Capítulo 14

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Memphis, Tennessee 

É uma verdade universalmente conhecida que um homem solteiro, possuidor de uma boa fortuna, deve estar necessitado de uma esposa.

O vento de verão soprava de forma cálida em meus cachos enquanto eu começava mais um livro, um clássico comum dessa vez. Sentada em um banco de madeira pintado de branco em uma propriedade comum no Tennessee, eu esperava que Klaus e Stefan terminassem o serviço. Desviando por alguns instantes das palavras à minha frente, observei a noite calma ao meu redor, tranquila, com poucos postes de luz, sem vizinhança próxima e um belo céu estrelado. As cidades do interior sempre eram as mais bonitas, o sul dos Estados Unidos ainda mantinha grandes campos e áreas verdes, principalmente o interior, denunciando o passado latifundiário e monocultor. Era bom o silêncio e o ar puro que não podia ser encontrado nas cidades grandes, pena que para mim, essas coisas nunca duravam muito.

Está enganada, minha cara. Tenho muito respeito pelos seus nervos. São os meus velhos amigos. Venho escutando você falar a respeito deles com grande consideração, pelo menos durante esses últimos vinte anos.

Não tinha como eu não gostar do senhor Bennet, o homem sabia como se divertir. Depois de alguns anos de casamento com uma mulher não muito inteligente e um tanto fútil, ele encontrou uma maneira de se manter entretido ao longo dos anos, irritando a esposa e fingindo-se de desinteressado para ver os "nervos da senhora Bennet" em frangalhos, pobre mulher, mal sabia das artimanhas do marido.

De repente, antes que eu conseguisse começar a ler novamente, o silêncio da noite foi quebrado.

Gritos

— Stefan vai demorar muito dessa vez? Estou com fome. — Levantei do banco e fechei o livro acompanhado Klaus até a caminhonete, deixando os gritos ecoarem no vento, ninguém escutaria.

— Não desta vez, pedi para que ele demorasse um pouco apenas em uma delas. A loira teve uma morte rápida. — O apito que o carro sempre fazia quando era destravado mal pode ser ouvido, essa era uma daquelas vítimas escandalosas.

— Tudo bem, finja que poupou a loira de uma morte dolorosa apenas porque ela cooperou com você e não porque ... Bem, você sabe. — Abri a porta do carona e sentei confortavelmente no banco, guardando o livro na bolsa e esperando que Klaus entrasse também.

— Não lembro quando dei permissão para você ser petulante comigo, bruxinha — Klaus fingiu um tom ameaçador enquanto se acomodava no banco do motorista colocando a chave na ignição deixando-a pronta para aquecer o motor do carro quando Stefan chegasse.

— Perdoe-me, senhor, isso não acontecerá de novo — respondi em um tom de falsa submissão, sem esconder o sorriso sarcástico que se abria no meu rosto enquanto Klaus me observava pelo retrovisor.

Ficamos em silêncio, encerrando a conversa fiada. Foquei meus olhos na imagem da casa branca à minha frente, esperando que Stefan aparecesse para que pudéssemos seguir viagem. Os minutos de espera e silêncio não eram ruins, mas estranhamente reconfortantes. Sempre estávamos imersos em gritos horrorosos de quem estava cara a cara com uma morte brutal, então sempre que a oportunidade de silêncio chegava, eu a aproveitava, pena que não durava tanto. Depois de quase dois meses dentro de um carro com Stefan e Klaus, a companhia deixou de ser tão desconfortável, no entanto, eu preferia os momentos de silêncio compartilhados com Klaus, Stefan sempre fazia que com que algo dentro de mim se agitasse e que o vazio dentro de mim se contorssece, talvez porque ele me lembrava demais do que eu tinha deixado para trás e de quem eu havia me tornado. Eu sabia quem eu era e o que tinha feito, Stefan Salvatore com os seus olhos de herói abatido não precisavam me lembrar, eu o odiava mais ainda por isso.

Jessica Martin Onde histórias criam vida. Descubra agora