A Rebelião (TobiIzu)

XIX

9 meses atrás

Madara caminhava lentamente entre a multidão na calçada movimentada do comércio. A cabeça estava baixa enquanto a nuca suava mesmo que seu cabelo estivesse amarrado em um coque alto abaixo de um gorro, na tentativa de esconder sua identidade. Mesmo que a maioria das pessoas não decorassem seu rosto por não aparecer na mídia a todo momento, não gostaria de ser abordado de nenhuma forma naquele instante, então continuou com o caminhar sobre o sol — que particularmente estava dando uma sensação escaldante naquele dia em específico — até conseguir chegar ao final da avenida e virou para a direita, já bastante perto da ponte onde existia a divisa entre Voltaire e Malkyn, que naquele momento estava desgastada, com marcas de passos e sangue. Suspirou aliviado e tirou o gorro da cabeça ao notar que não tinha muitas pessoas transitando por ali. Se abanou com o tecido enquanto continuou a andar até chegar perto do cais comercial, onde os barcos mercantis chegavam para levar ou trazer cargas de outras cidades.

Colocou o gorro no bolso e soltou o cabelo, indo para detrás das caixas e seguindo caminho rapidamente até que enfim alcançasse a silhueta sentada sobre o cais, observando o mar enquanto os cabelos ficavam se bagunçando por causa do vento. O Uchiha se interrompeu por um momento, não contendo o pequeno sorriso e o suspiro breve que saltou de seus lábios sem sua permissão. Seu coração bateu mais forte, lhe dando coragem para os pés continuarem até que sentasse ao lado do homem distraído, que percebeu sua presença, mas não se virou para observá-lo.

— O mar está agitado hoje. — foi a primeira coisa que lhe disse, e o menor então levou a atenção às águas que seguiam até o limite do horizonte

O azul refletia a luz incessante do céu aberto, e o cheiro salino e refrescante tomava conta de seu corpo.

— Você está bem? — foi direto ao assunto, se escorando na parede e encarando Hashirama diretamente, mesmo que esse continuasse a apenas olhar para o mar — Sabe, por ontem...

O Senju colocou um sorriso frouxo no rosto, agora desviando a atenção para o seu colo e mexendo nervosamente com os dedos. Madara quis ir até ele e lhe abraçar apertado, mas apertou os próprios joelhos com os braços para se conter.

— Uma pessoa morreu. — ele murmurou, mas o local estava silencioso o suficiente para que o Uchiha conseguisse ouvir. Automaticamente as sobrancelhas negras se juntaram, e o maxilar trincou, observando o olhar baixo do outro

— Eu não fiquei sabendo disso... — respondeu, afinal, nenhum dos conselheiros lhe informou sobre aquilo

— Era uma garota, já veterana. — o maior informou, a voz fraca — Tinha dezessete anos. O tornozelo se torceu por causa de um cassetete e caiu no chão no meio da fuga. Foi pisoteada e as costas viraram carne viva. Nós conseguimos pegar ela e levar até nossa casa, só que já havia morrido de hemorragia antes de a colocarmos sobre a maca.

A face de Hashirama se torceu, e não foi com surpresa que o mais baixo observou uma fina lágrima descer pelo seu rosto. O Senju tentou esconder o rosto, mas antes que o pudesse, Madara já estava colocando os braços ao redor de seu corpo e o puxando para um abraço reconfortante. O maior apenas colocou a cabeça sobre seu ombro e chorou silenciosamente. O Uchiha trouxe o corpo dele para mais perto, sentindo o corpo dele entre suas pernas e os braços ao redor de sua cintura. A única coisa que ouviu por minutos foi os baixos soluços e suspiros de Hashirama e o assobio do vento na paisagem, sentindo a maciez dos fios do Senju e seu corpo quente através da camisa.

— Sabe que não poderia fazer nada. — disse baixo após alguns minutos, quando o outro já parecia mais calmo. Continuou acariciando suas costas, não querendo que ele se sentisse pior do que já estava — Às vezes essas coisas acontecem, e não temos ninguém a quem culpar além dos que fizeram isso com ela. Você não foi um deles, então não se culpe.