O grande dia chegou

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Daqui a algumas horas irei me casar com Mr Comudus. Papai disse que seu primeiro nome é Otto. Depois do nosso encontro no jardim eu não o vi mais, ele veio me cortejar algumas vezes mas eu sempre inventava uma desculpa. Agora não tenho mais como evitar o inevitável. Terei que me casar com ele. Nunca mais vi Peter, Amber disse que ele sempre pergunta por mim, mas papai me proibiu de sair desacompanhada, então nossos encontros são impossíveis.

***

-Você está linda, Darla. Olha pra você.

Eu olho meu reflexo no espelho. O vestido branco de tecido fino, luvas até a altura do cotovelo, um véu que cobre meu rosto. Me sinto um fantasminha vitoriano.

-Pena que o noivo não é quem eu queria. -digo, virando para olhar a parte de traz do vestido.

-Não diga bobagens. Se papai ouvir você dizendo isso vai ser seu funeral. E não apronte mais nenhuma gracinha. Nem pense em dizer não.

-Mas vamos combinar que seria engraçado. -rio e Amber também ri -Aquele riquinho ia ter o que merece.

-Não fale assim do seu futuro marido.

Faço careta enquanto uma criada entra dizendo que é hora de entrar na igreja.

A igreja está decorada com orquídeas brancas, deve ter custado uma fortuna. Eu fiquei com tanta raiva que não quis participar de nada relacionado a organização do casamento. Amber fez tudo por mim. Tudo está lindo. Ela fez um bom trabalho. Papai me leva até o altar e eu mantenho os olhos baixos. Quando levanto os olhos vejo Mr Comudus. Ele está muito bonito. Canalha. Era pra ser Peter aqui. Não ele. Meu ódio volta e então ele pega a minha mão. Fazemos os votos e eu digo sim. Ele diz sim.

-O noivo pode beijar a noiva. -o padre ordena.

Mr Comudus levanta meu véu e me olha nos olhos, eu fico parada, imóvel. Ele pega no meu queixo e o baixa, então beija minha testa. O beijo é terno.

Quando a cerimônia acaba ele me guia até a nossa casa. É uma casa amarela com janelas amplas e um grande saguão. A casa tem peças de madeiras de carvalho e Boiserie em quase todos os cômodos. Mr Comudus pega a minha mão e me guia até nosso quarto. Meu coração está acelerado. Ele parece notar e diz.

-Não se preocupe, só irei tocá-la quando pedir.

-Então isso nunca acontecerá. -digo enquanto tiro meus sapatos, ele olha minhas meias brancas. E então levanta os olhos para mim.

-Meu nome é Otto. Gostaria que me chamasse assim agora que é minha esposa.

-Sua esposa... Não sei se gosto desse termo.

Ele cerra a mandíbula.

-Goste ou não, é isso que você é agora. Minha esposa.

Ele sorri e depois continua.

-É assim que vou chamá-la a partir de agora.

Eu reviro os olhos e peço para que ele saia, para que eu troque de roupas. Já é noite e eu estou terrivelmente cansada.

Penteio os cabelos quando Otto entra no quarto, ele usa uma camisa fina de linho aberta até a o meio do tronco. A parte debaixo das calças muito colada no corpo, os cabelos molhados dão um ar selvagem. Ele me olha pertear os cabelo e senta na cama apoiando a palmas das mãos no colchão. Eu me viro e digo:

-Se acha que passarei a noite com você, está completando louco.

-Eu disse que não a tocaria contra a sua vontade e cumprirei.

-E o que está esperando para sair do quarto?

-Minha esposa, creio que um marido deve dormir ao lado da mulher, ou não? Está com medo de não resistir?

Eu sorrio alto, tão alto que se nossa casa não fosse tão grande os vizinhos certamente ouviriam.

-Nem que você estivesse pelado ao meu lado.

-É mesmo? Vamos testar então.

Eu tenho uma crise de risos enquanto ele tira a roupa. Estou tão nervosa que não paro de rir. Coloco a mão sobre os olhos enquanto ele continua. Ele tira todas as roupas e se deita na cama, com o lençol cobrindo até a cintura.
Eu olho o seu peitoral definido e agora ele parece ainda mais bonito. Mordo o lábio e fecho os olhos. "Peter, Peter, Peter. Me ajuda Peter.". Ele interrompe meus pensamentos.

-O que foi? Minha esposa nunca viu um homem pelado?

-Claro que não. Já você deve ter visto muitas mulheres nuas não é?

-Minha esposa sabe ainda menos de mim do que acha.

-Estou errada?

-Sim, está. Está muito errada. A única mulher que eu quero ter me odeia ferozmente.

-Talvez ela tenha motivos para odiá-lo.

-Ela se apaixonará perdidamente por mim em pouco tempo.

Eu tenho outra crise de risos e dessa vez ele também ri.

Levanto o lençol e me deito ao deu lado virando para o outro lado. Sinto o cheiro da sua loção e ouço sua respiração pesada. Ele desliga a luz e eu fecho os olhos com força. Tentando não pensar no fato de ter um homem nu ao meu lado. Ele fala no escuro:

-Minha esposa.

-Estou ouvindo.

-Estou feliz em ter você ao meu lado agora, mesmo que não seja nos meus braços.

-Como eu disse, só nos seus sonhos.

-Certamente irei sonhar sim.

-Saiba que o odeio.

-Pois eu a amo com todo o meu ser, minha esposa.

Depois disso ele fica em silêncio durante toda a noite. Eu não consigo pregar o olho, pergunto-me como Peter está agora sabendo que me casei com outro. Meu coração se aperta em imaginar seu rosto.

Casamento Arranjado - Um Breve ContoOnde histórias criam vida. Descubra agora