O bonzinho não é tão bonzinho assim

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Amber me alcança e vamos para nossa casa, durante o caminho não trocamos uma palavra sequer.
Quando chegamos em casa papai nos espera na sala junto com Mr Comudus.
Ele veste um terno cinza, perfeitamente polido, que contorna seu corpo deixando transparecer sua boa forma.

Subo as escadas correndo e Amber me acompanha. Papai me grita enquanto corro mas eu não respondo. Entro no quarto e conto tudo a Amber.

-Você acha que devo perdoá-lo, Amber? - eu pergunto confusa.

-Definitivamente não! Mr Comudus será um bom marido. E Peter já mostrou que não é confiável.

-Ele fez aquilo pensando no melhor para mim. Eu quase consigo entender.

-Darla, quando estamos apaixonados só vemos aquilo que queremos ver. É como se uma fenda cobrisse nossos olhos para realidade.

-Eu sei, eu sei... - meus olhos voltam a marejar, - Mas eu não tenho certeza se quero me casar agora, sabe? Está tudo tão recente.

-Papai não aceitaria, Darla. Você já o magoou demais. Se recusar talvez ele te expulse de casa.

-Tem razão. Não estou em posição de escolher.

-Seu noivo bonitão está lá embaixo, porque não o mostra o jardim? Faz tanto tempo que você não rega suas orquídeas. Eu até tentei regar nesse tempo em que você estava doente, mas os cuidados com você me impediram de fazer isso todos os dias.

-Obrigada por ser tão boa comigo, irmã. - eu digo, abraçando-a e levantando para ir.

-Darla, antes de você ir. Tem uma coisa que quero te perguntar...

-Pode perguntar o que quiser. - falo me sentando novamente na cama.

-Até onde você e o Peter foram? Sabe, não estou desrespeitando você, mas vocês ficaram juntos por dois anos escondido. Nós mulheres somos um pouco emotivas. Algumas passam dos limites...

-Não fiz mais do que beijá-lo. Apesar de tudo, ele sempre me respeitou. Nós iríamos nos casar, Amber. Estávamos nos guardando um para o outro. E agora...

-Agora o que? - ela me interrompe.

-Agora vou me casar com outro homem. E quando ele quiser me tocar? O que vou fazer? Não posso rejeitá-lo, mas não quero fazer isso sem estar apaixonada.

-Tenho certeza que Mr Comudus é um homem bom e terá paciência em esperar por você.

-Tomara que sim.

Volto a ficar nervosa de novo, então saio do quarto e convido Mr Comudus para conhecer o jardim.

***

-Por que a senhorita entrou daquele jeito em casa? -ele pergunta confuso

-Não vou mentir para o senhor. Não poderia depois de tudo o que está fazendo por mim. Encontrei Peter quando fui provar uns vestidos na cidade.

Ele franze as sobrancelhas, como quem tenta entender como me sinto sobre isso. Seu punho está cerrado mas quando eu noto ele relaxa outra vez. Toco seu antebraço e ele diz.

-Ainda tem sentimentos por ele?

-Sim, tenho. Mas não vou enganá-lo. O senhor é um homem bom. Não me encontrarei com Peter.

-Não sou um homem tão bom assim, Darla.

-Por que diz isso?

Ele se vira de costas e recomeça.

-Na noite em que você foi encontrá-lo eu estava passando e os vi. Eu parei por um momento e ouvi toda a conversa. Eu disse a ele para deixá-la em paz. Para não desonrá-la assim. Talvez seja por isso que ele não prosseguiu com o plano.

-Co... Como? Como o senhor pôde? Eu achei que o senhor era um bom homem, que me aceitou depois de tudo! Mas foi tudo um plano seu! Para me afastar de Peter, desde a primeira vez que pôs os olhos em mim você me quis! Não mediu esforços para isso.

Ele me olha com os olhos marejados. E tenta pegar na minha mão mas eu não permito.

-Darla, eu jamais faria isso! Jamais. Eu só estava pensando no seu bem. Eu não podia deixar que ele te desonrasse.

-Bobagem! O senhor só estava pensando em si! Isso é tão óbvio, é um riquinho arrogante que sempre teve o que quis, e pensa que pode ter a mulher que quiser. Mas eu não. Eu posso até me casar com o senhor, pois não posso mais magoar papai, mas quero que saiba que odiarei o senhor durante todos os anos que passarmos juntos!

Os olhos de Mr Comudus deixam cair um lágrima, os olhos vermelhos, o rosto molhado.

-Senhorita Darla, se sente tanta repulsa por mim, não precisamos nos casar. Não a tornarei minha prisioneira. Posso falar com seu pai agora. Mr Angus entenderá, eu posso remediar o mal que lhe fiz.

-Ah! Tão bondoso é o senhor não é? Acha que na nossa sociedade a opinião de uma mulher vale de alguma coisa? Acha que meu pai vai aceitar isso só porque não quero? Não seja cínico! Você sabe que isso não é possível, porque zomba de mim?

Ele põe as mãos no bolso e enrijece o corpo. Seu olhar muda e ele parece agora mais magoado do que culpado.

-A senhorita me ofende em pensar que sou um monstro dessa natureza. Tudo o que fiz foi pensando no seu bem e no de sua família.

-Me casarei com o senhor Mr Comudus! Mas eu quero que saiba que não há um dia em que não o odiarei pelo que fez e tentarei com todas as minhas forças voltar para Peter!

-Eu mostrarei a senhorita quem verdadeiramente sou. Estarei empenhado em ter seu amor, mesmo que agora tenha o seu desprezo. A afeição que sinto pela senhorita me dá forças para aguentar seus insultos.

-Saiba que o repudio. Com todo o meu coração! E já que me condenou a um destino infeliz do seu lado, saiba que farei de sua vida um inferno.

-A senhorita está com raiva agora, mas não creio que seja capaz de tal coisa. Sua natureza é doce demais para isso.

-E o que o senhor sabe sobre minha natureza? Quanta prepotência! O senhor acha que é o dono de tudo, que sabe de tudo! O que sabe sobre o amor? Me diga! Diga o que sabe!

Eu grito e ele me olha com os olhos em chamas.

-Sei que a amo. Amo mais que tudo.

***

Casamento Arranjado - Um Breve ContoOnde histórias criam vida. Descubra agora