Episódio 1 - Ferrer

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"Quando bate o medo do escuro, você vai pra sua cama. Agora, quando o medo vem de dentro, não tem pra onde correr, você não pode fugir de você."
-Ludo Viajante

20 de Abril de 2020 - Tarde 

   Um jovem caminhava pela rodovia BR-020 debaixo do Sol quente do Ceará, era vinte de abril de 2020. Ele usa uma máscara de gás com uma lente que reflete em azul, também se destaca por conta de seus cabelos brancos, cor muito incomum para um jovem, o resto de seu corpo é coberto por um casaco azul, calça jeans preta e um tênis preto comum. Ele carrega um carrinho levando armas e munição e uma mochila que pesa pelos alimentos e bebidas que ele leva, caminhando meio torto por conta da fibromialgia na sua panturrilha esquerda, ele geme de dor e cansaço, é aparente que está sofrendo de grande desgaste físico e cansaço.
    — Crateús, é pra lá que preciso ir. A mulher do rádio disse para todos os sobreviventes irem até Crateús, a cidade da salvação. — pensou ele quase desmaiando em meio à rodovia, quando de repente ele ouve um gemido ainda mais aterrorizante atrás dele, em meio às matas aparece mais um deles, mais dos mortos vivos que ele vem evitando bater de frente no caminho, em uma pequena quantidade que ele mal soube contar. Sete? Dez? Pouco interessava, ele precisava correr dali e rápido.

   O carrinho e a mochila dificultavam a sua corrida, afinal, se ele usasse qualquer arma dali poderia chamar a atenção de outros, e duvidava que poderia bater de frente com diversos deles no corpo-a-corpo. Após incansáveis dez minutos correndo, o garoto encontra uma casa próxima ao acostamento, aproveitando a distância que tem da pequena horda, ele para em frente à porta de madeira da casa e bate com força.
    — ABRA!!! POR FAVOR ABRA A PORTA, POR FAVOR PRECISO DE SUA AJUDA, EU... — pensou um pouco antes de falar — EU TENHO COMIDA, TENHO ARMAS E MUNIÇÕES!!!
    Antes mesmo de terminar de falar, ao falar sobre as armas, a porta rapidamente se abrira e ele nem mesmo esperou para ver o anfitrião da casa, entrou com tudo e caiu no chão, em sua visão estava aquele garoto claramente mais novo que puxou o carrinho que ele esquecera do lado de fora. A casa era uma casa tradicional de interior cearense, sem forro e com as paredes caindo aos pedaços e com as portas que abriam tanto em cima quanto em baixo. Estava tudo escuro pelo lado de dentro, era apenas visível parte da luz do Sol que passava pelas telhas. Antes de se levantar, o garoto aponta uma espingarda ao rosto do jovem dos cabelos brancos, e com uma voz franzina questiona:
    — Quem é você? Você foi mordido? Quantos deles estão atrás de você? Você está sozinh-
    —  Calma, CALMA MERMÃO! Vai mesmo usar minha espingarda contra mim? —  disse com um tom de voz irônico, interrompendo o garoto.
    — RESPONDE MINHA PEGUNTA Ô VACILÃO! — ameaça ao aproximar o cano da espingarda ainda mais do nariz do jovem mascarado.
    — Você pode me chamar de Kuroi.
    — Kuroi? Seus pais tem merda na cabeça? — zombou o garoto.
    — É meu apelido moleque, não tenho intenção alguma de te dizer meu nome de verdade. Agora deixa eu me levantar.
   O adolescente se senta numa cadeira próxima sem tirar os olhos de Kuroi, que se levanta cambaleando e procura a cadeira mais próxima.
    — Sinta-se a vontade, caubói. — disse o sarcástico garoto — Vou facilitar pra você, cada um faz uma pergunta, pode ser?
    — Pode pá. — afirmou Kuroi. — O seu nome, qual é?
    — Jonas, Jonas Laerte. Por que anda assim? É uma mordida?
    — Pensei que fosse uma pergunta por vez.
    — ...
    — Não, não é uma mordida. Quanto tempo se esconde aqui?
    — Te interessa?
    — Aí, por que você não vai tomar nesse teu cu, ein? — xingou Kuroi, claramente irritado com a atitude de Jonas, que aponta a espingarda novamente para Kuroi.
    — Faz umas semanas, eu era de Canindé, passei de casa em casa abandonada até achar essa daqui. E você, faz quanto tempo que anda por aí? — perguntou Jonas a Kuroi.
    — Vim da capital, tava na faculdade quando tudo começou. Eles fechariam o campus para a segurança dos estudantes, mas eu não pude ficar.
    — Por quê? — Jonas pergunta, curioso.
    — É... — Kuroi evita um pouco. — É complicado.
    — Acho que tô ligado. — compreendeu Jonas.

Albatroz: A PragaOnde histórias criam vida. Descubra agora