Um estranho a nossa porta

78 12 0
                                    

-Estou aqui, tia. Estava perguntando a Peter sobre os livros que ele trouxe.
Ela me olha como se não acreditasse, mesmo assim faz que sim com a cabeça e pega na minha mão enquanto me leva até o balcão.

-Darla, já tive sua idade. Não sou nenhuma idiota. Pensa que não notei que todas as segundas você e Peter se encontram aqui?

Eu fico pasma e embora quisesse negar, era bom ter alguém com quem compartilhar esse sentimento, já que nem para Amber contei sobre Peter.

-Prometa-me que não contará ao Papai. -eu aperto suas mãos e suplico.

-Caso Angus fique sabendo, certamente não será por mim. Só tenha cuidado, Darla. Assim como eu percebi, outras pessoas podem ter percebido.

-Tem razão, tia. Prometo que serei cuidadosa. Obrigada por me ajudar nisso.

Peter pareceu ouvir nossa conversa e eu ouço os sinos da porta tocando enquanto ele se vai. Tia Gladys chama minha atenção e eu volto a realidade
.
- Darla, mais uma coisa...

-Sou toda ouvidos, tia.

-Peça para que Peter te conte sobre o pai dele.

-Por que, tia?

-Só faça o que estou dizendo. Ele já devia ter te contado. Agora é hora de ir embora, seu pai deve estar preocupado.

-Sim, tia.

No caminho para casa eu penso em tudo que tia Gladys me disse. O que Peter deveria me contar sobre o pai? Parando pra pensar. Ele nunca nem tinha mencionado o nome do pai comigo, a única coisa que eu sabia era que ele tinha desaparecido em combate há 5 anos. A ansiedade para ver Peter vira curiosidade e aflição pelo que não sei. Mal posso esperar para nos vermos de novo.
***

Chego em casa e tiro o lenço, pendurando-o no cabide. Amber pula enquanto me recebe na porta.

-Darla, Darlinha. Não vai acreditar em quem vai oficialmente pedir minha mão nos próximos dias.

-Ora, já? Mr Comudus está saindo melhor que a encomenda.

-Ele é tão lindo, Darla. Seus olhos são cinzas, penetrantes. O seu rosto é pálido, pálido do tipo vampiresco, seus lábios são vermelhos e sua voz... A sua voz parece a de um trovão. Eu nunca em toda minha vida vi um homem tão bonito.

Por um momento eu mordo o lábio e penso no quão Amber acharia Peter lindo se o visse. Infelizmente não posso contar nada a ela. Embora seja minha irmã querida, ela desaprovaria nossa relação escondida.

-Parece que ele não é tão velho como o nome.

-Está brincando? Tem que ver ele, Darla. Acredite em mim.

-Vocês conversaram?

-Não, ele é um homem muito calado. Quando esteve aqui apenas conversou com papai durante a visita enquanto eu os observava.

-Acha que poderá se apaixonar por ele, Amber? Não sente medo de não amar?

-O amor vem com o tempo, Darla. Ele parece um bom homem. E tem dotes. O que mais uma moça como eu poderia pedir?

As vezes Amber parecia tão interessada em dinheiro que parecia impossível ela entender o amor que sinto por Peter. Um amor puro. Sem nenhum interesse.
Ela me tira dos meus pensamentos e diz:

-Venha, Darla. Preciso me arrumar. Mr Comudus disse que jantaria conosco hoje. Quero que o conheça finalmente.

Embora não tivesse muita vontade de conhecê-lo, seria bom afastar meus pensamentos de Peter por um minuto.
Meu coração apertava em pensar que ele pode estar omitindo coisas de mim.

-Certo, Amber. Eu vou subir e tomar um banho e já desço para conhecer Mr Comudus, o bonitão.

Amber leva a mão a boca e cora. Ela deve estar mesmo muito apaixonada por ele.

***

Saio do banho e procuro um vestido bonito, devo estar apresentável para conhecer Mr Comudus. Ele deve ser um homem acostumado com mulheres deslumbrantes. Embora não fossemos nem de longe pobres, ele pode achar que nós não estamos a sua altura.
Escolho um vestido de cetim azul, o cabelo preso em um coque com mechas caindo no rosto me dá um ar angelical. Olho-me no espelho enquanto Amber se banha em perfume.

-Desse jeito você vai intoxicá-lo, Amber.

-Eu sei, eu sei. Estou nervosa, Darla. E se ele desistir? E se não tiver gostado de mim mesmo?

-Veja só, Amber, quem em sã consciência não gostaria de você?

Amber parece se acalmar um pouco e sai do quarto em disparada quando ouve a porta da sala se abrir.

Termino de me arrumar e desço as escadas.

Mr Comudus está conversando com papai na sala principal quando me vê descer as escadas, de repente a conversa cessa. Desço as escadas lentamente enquanto olho para ele, tentando entender porque ele parou de falar. Mr Comudus é tudo o que Amber disse, ele é realmente um homem muito bonito. Quando finalmente chego a sala a conversa recomeça.

-Veja, Mr Comudus, essa é Darla, minha filha mais nova.

Eu estendo a mão e ele a pega, seus dedos seguram os meus firmemente enquanto ele leva minhas mãos aos lábios para beijar.

-Prazer em conhecê-la, senhorita Darla.

Sinto uma fisgada me subir a espinha enquanto tiro a mão rapidamente.

-Igualmente, Mr Comudus. Fico feliz em ter sua agradável presença em nossa casa hoje. Minha irmã Amber está muito animada em vê-lo.

Papai franze o cenho como quem desaprova meu comentário. Que diabos eu estava pensando? Ele irá pensar que Amber é uma atirada. Papai conduz Mr Comudus a sala de jantar enquanto me lança um olhar fatal.

Nós nos sentamos e a criada serve o jantar. Amber segura minha mão e aperta a cada dois minutos. Ela deve estar ansiosa, afinal o jantar já estava acabando e Mr Comudus ainda não fez o pedido oficialmente.

Casamento Arranjado - Um Breve ContoOnde histórias criam vida. Descubra agora