Episódio 10 - Pacto Com a Morte

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"A coisa mais importante na vida é conhecer Cristo e experimentar o poder de sua ressurreição."
-Rick Warren

30 de Abril de 2019 - Madrugada

   Já havia acordado faz uns cinco minutos, nunca teve uma noite tão boa em anos. Não conseguia saber que horas eram, mas pelo que conseguia ver, alguns já haviam acordado através da luz que passava na fresta da porta. Em menos de cinco segundos, o alarme do seu celular começa a tocar, são quatro e meia da manhã. Matheus se levanta com calma e paciência e segue em direção ao banheiro do seu quarto, que na verdade é bem confortável e bonito. Matheus sobe a tampa da privada, que é feita de algum material que parece preta e tem e cor preta, e começa a dar aquela urinada matinal. A saúde de Matheus é algo a se surpreender, afinal, sua urina, logo de manhã cedo, é completamente transparente, e ele deve ter urinado ao menos uns setecentos mililitros. Após urinar, já tira sua roupa de uma vez, e sem querer se vê no espelho. Já faz um tempo que ele não se admira através de seus reflexos, os tempos têm sido tão corriqueiros que ele não tinha mais tempo para esse tipo de coisa, mas naquele momento, naquele momento ele tinha tempo para tudo. Seus músculos não são volumosos, mas são definidos e sem gorduras, isso se deve à restrita dieta que ele vem seguindo nos últimos anos. Nos últimos anos... A quanto tempo ele não vivia? Em suas férias tem apenas treinado mais e mais, nos tempos livres ficava estudando. Tinha um salário de R$4.557,62, mais do que o suficiente para sustentar a si e ao seu avô, que morava junto com ele. Matheus pensa em tudo isso enquanto toma o seu banho gelado. Os seus cabelos já estavam um pouco grandes e ele os penteava partindo no meio. Vendo caírem gotas de água dos seus cabelos molhados, Matheus imagina que já é hora de tirar eles dali. Quando finalmente sai do banho, Matheus pega a sua máquina que ele deixava guardado numa gaveta debaixo da pia e a liga, sem aparição, apenas na zero. Logo após raspar todo o seu cabelo, ele lava a sua cabeça que tinha apenas alguns milímetros de fios de cabelo arrepiados. Quando levanta a sua cabeça, vê o seu rosto que ele sempre cuidou tão bem. Sempre gabou a si mesmo por ter um rosto tão bem cuidado, mas agora, seu rosto estava com olheiras claramente evidentes e com marcas de expressão, o seu corpo estava mais pálido do que nunca, parece que usar um uniforme militar o dia inteiro tinha seus malefícios.
   Em menos de dois minutos, Matheus colocou o seu uniforme da Polícia Militar. Ele vestia uma camisa verde de manga curta que carregava uma insígnia que indicava a sua patente - terceiro sargento -, enquanto a sua calça era da mesma cor que a camisa. No seu cinto, ele carrega um revólver, um spray de pimenta, algemas e um rádio comunicador. A sua boina verde tinha uma insígnia que indicava que Matheus era da Polícia Militar do Ceará. A suas botas, também verdes, estavam confortáveis e amarradas por um nó de escoteiro, o preferido de Matheus, impossível de se desamarrar acidentalmente.
   Matheus sai do seu quarto e desce as escadas, já consegue sentir o cheiro de café vindo da cozinha e ouvir os assobios encantadores de um homem velho. Quando chega na cozinha, a luz está acesa, iluminando todo o cômodo, o Sol ainda demoraria uns minutos para nascer. Da porta do quintal, surge ele, o seu Pedro, um idoso de mais ou menos uns setenta e cinco anos que cuidava de Matheus desde que seus pais o abandonaram. Seu Pedro tinha todos os seus fios de cabelos grisalhos na cabeça e uma barba linda e bem feita. Seus olhos, assim como os de Matheus, eram de cor azul-piscina. Seu óculos era redondo e possuía uma cor negra que filtrava a luz solar. Seu Pedro era uns trinta centímetros menor que Matheus, que tinha um metro e oitenta e oito. Quando entra na cozinha, seu Pedro se surpreende com a presença de Matheus e ergue um grande sorriso.
    — Anda, fí. Se senta, o café tá um ouro, menino, um ouro! — disse seu Pedro.
    — Brigado, vovô.
   Matheus se senta e começa a cortar um pão salgado, que estava quentinho.
    — Mas esse pão tá bem quentinho, ein vô? Dona Helena acordou cedo pra fazer? — perguntou Matheus.
    — Dona Helena agora tá acordando cedo filho, depois que o Maico se foi, ela não dorme mais. — afirmou seu Pedro, com um tom de voz triste, enquanto lavava a pouca louça da pia.
    — Maicon, vô, era Maicon o nome dele. Mas eu ainda não entendi direito sobre a morte do menino. Como que foi isso daí?
    — Ah meu filho, eu fico eufórico só de contar. O Maico tinha desaparecido já fazia uma semana. Depois que a polícia civil encontrou o menino, ele tava comendo um cachorro vivo. O coitadinho tinha sido largado todo violentado num rio perto de Canindé e foi deixado pra morrer de fome. Quando o Maico chegou no hospital ficou internado por três semanas, mas morreu duma parada cardíaca.
    — Tá vendo? É isso que eu não entendo. Violentado como? Por que ele tava comendo um cachorro? E de onde veio essa parada cardíaca? Maicon era uma criança muito pequena pra algo assim acontecer com ele, não é justo.
   Maicon era uma criança de sete anos, neto da dona Helena, a padeira da rua.
    — Aaah, meu filho. Só Deus pode proteger as crianças dos males do mundo, mas se nem isso ele tá fazendo, então que Deus tenha piedade de todos nós. — diz seu Pedro.
    — Amém, vovô. Amém

Albatroz: A PragaOnde histórias criam vida. Descubra agora