Traição

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Meu peito bate forte e eu arfo em pensar no que estou prestes a fazer. Com certeza deveria falar com Amber. Afinal, ela era minha irmã. Mas tenho certeza que não aprovaria toda essa loucura. Papai vai me odiar pra sempre, e tudo isso será um escândalo. Sinto náuseas e tento pensar em Peter, o rosto dele me dá forças. Lembrar que daqui há algumas horas estaremos juntos. Eu e ele.

-Darla, papai está chamando você lá embaixo e ele não está com uma cara boa.

Estou prestes a ter um infarto, os piores pensamentos passam pela minha cabeça naquele momento. Será que descobriram nosso plano? Mas como? Quem contaria? Eu não contei a ninguém!

Desço as escadas e quando vejo o rosto de Peter todo o meu corpo fica trêmulo. Eu sinto vontade de vomitar de tanto nervoso. Ele está parado do lado de papai, com um chapéu na mão e os olhos tristes.

Eu tento não gaguejar mas se torna impossível:

-O senhor mandou me chamar, papai?

-Darla, esse rapaz veio aqui hoje e me contou o que vocês estavam dispostos a fazer. O que você, minha filha, estava disposta a fazer. Iria mesmo jogar o nome da família na lama por causa desse rapaz? E quanto a sua irmã? Você não pensa nela? No quanto ela ficaria mal falada?

As lágrimas rolam no meu rosto e me sinto traída, uma facada doeria menos. Como Peter pôde? Ele é quem deu a ideia de fugirmos. Eu apaixonada aceitei sem nem pensar duas vezes. Eu teria ido ao fim do mundo por ele. Com ele.

-Darla, me desculpe. - Peter me olha com os olhos vermelhos, ele deve ter chorado muito. Seu rosto está cansado. Como quem não dormiu a noite toda.

-Como você pôde? Por que me envergonha assim se tudo o que fiz foi te amar?

-Eu sinto muito, Darla. Eu pensei melhor durante a noite. Não é justo que eu atrapalhe sua vida. Não é justo que eu delegue pra você esse fardo de viver a vida toda com alguém como eu. Eu não posso limitar a sua vida assim. Amo você demais para isso.

-Eu teria ido ao fim do mundo por você!

Papai grita

-Darla! Você não percebe a loucura que iriam fazer? E ainda me diz que faria tudo de novo? Está louca?

-Papai, eu o amo. Amo mais que tudo. E se um dia pensei em fugir foi porque achei que o senhor não aprovaria.

-E não aprovo, Darla. Eu jamais deixaria você se casar com esse sujeito, não depois de tudo o que o pai dele fez. E o que ele próprio te induziu a fazer.

-Senhor, eu peço que me desculpe. Eu realmente errei, Mr Angus. Eu iludi sua filha. Fiz promessas que não pude cumprir. Agora estou aqui, envergonhando ela na sua frente. Eu a amo tanto que não podia sacrificar seu futuro. Por isso desisti.

Eu sinto que vou desmaiar e Amber me segura pela cintura. Sinto minha visão se apagar e os últimos rostos que vejo são de Peter e meu pai.
***

A febre ia e voltava, os delírios eram persistentes. Lembro de Amber do meu lado me fazendo compressas e me dando chás. Papai de vez em quando entrava no quarto, mas quando me via chamar pelo nome de Peter, saia enfurecido.

Isso durou uma semana. Eu delirava e chamava por ele. Eu me sentia envergonhada e burra. Como eu podia ter sido tão burra? Meu desgosto era tanto e ainda sim o amava.

Meu coração doía quando eu lembrava do seu rosto, das vezes em que Peter disse que me amava.

Ao final do sétimo dia eu já estava melhor. As bolsas embaixo dos meus olhos denunciavam o choro. Papai não ia mais no quarto mas eu escutava ele conversando com Amber no corredor. Surpreendi os dois conversando sobre mim.

-Sei que Mr Comudus foi prometido a você, Amber. Mas o caso da sua irmã é sério. Temo que se ela não se casar logo e esquecer esse rapaz, possa enlouquecer ou até mesmo morrer. Se você se casar com Mr Comudus agora ela ficará muito sozinha sem você. Preciso da sua compreensão, querida.

Eu volto a minha cama e Amber vem logo em seguida:

-Está melhor, irmãzinha?

-Não precisa deixar de se casar por minha causa, irmã. Eu não vou morrer. Só estou triste demais. Tudo dói. Aqui, dentro do peito.

-Você ouviu nossa conversa? - Amber me olha assustada.

-Não completamente, mas essa parte eu ouvi.

-Darla, se preocupe em melhorar. Depois nós falamos sobre isso.

Eu pego o chá do lado da cama e bebo, e aí então recomeço.

-Diga que Peter veio me ver. Não pode ser que só eu esteja sofrendo. - falo com a voz chorosa.

-Ele veio, irmãzinha. Ele veio todos os dias. Papai não deixou que entrasse pra te ver. Ainda está muito bravo com o rapaz. Parece que Peter se arrependeu de ter contado a verdade.

-Como você sabe disso?

-Eu fui a igreja há uns dias rezar pela sua recuperação e ele me parou no caminho, perguntou por você e eu disse como estava. Ele disse que deveria ter fugido com você. Que se odiava pelo que tinha feito com você.

-Espero um dia poder odiá-lo.

-Não diga isso. Ele é um homem bom. Não foi egoísta. Ele fez a coisa certa.

-Amber, você acha que vou ficar maluca mesmo?

-Não, Darla. Você é a pessoa mais sã que conheço. Só está com o coração partido. Mas vai passar.
***

Um mês depois

Papai ainda não olha no meu rosto. Depois de tudo o que aconteceu ele não falou mais comigo. Meu coração dói em imaginar que também perdi meu pai.

É hora do jantar, e Mr Comudus veio jantar conosco. Dessa vez ele nem se quer olhou pra Amber. E sim para mim, os olhos vidrados em mim. Deve estar pensando em como eu sou desvairada. Os boatos já devem ter corrido a cidade toda. Sorte se Amber ainda conseguir se casar com ele. E tudo por minha culpa.

Papai inicia:

-Darla, Mr Comudus tem algo a dizer pra você.

Eu levanto a cabeça e o fito surpresa e então ele diz.

-Gostaria de lhe pedir em casamento, senhorita Darla.

Amber aperta minha mão debaixo da mesa e eu a olho perplexa mas ela me dá um sorriso. Eu digo:

-Co... Como? O senhor ia se casar com Amber. Como assim está pedindo minha mão?

Papai toma a palavra.

-Devido aos últimos acontecimentos e sabendo da sua situação, o senhor Comudus decidiu se casar com você. Deveria ser grata, Darla. Depois do que você fez, isso é muita coisa. Agora você vai esquecer aquela rapaz de uma vez por todas.

Mr Comudus me olha nos olhos com estranheza, como se tentasse adivinhar o que eu estava pensando. Amber me abraça e eu permaneço imóvel. Não digo uma palavra o restante do jantar.

Eu poderia recusar e dizer que aquilo era uma loucura. Mas por um momento eu achei que aquilo realmente pudesse me salvar. Eu estava debilitada demais para revidar. Se era isso que meu pai queria, era isso que eu faria.

Casamento Arranjado - Um Breve ContoOnde histórias criam vida. Descubra agora