Uma flor de esperança

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Dez dias se passaram desde que me mudei para o quarto de hóspedes. Otto mal fala comigo, sempre sai antes que eu veja e me faz jantar todas as noites sozinha, só sai do escritório depois do jantar e então janta sozinho. O meu orgulho não me permite me humilhar ainda mais. Sei que errei mas não mereço tamanho desprezo. Quando Peter me beijou eu o afastei. Quando me pediu que me separasse eu neguei. Terminei tudo com ele naquele dia. E para mim estava acabado. Mas eu bebi e tive que abrir a boca. Se não fosse a raiva que estou sentindo poderia até dizer que gosto de Otto.

Mas isso não importa, não importa mesmo. Agora tudo está acabado.

Não sei dizer se ele gosta realmente de mim, já que pra ele foi tão fácil se relacionar com outra mulher, ou sabe se lá Deus o que tenha feito.

Parte de mim quer sentar e esclarecer as coisas. A outra parte quer que ele morra.

Peter se casará em breve com Joana, e eu me sinto calma em relação a isso. É como se não me afetasse mais. Como se estivesse tudo acabado entre nós.

O quarto em que durmo é grande e solitário, eu mal escuto a voz de Otto. Ele só dirige as vezes a Amélia para pedir alguma coisa ou fala com Bartolomeu.

As noites tem sido difíceis, as vezes penso em visitar Amber e contar tudo o que aconteceu, mas o medo de causar mais uma decepção a minha família me paralisa. Tenho certeza que Amber me entenderia.

O relógio bate as duas da manhã do décimo primeiro dia e ainda não peguei no sono. Decido que é uma boa hora para ligar para Amber. Não posso mais adiar. Tenho que contar isso a alguém ou vou enlouquecer.

Eu me levanto da cama e desço as escadas, pego o telefone e ligo para a minha antiga casa.

-Amber? -eu falo, torcendo para que seja ela a atender o telefone. Seria muito difícil explicar a papai o porquê de estar ligando no meio da noite.

-Darla? Aconteceu algo?

-Não, preciso que venha aqui amanhã. Precisamos conversar.

-É algo com seu marido?

-Preciso que venha aqui, Amber. Preciso da minha irmã. -eu falo com voz chorosa.

-É claro que vou. Vá dormir. Amanhã apareço bem cedo.

-Vou esperar. Te amo.

-Te amo. -a ligação fica muda e eu subo as escadas novamente.

Passou pelo quarto de Otto e escuto o barulho de passos. Quando sinto a maceta rodar eu corro até o meu quarto e me tranco.

***

Amber cumpre com o prometido e aparece bem cedo na manhã seguinte.

-O que aconteceu? Quase tive um infarto! Não faça mais isso.

Eu puxo Amber pelo braço até meu quarto. Otto já saiu para o trabalho e Amélia teve seu dia de folga hoje.

Amber entra no quarto e então pergunta:

-Por que vocês mudaram de quarto?

-Não mudamos. Eu mudei.

-Como assim você mudou? Você já não fez nada com seu marido desde que se casaram e agora me diz que nem dormir no mesmo quarto vocês dormem!

-Eu sei. Aconteceu uma coisa muito importante.

Eu conto para Amber tudo. Desde os mínimos detalhes e então ela respira fundo e diz.

-Não acredito no que estou ouvindo, Darla! Como você pode fazer isso?

-Eu não beijei, Peter. Ele me beijou. Eu o afastei. E tem mais. Eu deixei claro que era casada e que não iria me separar. Eu pus um fim naquele dia, estava disposta a finalmente seguir minha vida com Otto e permitir que ele entrasse no meu coração mas...

-Mas aí você contou tudo a ele e estragou as coisas.

-Isso. Eu disse a ele que Peter me beijou. Mas eu ia dizer que não amava mais ele. Então eu adormeci. Ele achava que fiz isso para magoá-lo.

-E com razão!

-Sim. Eu sei que ele está certo de pensar coisas ruins sobre mim. Mas as coisas não aconteceram como ele pensa. Além do mais ele me traiu.

-Mas você disse que ele não era seu marido. Vocês nem se quer... Sabe... Fizeram aquilo.

-Não importa! Ele quis ser meu marido. Me deve fidelidade. Eu não escolhi ser beijada mas ele escolheu se relacionar com outra pessoa.

-Você nem sabe o que aconteceu, Darla. Talvez ele só tenha dito isso pra te provocar.

-Ele estava com cheiro de mulher, Amber. Eu não sou burra.

-É difícil imaginar que Mr Comudus agiria assim.

-Eu sei, também pensava isso.

Eu faço uma pausa e me levanto, ando em círculos pelo quarto e Amber me interrompe.

-Tem mais alguma coisa que não está me dizendo?

- Sim...-eu faço uma longa pausa-acho que estou gostando dele, Amber. Quando ele me disse sobre a outra mulher tudo em mim queimava. Agora que não estamos nos falando eu sinto falta da sua voz. Do jeito que ele se dirigia a mim. De me chamar de sua esposa. Eu sinto falta até do quão irritante ele era as vezes.

Amber dispara em gargalhada.

Eu fico com raiva e pergunto:

-Do que está rindo?

-Sabe, Darla, você é uma mulher muito complicada. Ele esteve todos esses meses aos seus pés, e logo agora em que ele desistiu você finalmente percebeu que gosta dele. É difícil te entender.

-Não foi agora, Amber. Quando Peter me beijou eu soube. Eu ia seguir a minha vida com Otto. Mas tudo isso aconteceu.

-É? E o que te impede de reconquistá-lo? O que te impede de fazer ele se apaixonar por você de novo?

-Não sei se consigo. Não sei o que fazer.

-Ora, você é mulher. Tem tudo o que precisa dentro de si. Você é linda, Darla. Qualquer homem cairia aos seus pés. Precisa usar disso.
Quando ele tiver baixado a guarda você se explica.

-Mas o que eu posso fazer? Eu não sei ser provocante nem nada do tipo.

-Sabe aquela senhora que fomos a Boutique no dia em que Peter apareceu para conversar com você?

-Sim. Lembro-me.

-Dizem que ela já foi dançarina em um clube em Paris antes de vir para cá. Foi assim que ele conseguiu dinheiro para montar a boutique. Talvez você devesse ir falar com ela e perguntar algumas coisas.

-Não sei se poderia... Sou tão envergonhada.

-Vale a pena tentar. Tenho certeza que ela tem conselhos úteis!

Eu decido fazer como Amber diz e passo uma semana visitando a dona da Boutique. Se ela for me fazer ficar bem com Otto, eu aceito.

Casamento Arranjado - Um Breve ContoOnde histórias criam vida. Descubra agora