O amor se transformou em ódio

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Eu acordo e minha cabeça está pesada, sinto tudo a minha volta rodar e rodar. Bartolomeu lambe o meu rosto e me acorda. Eu tento alimentá-lo mas a ração cai fora do pratinho. A tontura toma conta de mim, só então percebo que Otto não está no quarto, tento lembrar do que aconteceu na noite passada mas tudo é um borrão, só lembro da parte até a parte em que bebo, depois disso tudo parece confuso. Lembro então do beijo que Peter me deu.

Desço as escadas e vou em direção a cozinha, vejo Amélie preparando o almoço.

-Ah! Que bom que a senhora acordou, já estava preocupada.

-Não consigo me lembrar do que aconteceu, Amélia. Minha cabeça está doendo muito. Onde está Otto?

-O senhor saiu logo cedo, não tomou café. Ele só desceu com as malas e as pôs na sala.

-Malas? -eu me viro e então vejo minhas malas na sala de estar. Algumas roupas estão saindo para fora da mala, como se tivessem sido colocadas às pressas.

Eu vou em direção a elas e as abro, lá estão todas as minhas coisas.

-O que significa isso, Amélie?

-Não tenho permissão para falar, senhora. É melhor que espere o senhor chegar do escritório.

Sento no sofá e espero por todo o dia, não toco na comida enquanto faço esforço para tentar lembrar do que aconteceu. É inútil. Tudo o que me lembro é de beber e depois daí tudo fica um borrão. Será que Otto nos viu ?

***

A noite cai e vai embora, a madrugada chega. Eu olho no relógio da sala e são três da manhã. Estou tão brava que se ele chegasse não sei se o mataria ou conversaria em busca de saber o que aconteceu.

Otto entra pela porta da sala completamente bêbado, o cabelo bagunçado, a camisa aberta mostrando quase o umbigo. Ele cheira a álcool e seus olhos estão vermelhos.

-O que significa isso? -eu digo andando em sua direção.

-Não me toque.

- O que aconteceu?

-O que aconteceu? Como ousa perguntar? -ele da risada e então percebo que ele está com raiva, muita raiva. Do tipo animal.

-Eu não consigo me lembrar do que aconteceu ontem, Otto. Quero que me diga.

-Com prazer. -ele faz uma pausa e então inicia - Você e Peter ontem se beijaram, Darla. Você, minha esposa, beijou outro homem. E não tente negar pois você me disse enquanto estava completamente bêbada.

Eu coloco a mão sobre o rosto e sinto o nervosismo tomar conta de mim. Minhas bochechas estão queimando e sinto ódio de mim por magoar Otto desse jeito.

-Quero que vá embora dessa casa amanhã, Darla. -ele diz indo em direção ao quarto.

Eu grito da sala enquanto ele sobe as escadas com passos pesados.

-Eu errei, Otto. Mas depois que Peter me beijou eu percebi que aquilo era um ciclo que se fechava.

Subo as escadas tentando alcançá-lo. Ele bate a porta do nosso quarto e então eu abro.

-Quero que saiba que quando Peter estava aqui eu não o beijei. Não desrespeitei você. Ele me beijou. Eu o repreendi. Acabei com tudo naquele momento!

-Mesmo que seja verdade o que você me diz, porque eu deveria acreditar? Você beijou outro homem, Darla! Você beijou aquele homem!

-Otto, eu sei. Desculpe. Eu estou tão surpresa quanto você. Eu estou tão envergonhada. -cubro o rosto e sento em nossa cama.

-A senhora só fez o que sempre teve vontade de fazer.

Ele tira a camisa e joga em cima da cama. Eu sinto um cheiro doce então pego a camisa cheirando-a.

-Estava com outra?-meus olhos ficam marejados de raiva e tristeza.

-Não importa mais. Nosso casamento acabou quando você beijou aquele sujeito.

-Não ouviu o que eu disse? Que parte do "ele me beijou" você não entendeu, Otto? -minha fala sai falhando. Sinto um aperto no peito enquanto olho pra ele, ali diante dos meus olhos.

-A partir de hoje quero que não me dirija mais a palavra. E se não a expulso dessa casa agora é porque tenho uma grande estima por seu pai e não quero o magoar ainda mais.

-Nossa casa! É nossa casa!-eu grito já chorando.

-Casa que você nunca quis morar.

-Está sendo injusto comigo Otto... -eu choro enquanto saio do quarto.

Bartolomeu me segue logo em seguida. Eu arrasto minhas malas para o quarto de hóspedes mas não consigo pregar o olho. Estou decepcionada comigo. Com Otto. Eu jamais o trairia. E ele, ele nem esperou a poeira baixar e já fez o sei lá o que com sei lá quem. Tudo em mim dói.

Casamento Arranjado - Um Breve ContoOnde histórias criam vida. Descubra agora