Capítulo 15

58 12 0
                                    

Harry lambeu os lábios nervosamente, estremecendo ao sentir como eles estavam rachados. Para poupar a garganta, ele sussurrou hesitante.

— O que aconteceu ?

Houve um silêncio tão longo que as lágrimas arderam nos olhos de Harry, pois ele pensou ter imaginado a presença de Draco. Então, um corpo quente pressionou suas costas e ele foi abraçado novamente.

Harry soltou uma lágrima de alívio, enquanto se apoiava em Draco. Ele sussurrou a pergunta que estava se fazendo apesar de tudo, odiando a incerteza em sua voz.

— É real, não é?

Draco rosnou levemente, parecendo ao mesmo tempo exasperado e preocupado.

— Droga, Potter! Você não consegue cuidar de si mesmo?

Harry soltou um breve suspiro, mas não disse as palavras que sua mente estava gritando. Ele teria gostado de dizer a Draco que precisava dele, mas se recusou a parecer tão desesperado.

Draco o abraçou um pouco mais forte e finalmente respondeu sua pergunta.

— Você... Encontrei você em completa hipotermia. Aliás, numa praia deserta. Estamos na casa de Gui e Fleur Weasley.

Harry hesitou brevemente, antes de suspirar.

– A casinha de concha. Já se passaram anos desde que estive aqui.

Draco respondeu imediatamente, num tom neutro.

— Você nunca me contou sobre esse lugar.

Harry suspirou e fechou os olhos, saboreando a sensação de estar nos braços de Draco mais uma vez. Num tom quase ausente, ele respondeu, como se isso não importasse nem um pouco.

— Há lembranças ruins aqui.

Depois de um longo silêncio, Draco continuou implacável.

— Dobby?

Harry resistiu à tentação de afastá-lo ou silenciá-lo. Draco sempre foi assim, levando-o ao limite, fazendo-o falar até explodir e chafurdar em silêncio, exasperado.

Ele nunca tinha sido capaz de se esconder dele quando não se sentia bem ou quando algum assunto o incomodava, e às vezes a insistência de Draco levava a discussões.

Harry gritou e Draco respondeu, sem recuar. Aí ele acabou se acalmando, vazio, mas com a mente mais clara.

O pensamento de que Draco havia partido finalmente entrou em sua mente e ele o afastou com firmeza antes de responder com uma voz estrangulada.

— Dobby morreu nesta praia, sim. Nos meus braços. Ao nos salvar.

Harry conhecia Draco tão bem que quase podia sentir as engrenagens de seu cérebro girando, enquanto tentava colocar essa informação entre todas as memórias que já havia compartilhado com ele. Ele suspirou e deu-lhe a resposta sem demora, esperando que não houvesse mais perguntas depois.

— O dia em que fomos pegos por invasores. Ele nos tirou da Mansão Malfoy e... Ele foi acertado por uma faca por Bellatrix.

Ele sentiu Draco tenso contra ele e Harry se perguntou o que o fez reagir. Eles sempre evitaram mencionar esse dia, até agora. Harry sabia que Draco se sentia terrivelmente culpado por não ter intervindo enquanto Hermione estava sendo torturada diante de seus olhos.

Em vez de proferir palavras vazias, Harry agarrou a mão de Draco e apertou-a levemente, tentando fazê-lo entender que não havia mais nada que ele pudesse ter feito.

A conversa parecia ter acabado, então Harry se deixou cochilar, aproveitando um pouco daquela ternura que tanto sentia falta.

Ele deixou sua mente vagar, quando uma lembrança se destacou e o deixou tenso.

Horrorizado, ele lutou para sair do casulo de cobertores que Draco havia criado para eles, afastando-se o máximo que pôde do jovem, com os olhos arregalados e sem fôlego.

—  Você vai se casar?

Draco ainda estava imerso nas lembranças dolorosas da guerra e mais precisamente do momento em que descobriu Harry Potter na mansão da família, desfigurado, mas igualmente combativo.

Naquele dia... ele não conseguiu denunciá-lo. Se ele tivesse apenas acenado com a cabeça, sua família teria se tornado a favorita de Voldemort e provavelmente teria sido recompensada. Eles não teriam mais que temer por suas vidas.

No entanto, ele não foi capaz de fazê-lo. Seu pai ainda estava bravo com ele por causa disso... mas Draco não se arrependia.

Ele sabia muito bem qual destino aguardava Harry. Voldemort o teria torturado por muito tempo antes de matá-lo.

Após a fuga, sua tia maluca descontou sua frustração nele, jogando Maldições Cruciatus sobre ele enquanto gritava, deixando-o à beira da loucura. Seu pai lançou-lhe um longo olhar desapontado e saiu da sala sem falar com ele, enquanto sua mãe chorava silenciosamente, sem sequer tentar intervir.

Aquele dia foi a primeira vez que ele se arrependeu de seu sacrifício. Ele pensou que talvez não devesse ter feito tudo para salvar seus pais.

Ele os amava, é claro, mas afinal, os erros eram deles, não dele.

Esse pensamento retornou com cada vez mais frequência até a Batalha de Hogwarts, envenenando sua mente e deixando-o doente.

Draco abraçou Harry um pouco mais forte ao senti-lo relaxar, então de repente o jovem começou a se debater violentamente e o empurrou, saindo do abrigo do cobertor como se estivesse fugindo da peste.

Essa reação quase instintiva o machucou, mas o mais importante foi que o deixou confuso, até que Harry engasgou, horrorizado.

— Você vai se casar?!

Ele não tinha certeza se era uma pergunta ou uma afirmação, então ergueu os olhos, aproveitando o tempo para encarar Harry mais uma vez.

O brilho febril nos olhos dele o preocupou e ele tentou não estremecer quando viu suas bochechas emaciadas. Em vez disso, ele recuou lentamente e sussurrou, como se estivesse falando com um animal selvagem.

— Volte para debaixo das cobertas Harry. Eu vou explicar. Não é o que você pensa...

Porém... Harry era teimoso. Era uma falha que ele às vezes amava, mas muitas vezes odiava. Depois que ele teve uma ideia na cabeça, não havia como mudar de ideia. Ele permanecia teimoso, sem se importar se estava certo ou errado.

Harry gemeu, balançando ligeiramente enquanto se levantava para encará-lo.

— Não é tão difícil. Você vai se casar ou não?

Exasperado, Draco gemeu e soltou o que estava em seu coração.

— Você nunca veio me buscar! O que você imaginou, que eu iria passar a vida esperando?

Coeurs brisés Onde histórias criam vida. Descubra agora