Episódio 14 - Mais Que Um Doutor

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"O médico que só sabe de medicina, nem de medicina sabe."
-Abel Salazar

10 de Maio de 2020 - Madrugada

Hospital São Lucas

   Era umas quatro da manhã, Tales estava em um plantão de doze horas, quando autoridades da CACE chegaram no hospital com dezenas de papéis. Tales os recebeu na recepção, perguntando do que se tratava. Acontecia que nove mulheres estavam desaparecidas na cidade, algumas tiveram o desaparecimento denunciando por familiares, outras tiveram sua ausência notada por vizinhos. A cidade de Crateús estava com cerca de trezentos e trinta refugiados da disseminação da praga, então o desaparecimento de nove pessoas, especificamente mulheres, era algo para suspeitar. Tales recolhe os papéis, distribui entre outros funcionários do hospital e começa a colar em diversas paredes e portas aleatórias do hospital. Entre os nomes estavam: Janaína Menezes, Elga Maria, Bárbara Souza, Antônia Miranda, Francisca do Rosário, Lizandra Carvalho, Maria dos Anjos, Luana Albuquerque e Isabella Duarte.
   Perto de umas cinco e meia da manhã, uma ambulância chega às pressas com uma paciente numa maca móvel, enquanto dois enfermeiros a carregam. Tales, que estava entediado, logo fica em alerta. Enquanto eles caminham às pressas em direção ao centro cirúrgico, Tales pede os dados da paciente, como onde foi encontrada, o que aconteceu com ela e o estado da pressão e respiração. Acontece que ela foi encontrada caminhando quase desacordada perto do bairro da Ilhota, um bairro que tem a entrada estritamente proibida e bloqueada pelas autoridades locais por razões desconhecidas. Por causa disso, acabaram se confundindo com um albatroz e denunciaram para a CACE. Tales tinha uma ótima memória e, logo, percebeu que, por mais que estivesse toda acabada, aquela mulher tinha diversas semelhanças com Isabella Duarte. Essa mulher era uma jovem adulta, tinha cabelos lisos e morenos que desciam até pouco acima dos ombros, sua pele era branca, mas por conta da sujeira estava completamente escurecida. Tales analisa cada olho dela com uma lanterna, seu olhas são de cor azul-escuro, mas a cor perdia seu destaque para os diversos vasos sanguíneos estourados, inclusive, seu olho direito estava roxo e inchado, seu nariz tinha um rasgo no septo nasal, como se alguém tivesse arrancado um piercing forçadamente.
   Os enfermeiros afirmam que sua respiração estava fraca, seus batimentos cardíacos desaceleram a cada segundo que passava e o seu corpo media mais ou menos quarenta graus. Eles finalmente chegam na sala de cirurgia, Tales analisa a situação da melhor forma que pode e, em menos de um segundo, já sabe o que fazer. Ele primeiro se equipou para realizar a operação, primeiro ele coloca seu avental, touca e máscara, mas não a antes de descontaminar as suas mãos e equipar suas luvas. Logo ao começar s operação, Tales coloca o tubo endotraqueal na boca da paciente com uma agilidade impressionante e o conecta ao ventilador mecânico. Os enfermeiros já ligaram o monitor cardíaco e o conectaram ao paciente. Por conta da ventilação mecânica, a saturação do oxigênio, que estava em 87%, começou a aumentar aos poucos. De repente, os batimentos cardíacos começaram a alternar entre perto de 125 bpm para perto de 57 bpm, os dados no monitor indicam uma fibrilação ventricular. Os enfermeiros, que estavam buscando equipamentos para uma administração de fluidos intravenosos, começaram a segurar a paciente pelos braços, com o intuito de não causar nenhum acidente. Tales, rapidamente, pega um desfibrilador e os coloca na posição ântero-lateral.
    — Um, dois. — ele conta, antes de aplicar o choque.
   Acontece que a paciente parou de convulsionar, porém, o monitor ainda indicava uma fibrilação, então Tales, mais uma vez, posicionou o desfibrilador aplicou o choque. Dessa vez, o monitor indicava uma melhora nos batimentos cardíacos. Os enfermeiros param de segurar a paciente, posicionam reta na maca e voltam a procurar os equipamentos para a administração de fluidos intravenosos. Tudo aquilo foi muito arriscado, tendo em vista que o hospital estava sem eletrocardiograma.
    — Quero uma administração de uma solução salina isotônica pra ela. Se nas próximas doze horas a febre não apresentar melhoras, quero que usem hidroxi-etil-amido. Se a pressão voltar a cair, quero que dosem ela com norepinefrina diluída, e quero que administrem bem a quantidade. — diz Tales, enquanto espera os enfermeiros anotarem. — Ah, limpem essa mulher pra evitar uma infecção e coloquem um curativo no septo nasal.
   Tales agora segue o rigoroso protocolo para tirar as vestimentas que ele utilizou na operação. Após ele e os enfermeiros retirarem as suas vestimentas, eles lavam as suas mãos com sabão e trocam de vestimentas, enquanto os enfermeiros levam a paciente para uma sala de recuperação, Tales segue para o refeitório, afinal, já são quase seis da manhã, e ele precisa comer após essa grande carga de adrenalina.

Albatroz: A PragaOnde histórias criam vida. Descubra agora