Disposta a tudo

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Quando o jantar acaba, papai e ele vão até o escritório. Amber e e eu ouvimos atrás da porta os dois falando.

-O senhor tem filhas adoráveis, Mr Angus.

-Fico feliz que ache isso. Seu pai e eu éramos muito amigos, quero que você e eu também sejamos.

-De certo, Mr Angus. Só peço ao senhor mais um tempo para me decidir. Eu sou um homem que só faz coisas de que tem certeza.

-Admiro isso no senhor, Mr Comudus. Amber nutre um sentimento pelo senhor e tenho certeza que ela não se contentaria com menos da sua parte. Tome o tempo que quiser para se decidir. A felicidade das minhas filhas é o que mais importa. Quero que elas sejam felizes assim como eu e minha esposa fomos por longos anos.

-Fico feliz em falar com um homem tão inteligente quanto o senhor. Agradeço a sua compreensão.

Amber solta um soluço e sai correndo escada a cima. Ela se joga na cama e afunda o rosto do travesseiro.

-Ele não gostou de mim, Darla. Não vai se casar comigo.

-Não fale bobagens, Amber. Vocês mal se conhecem. É normal que ele esteja com dúvidas. Isso é bom, mostra que ele é um homem íntegro. Só fará aquilo que seu coração e mente mandarem. Além do mais, tenho certeza que ele cairá de amores por você logo logo.
Amber para de chorar e levanta o rosto molhado com os cabelos grudados na face.

-Darla, eu vi o jeito que ele olhou pra você. E se ele quiser se casar com você ao invés de mim? E se ao te ver ele ficou confuso?

Eu respiro fundo e digo:

-Mesmo que ele estivesse apaixonado por mim eu jamais me casaria com ele. Você é minha irmã e gosta dele. Você é quem vai se casar com ele.
Amber parece se acalmar mais um pouco.

-Como você consegue ser assim, Darla? Não se apaixonar tão fácil?

"Ora, Amber, se você soubesse..." eu penso em Peter e minha boca fala demais.

-Você é quem pensa que não me apaixono.

Fico surpresa com a minha fala e Amber me olha com os olhos arregalados.

-Por quem está apaixonada, Darla? Por que não me contou nada?

-Achei que você não aprovaria...

-Quem é ele? Eu conheço?

Eu faço uma pausa e então me encho de coragem.

-Peter, ele trabalha no jornal.

Conto a Amber como nós conhecemos e tudo o que aconteceu de lá até agora. Ela me escuta em silêncio e no final me diz.

-Darla, você não pode continuar com isso.

Eu me encho de fúria e me arrependo na mesma hora de ter contado a ela.

-Sabia que você agiria assim, sabia. É claro que não iria aprovar. Ele é pobre e você só pensa em dinheiro.

-Não é verdade, Darla! Tem coisas sobre esse rapaz que você não sabe.

-É? Que coisas por exemplo? Agora todo mundo esconde coisas de mim.

Amber pega minha mão e a coloca sobre a sua e então recomeça.

-Darla, você deve não lembrar porque era bem pequena. Mas eu me lembro. O pai de Peter era amigo do nosso pai, eles eram sócios em um empreendimento. Um dia o senhor Aldor, pai de Peter, veio jantar em nossa casa e papai e ele tiveram uma briga feia. Parece que Aldor roubou nosso pai. Ele era um homem ruim, Darla. Papai não deixará jamais que você se envolva com o filho desse sujeito. Eu nem sei o que ele faria se soubesse da relação de vocês dois.

Eu entro em choque quando Amber termina, sinto meu coração doer. Como Peter pode ter me escondido um detalhe tão importante? Como ele me deixou sonhar com um futuro para nós? Agora mesmo que Amber se case mil vezes, eu ainda não poderia me casar com ele. Sinto as lágrimas me invadirem o rosto e a raiva me encher o peito.

-Preciso falar com ele, agora.
Amber fica perplexa.

-Como assim falar com ele? É tarde da noite, não pega bem uma moça ir a casa de um rapaz essa hora. Papai te mataria se descobrisse.

-Ele só vai descobrir se você contar, Amber. Preciso que faça isso por mim. Por favor.

Amber titubeia mas no final acaba aceitando.

Visto meu casaco e desço da janela do segundo andar. Jeremias, meu cavalo, me espera no estábulo. Eu subo nele e galopo enquanto sinto meu rosto esfriar por conta do vento gelado.

Quando chego a sua casa bato a porta e Peter atende.

-Darla, o que aconteceu? O que está fazendo aqui a essa hora?

Eu fico estática e digo:

-Quando pretendia me contar sobre seu pai e o que ele fez com o meu, Peter?

Peter parece surpreso, ele quase caí quando termino a frase.

-Darla, eu ia te contar... Só tive medo, vergonha. Não queria que você soubesse que eu era filho dele. Eu queria que você me visse como você me vê. Você é a única que me enxerga de verdade, que não me vê como o filho de um ladrão.

-Por que você se aproximou de mim, Peter? Por que me fez te amar se sabia que não teríamos um futuro? Porquê?

-Eu, eu... Eu só queria ter você, Darla. Eu ia ter contar. Juro que ia. Mas tive medo de acontecer o que está acontecendo agora.

-Agora? Agora me diz o que faremos. Como o meu pai vai nos aceitar agora?

-Tem razão, Darla. Ele não vai aceitar. É por isso que precisamos fugir. Eu e você. Promete que vai fugir comigo?

Sinto um tremor me subir o corpo. A adrenalina me deixa zonza. E embora aquela ideia pareça a mais absurda do mundo. Por um momento eu aceitei que ela seria a única saída.

-Você me ama de verdade, Peter? Se me amar juro que sigo você pra onde quer que você vá.

-Com todo o meu coração, Darla. Por você eu sou capaz de tudo. Eu errei mas estou disposto a provar que te amo.

-E quanto a sua mãe e irmãs?

O rosto de Peter se entristece e ele respira fundo.

-Estou disposto a fazer isso por você. Por nós. Depois, quando tudo estiver bem, eu posso voltar para buscá-las.
Meu coração se enche de esperança e eu o abraço forte.

-No sábado ao meio dia me encontre na estação de trem, eu estarei esperando por você, Darla.

Casamento Arranjado - Um Breve ContoOnde histórias criam vida. Descubra agora