Capítulo 18

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Chegando na cozinha, Draco deu um breve sorriso agradecido ao ver a sacola cheia de compras deixada para eles. Hermione obviamente havia pensado em tudo, fornecendo alimentos básicos, mas também algumas refeições preparadas.

Ele puxou um pote de sopa, cuidadosamente etiquetado, indicando que havia sido feito por Molly Weasley. Draco suspirou melancolicamente ao se lembrar da recepção calorosa que a mãe de Ron lhe dera, apenas porque isso trouxe um sorriso de volta ao rosto de Harry. Temporariamente, pelo menos.

A essa altura, a boa mulher já deve odiá-lo e ameaçado expulsá-lo de casa com uma vassoura...

Entretanto, a sopa seria perfeita para a refeição. O fato de ela já estar pronta significava que ela não ficaria longe de Harry por muito tempo.

Ele estava voltando para a sala quando Harry começou a se mexer, com as sobrancelhas franzidas.

Draco soube imediatamente que os pesadelos haviam retornado e correu para abraçá-lo e falar com ele, tentando acordá-lo gentilmente.

Nas primeiras noites que passaram juntos, Draco ficou surpreso ao ver a violência dos pesadelos que Harry estava experimentando. Ele rapidamente adquiriu o hábito de intervir assim que começava a ficar um pouco mais agitado e as noites deles foram melhorando gradativamente.

Harry sempre se recusou a falar sobre seus pesadelos, desviando habilmente a conversa e apenas mencionando que eram lembranças dolorosas da guerra. Seu olhar permaneceu assombrado, provando que havia mais.

Draco nunca insistiu, mas estava começando a dizer a si mesmo que estava errado. Ele deveria ter feito Harry falar sobre isso, forçado-o a enfrentar seus medos para que pudesse se libertar deles.

Quando Harry começou a ofegar, seus movimentos se tornando quase desordenados, Draco o sacudiu com firmeza e o chamou gentilmente.

— Harry, está tudo bem. Você está seguro. Acorde, querido.

Ele havia feito esses gestos tantas vezes que se tornaram habituais e ele sentiu como se estivesse voltando ao passado, antes que suas histórias terminassem abruptamente.

Harry abriu os olhos de repente, a boca aberta em um grito silencioso, o olhar vago. Ele reflexivamente agarrou Draco, murmurando algo sobre derramar sangue.

Perplexo, Draco o questionou, tentando entender. As palavras de Harry foram apressadas e um pouco entrecortadas, mas Draco entendeu imediatamente.

— Tem muito sangue! Eu não queria. Eu não sabia. Eu te machuquei, sinto muito...

As próprias memórias de Draco tomaram conta dele quando ele se lembrou daquele dia, anos atrás, em Hogwarts. Ele estava desesperado e perdido. Harry Potter o espionava constantemente, deixando-o louco.

Eles haviam entrado em confronto. Draco lançou a primeira maldição, porque estava com raiva de Harry por complicar a situação. Ele já se sentia tão culpado, tão sujo...

E então, de repente, Harry lançou uma maldição desconhecida que atingiu Draco bem no peito. Ele desmoronou em descrença e seu sangue começou a fluir.

Ele pensou que iria morrer. Ele esperava morrer. Harry estava ao lado dele, desesperado, implorando para que ele vivesse, mas ele imaginava estar finalmente livre, livre de todas as suas obrigações. Ele não teria mais que matar Dumbledore e trazer monstros para o meio das crianças... ele não seria punido por seu fracasso.

Exceto que ele foi trazido de volta à vida por Snape.

Draco balançou a cabeça e segurou o rosto de Harry com as mãos, chamando-o para fazê-lo ouvir.

— Harry. Eu estou aqui. Estou bem. Olhe para mim. Acabou, foi só um pesadelo.

Harry soluçou nervosamente, parecendo um garotinho terrivelmente frágil. Draco o abraçou firme, ainda murmurando palavras de conforto para ele, tentando trazê-lo de volta ao presente.

Ele sentiu que não teria sucesso. Que Harry finalmente se perdeu no passado, nos piores momentos de sua vida. Seu olhar vago e quase catatonia preocuparam Draco, e o pânico tomou conta dele enquanto ele se perguntava o que fazer.

Depois de muito tempo, Harry finalmente se acalmou, mas não soltou Draco. Ele o abraçou, quase convulsivamente, respirando com dificuldade.

— Droga, Harry… está tudo bem. Estou aqui, lembra?

Draco pensou que não teria uma resposta, mas depois de um longo momento, Harry murmurou, com a voz rouca.

— Eu sinto muito.

Draco rosnou, preferindo mostrar seu aborrecimento ao invés de medo.

— Achei que esse assunto estava resolvido? Droga, Harry! Estou bem. Eu não te culpo, eu já te disse!

Harry gemeu e encolheu os ombros. Draco imaginou perfeitamente as sobrancelhas franzidas e a expressão teimosa dela.

— Bem, eu me sinto culpado! Eu quase matei você!

Draco beijou sua bochecha suavemente, observando suas feições tensas por um breve momento antes de suspirar. Ele sussurrou sem tirar os olhos de Harry.

— Snape me curou. No dia seguinte, eu estava de pé, não o suficiente para capturar um pelúcio. Além disso… você sabe muito bem o que eu teria feito… Se você…

Harry o deteve, tenso, parecendo horrorizado.

— Nem se atreva a sugerir que eu deveria ter matado você.

Draco suspirou mais uma vez e fungou, tentando minimizar o incidente.

— Harry, não éramos tão próximos naquela época. Estávamos em guerra. Nós... poderíamos ter morrido também, você sabe.

Harry soltou um gemido horrorizado. Ele se levantou e enxugou os olhos com raiva, lutando contra os restos de seu pesadelo.

— Não é…

Ele fez uma pausa, sua voz embargada. Draco o puxou para seus braços — ignorando sua breve resistência — para abraçá-lo com força. Ele passou a mão pelos cabelos dele, repetidas vezes, em uma carícia reconfortante.

— Harry… você não pode continuar assim. Você está se destruindo. Sinto muito por não ter entendido isso...

Harry enrijeceu em seus braços e sussurrou, em tom cauteloso.

— O que ? Eu não entendo…

Após um breve momento de reflexão, Draco sussurrou.

— Você deveria estar feliz, Harry. Depois de tudo que você passou, depois de tudo que você sofreu... Chegou a hora de você seguir em frente e deixar o passado para trás.

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