uma mistura de emoções invadindo sua mente. Antes que pudesse processar completamente o que estava acontecendo, ela tentou se afastar, mas Enid a segurou suavemente.

— Não precisa fugir, Wednesday. Estamos juntas nisso, seja lá o que for. — disse Enid, seus olhos azuis fixos nos de Wednesday.

A gótica, ainda um tanto atordoada pela reviravolta dos acontecimentos, assentiu lentamente. — Eu... Eu não sei o que fazer com isso, Enid. É tudo tão novo para mim.

Enid sorriu, acariciando gentilmente a bochecha de Wednesday. — Não se preocupe, vamos descobrir juntas. O importante é que estamos no mesmo barco agora.

As duas amigas, agora cientes dos sentimentos compartilhados, enfrentavam um território desconhecido. O quarto do dormitório, antes envolto em sombras, parecia iluminar-se com a promessa de algo mais.